Doença crônica que atinge principalmente mulheres ganha terapias modernas capazes de controlar sintomas, melhorar a mobilidade e devolver qualidade de vida
O
lipedema é uma doença crônica caracterizada pelo acúmulo anormal e simétrico de
gordura subcutânea, que atinge principalmente pernas, quadris e, em alguns
casos, braços. Diferentemente da obesidade, esse tipo de gordura não responde a
dietas nem a exercícios. Afetando quase exclusivamente mulheres, a condição é
frequentemente confundida com sobrepeso ou linfedema, o que dificulta o
diagnóstico e o início do tratamento adequado. Entre os sintomas mais comuns
estão dor ao toque, sensação constante de peso, hematomas fáceis, presença de
nódulos de gordura sob a pele e contraste visível entre áreas afetadas e
poupadas, já que mãos e pés não costumam ser atingidos. Alterações hormonais,
como puberdade, gravidez e menopausa, podem agravar ainda mais o quadro.
De
acordo com o dermatologista Otávio Macedo, membro da Sociedade Brasileira de
Dermatologia, compreender o lipedema como doença do tecido
adiposo — com componentes inflamatórios, vasculares e possivelmente genéticos —
foi um marco importante para oferecer soluções mais eficazes. “Por muito tempo
essas mulheres ouviram que bastava emagrecer ou praticar exercícios. Hoje
sabemos que o lipedema não é apenas uma questão estética, mas uma condição
médica que exige diagnóstico correto e abordagens específicas. Isso mudou
completamente a forma como tratamos nossas pacientes”, explica.
Tratamento
multidisciplinar
O
tratamento do lipedema é multidisciplinar e pode variar de acordo com o estágio
da doença, mas sempre com o objetivo de controlar sintomas, melhorar a
mobilidade, reduzir a dor e preservar a autoestima. Medidas conservadoras são a
base do cuidado. A drenagem linfática manual, feita por profissionais
especializados, ajuda a reduzir o inchaço e o desconforto, enquanto a terapia
compressiva, com o uso de meias ou bandagens, contribui para controlar o edema
e evitar a progressão da doença. A prática de exercícios físicos de baixo
impacto, como hidroginástica, natação e caminhadas, melhora a circulação sem
sobrecarregar as articulações. Além disso, recomenda-se atenção especial com a
pele, mantendo-a hidratada e protegida contra infecções.
A
alimentação também desempenha um papel relevante no controle dos sintomas.
Embora não seja capaz de eliminar a gordura do lipedema, uma dieta
anti-inflamatória pode ajudar a reduzir processos inflamatórios sistêmicos. O
ideal é priorizar frutas, vegetais, grãos integrais, proteínas magras e
gorduras saudáveis, evitando ultraprocessados, açúcares refinados e gorduras
trans.
Recentemente,
tecnologias dermatológicas passaram a integrar os protocolos de tratamento. O laser
Fotona (Nd:YAG) atua em camadas profundas da pele, estimula
colágeno, melhora a circulação e tem efeito anti-inflamatório, o que ajuda não
apenas na firmeza da pele, mas também na sensação de dor e no contorno
corporal.
Outro
recurso inovador é o Unyque Pro, equipamento que combina
diferentes tecnologias em um único protocolo: radiofrequência multipolar e
monopolar, resfriamento por cryocooling, endermologia axial e ativação
sistêmica. A associação desses métodos potencializa os resultados, oferecendo
alívio de dor e inchaço, estímulo de colágeno, remodelação corporal e melhora
significativa da firmeza e elasticidade da pele, com segurança e conforto para
a paciente.
Esvaziadores
de gordura
Além
disso, novas terapias injetáveis têm sido incorporadas ao arsenal de
tratamento. A aplicação de colagenase, enzima que degrada
colágeno patológico, auxilia na redução de fibrose, melhora a textura da pele e
aumenta a mobilidade. Já os agentes lipolíticos — conhecidos como “esvaziadores
de gordura” — promovem a degradação controlada dos adipócitos, contribuindo
para a diminuição do volume e da inflamação. Quando combinados, esses recursos
atuam de forma sinérgica, trazendo benefícios tanto para a fibrose quanto para
a gordura, com impacto positivo também na circulação e na drenagem linfática.
Nos
casos mais avançados, em que os sintomas comprometem de forma importante a
qualidade de vida, a cirurgia pode ser indicada. A lipoaspiração
especializada para lipedema, realizada com técnicas como a
tumescente ou a WAL (Water-Assisted Liposuction), permite remover seletivamente
os depósitos de gordura preservando o sistema linfático. “A cirurgia, quando
bem indicada, é um divisor de águas para as pacientes. Reduz de maneira
significativa dor, volume e limitações de movimento, devolvendo qualidade de vida”,
afirma o Dr. Macedo.
Ainda
que o lipedema não tenha cura, ele pode ser controlado. O diagnóstico precoce é
essencial para evitar evolução para quadros incapacitantes e ampliar o leque de
opções terapêuticas. “Quanto antes conseguimos identificar a doença, mais
eficazes são as medidas conservadoras e menos invasivas. O grande objetivo é
devolver autonomia, mobilidade e autoestima para essas mulheres”, conclui o
especialista.
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