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segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Lipedema: novos tratamentos aliviam dor, reduzem inchaço e resgatam a autoestima

Doença crônica que atinge principalmente mulheres ganha terapias modernas capazes de controlar sintomas, melhorar a mobilidade e devolver qualidade de vida

 

O lipedema é uma doença crônica caracterizada pelo acúmulo anormal e simétrico de gordura subcutânea, que atinge principalmente pernas, quadris e, em alguns casos, braços. Diferentemente da obesidade, esse tipo de gordura não responde a dietas nem a exercícios. Afetando quase exclusivamente mulheres, a condição é frequentemente confundida com sobrepeso ou linfedema, o que dificulta o diagnóstico e o início do tratamento adequado. Entre os sintomas mais comuns estão dor ao toque, sensação constante de peso, hematomas fáceis, presença de nódulos de gordura sob a pele e contraste visível entre áreas afetadas e poupadas, já que mãos e pés não costumam ser atingidos. Alterações hormonais, como puberdade, gravidez e menopausa, podem agravar ainda mais o quadro. 

De acordo com o dermatologista Otávio Macedo, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, compreender o lipedema como doença do tecido adiposo — com componentes inflamatórios, vasculares e possivelmente genéticos — foi um marco importante para oferecer soluções mais eficazes. “Por muito tempo essas mulheres ouviram que bastava emagrecer ou praticar exercícios. Hoje sabemos que o lipedema não é apenas uma questão estética, mas uma condição médica que exige diagnóstico correto e abordagens específicas. Isso mudou completamente a forma como tratamos nossas pacientes”, explica.
 

Tratamento multidisciplinar 

O tratamento do lipedema é multidisciplinar e pode variar de acordo com o estágio da doença, mas sempre com o objetivo de controlar sintomas, melhorar a mobilidade, reduzir a dor e preservar a autoestima. Medidas conservadoras são a base do cuidado. A drenagem linfática manual, feita por profissionais especializados, ajuda a reduzir o inchaço e o desconforto, enquanto a terapia compressiva, com o uso de meias ou bandagens, contribui para controlar o edema e evitar a progressão da doença. A prática de exercícios físicos de baixo impacto, como hidroginástica, natação e caminhadas, melhora a circulação sem sobrecarregar as articulações. Além disso, recomenda-se atenção especial com a pele, mantendo-a hidratada e protegida contra infecções.

A alimentação também desempenha um papel relevante no controle dos sintomas. Embora não seja capaz de eliminar a gordura do lipedema, uma dieta anti-inflamatória pode ajudar a reduzir processos inflamatórios sistêmicos. O ideal é priorizar frutas, vegetais, grãos integrais, proteínas magras e gorduras saudáveis, evitando ultraprocessados, açúcares refinados e gorduras trans. 

Recentemente, tecnologias dermatológicas passaram a integrar os protocolos de tratamento. O laser Fotona (Nd:YAG) atua em camadas profundas da pele, estimula colágeno, melhora a circulação e tem efeito anti-inflamatório, o que ajuda não apenas na firmeza da pele, mas também na sensação de dor e no contorno corporal. 

Outro recurso inovador é o Unyque Pro, equipamento que combina diferentes tecnologias em um único protocolo: radiofrequência multipolar e monopolar, resfriamento por cryocooling, endermologia axial e ativação sistêmica. A associação desses métodos potencializa os resultados, oferecendo alívio de dor e inchaço, estímulo de colágeno, remodelação corporal e melhora significativa da firmeza e elasticidade da pele, com segurança e conforto para a paciente.
 

Esvaziadores de gordura 

Além disso, novas terapias injetáveis têm sido incorporadas ao arsenal de tratamento. A aplicação de colagenase, enzima que degrada colágeno patológico, auxilia na redução de fibrose, melhora a textura da pele e aumenta a mobilidade. Já os agentes lipolíticos — conhecidos como “esvaziadores de gordura” — promovem a degradação controlada dos adipócitos, contribuindo para a diminuição do volume e da inflamação. Quando combinados, esses recursos atuam de forma sinérgica, trazendo benefícios tanto para a fibrose quanto para a gordura, com impacto positivo também na circulação e na drenagem linfática. 

Nos casos mais avançados, em que os sintomas comprometem de forma importante a qualidade de vida, a cirurgia pode ser indicada. A lipoaspiração especializada para lipedema, realizada com técnicas como a tumescente ou a WAL (Water-Assisted Liposuction), permite remover seletivamente os depósitos de gordura preservando o sistema linfático. “A cirurgia, quando bem indicada, é um divisor de águas para as pacientes. Reduz de maneira significativa dor, volume e limitações de movimento, devolvendo qualidade de vida”, afirma o Dr. Macedo. 

Ainda que o lipedema não tenha cura, ele pode ser controlado. O diagnóstico precoce é essencial para evitar evolução para quadros incapacitantes e ampliar o leque de opções terapêuticas. “Quanto antes conseguimos identificar a doença, mais eficazes são as medidas conservadoras e menos invasivas. O grande objetivo é devolver autonomia, mobilidade e autoestima para essas mulheres”, conclui o especialista. 

 

Otávio Macedo - Graduado pela Universidade de Taubaté. Residência em Dermatologia no Centro Hospitalar da Universidade Vaudois (CHUV), Lausanne, Suíça. Residência em Dermatologia na Universidade de Buenos Aires, Argentina. Membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia. Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Medicina e Cirurgia a Laser. Membro da Academia Americana e Europeia de Dermatologia. Atua profissionalmente há 40 anos.

 

 

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