Especialista ressalta que a IA é aliada, mas o contato humano continua indispensável para diagnósticos mais precisos e cuidados integrais
A inteligência artificial já está transformando a medicina. Dos
prontuários eletrônicos às ferramentas de diagnóstico por imagem, a tecnologia
vem auxiliando médicos e pacientes a terem mais agilidade, precisão e acesso à
saúde. De acordo com a pesquisa TIC Saúde 2024
revelou que 17% dos médicos no Brasil utilizam tecnologias de inteligência
artificial (IA) generativa em suas rotinas profissionais. O levantamento é
realizado pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade
da Informação (Cetic.br), do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), e tem a coordenação cientifica comandada pela
ex-presidente da SBIS e Editora Associada Sênior do JHI, Heimar de Fátima Marin.
A pesquisa analisou a adoção da tecnologia em unidades de saúde públicas e
privadas em todo o país.
Além disso, a adoção da IA pelos médicos é de 14% em
estabelecimentos de saúde públicos e de 20% nos privados. O estudo também
mostrou que a utilização é mais significativa (20%) entre médicos que atuam em
hospitais com mais de 50 leitos. Os principais usos identificados incluem o suporte
às pesquisas (69%) e o auxílio na elaboração de relatórios médicos (54%).
No entanto, em meio a tantos avanços, surge uma questão
importante: até que ponto a IA pode substituir o contato humano no cuidado
médico?
Para o Dr. Carlos Alberto Reyes Medina, Diretor Médico da
Carnot Laboratórios, a resposta é clara: nunca. “A tecnologia é
uma aliada poderosa, mas não substitui a relação entre médico e paciente.
Muitas vezes, no diálogo, no contato direto, conseguimos identificar nuances
que nenhum algoritmo captaria, como incoerências nas falas, sinais de
ansiedade, de dor ou até mesmo contradições que indicam que a informação
relatada não corresponde totalmente à realidade”, explica o especialista.
Segundo ele, a escuta ativa e o olhar clínico continuam sendo
ferramentas essenciais para compreender o paciente em sua totalidade. “Um
software pode indicar padrões de exames laboratoriais, mas não é capaz de
perceber a emoção na voz, a expressão facial ou a linguagem corporal que
revelam aspectos importantes da saúde física e mental”, completa o médico.
É fato que a inteligência artificial tem acelerado processos na
medicina. Hoje, já existem sistemas capazes de sugerir diagnósticos a partir de
exames de imagem, prever riscos de complicações em pacientes crônicos e até
apoiar tratamentos personalizados com base em dados genômicos. Esses avanços
representam uma grande contribuição para salvar vidas e tornar os atendimentos
mais eficazes. No entanto, o Dr. Carlos destaca que a tecnologia deve ser vista
como apoio, e não como substituição. “A IA pode ser excelente para triagem de
pacientes em hospitais lotados, para identificar padrões em grandes bancos de
dados ou mesmo para apoiar médicos em regiões com poucos especialistas. Mas, no
atendimento individual, a presença humana é insubstituível”, ressalta.
Em tempos de hiperconectividade e automatização, o cuidado
humanizado se torna ainda mais valioso. O especialista reforça que ouvir o
paciente, compreender seu contexto social, sua rotina, seus medos e hábitos é
fundamental para indicar o tratamento adequado. “Quando o médico está diante do
paciente, consegue avaliar não apenas os sintomas relatados, mas também a forma
como a pessoa fala sobre eles. Muitas vezes, é nesse contato que descobrimos
detalhes cruciais para um diagnóstico correto”, afirma o Dr. Carlos.
O futuro da saúde, segundo o médico, deve unir tecnologia e
humanização. “Não podemos abrir mão das vantagens que a IA oferece, mas
precisamos lembrar que a medicina é, antes de tudo, uma prática humana. O paciente
precisa sentir-se cuidado, compreendido e acolhido — algo que nenhuma máquina é
capaz de proporcionar”, conclui.

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