Organização é a primeira fora dos Estados Unidos a testar caneta conectada a espectrômetro de massas para diagnóstico instantâneo de tumores durante procedimentos cirúrgicos
O Einstein iniciou um estudo clínico pioneiro no Brasil com uma tecnologia capaz de diagnosticar câncer em tempo real, durante a cirurgia. Trata-se do MasSpec Pen System, um dispositivo portátil em formato de caneta que "lê" a assinatura molecular dos tecidos e indica, em segundos, se são cancerígenos ou saudáveis. A inovação tem o potencial de tornar as cirurgias oncológicas mais rápidas, seguras e eficazes.
A pesquisa, inédita fora dos Estados Unidos, é fruto de uma colaboração entre o Einstein, a Thermo Fisher Scientific, líder mundial a serviço da ciência e proprietária do espectrômetro de massas de alta resolução ao qual a caneta é acoplada, e a startup norte-americana MS Pen Technologies, fundada pela química brasileira Lívia Eberlin, professora na Baylor College of Medicine e idealizadora da tecnologia.
Conduzido de forma interdisciplinar, integrando os departamentos de pesquisa, diagnóstico clínico e cirurgia, o estudo é coordenado por Kenneth Gollob, líder em pesquisa imunológica do câncer no Einstein, com apoio de Gustavo Gonçalves Silva, bolsista da FAPESP e responsável pela interlocução científica com a equipe da MS Pen.
“O Einstein tem como missão antecipar o futuro da medicina, investindo em tecnologias que ampliam a segurança e a eficácia dos tratamentos. Ser a primeira organização fora dos Estados Unidos a conduzir um estudo clínico com essa inovação reforça nosso compromisso com a excelência, a pesquisa científica e o cuidado centrado no paciente”, afirma Sidney Klajner, presidente do Einstein.
Durante o procedimento, o cirurgião toca a ponta da caneta no tecido que será analisado. O dispositivo libera uma gota de água estéril para coletar moléculas da superfície e, em seguida, as aspira para análise imediata no espectrômetro de massas da Thermo Fisher. Utilizando inteligência artificial, o sistema compara o perfil molecular com um banco de dados e entrega o diagnóstico em até 90 segundos.
“A espectrometria de massas direta é o futuro do diagnóstico no local de atendimento e a integração da tecnologia da MasSpec ao espectrômetro de massas Orbitrap permite obter a alta resolução, precisão e sensibilidade necessárias para uma detecção e análise rápidas, garantindo um diagnóstico preciso no menor tempo possível”, explica Dionísio Ottoboni, diretor de Instrumentos Analíticos da Thermo Fisher Scientific para América Latina.
A análise é feita diretamente na sala cirúrgica, sem necessidade de biópsias convencionais ou envio de amostras ao laboratório. Isso permite ao cirurgião tomar decisões imediatas sobre a identidade do tecido e as margens de ressecção, garantindo maior precisão na remoção do tumor e preservação de tecido saudável.
“A
incorporação da MasSpec Pen ao centro cirúrgico, ainda que em protocolo de
pesquisa, pode transformar a forma como conduzimos cirurgias oncológicas. A
capacidade de obter diagnósticos em tempo real torna o procedimento mais
preciso e direcionado, contribuindo para melhores desfechos clínicos e um
cuidado mais seguro e individualizado”, diz Eliezer Silva, diretor de sistemas
de saúde do Einstein.
Foco em câncer de pulmão e tireoide
O estudo clínico terá duração de 24 meses e incluirá 60 pacientes oncológicos, sendo 30 com câncer de pulmão e 30 com câncer de tireoide. Esses tumores foram selecionados com base na acessibilidade cirúrgica, complexidade diagnóstica intraoperatória e a maturidade do algoritmo para identificação destes tumores.
Os dados obtidos com a MasSpec Pen serão comparados com o padrão ouro atual, o exame anatomopatológico, com o objetivo de validar sua acurácia, sensibilidade e especificidade. Além da detecção de células malignas, a tecnologia está sendo estudada para identificar biomarcadores imunológicos, o que pode ampliar as possibilidades de personalização e eficácia do tratamento oncológico.
Para a startup MS Pen, a colaboração com o Einstein é a primeira parceria internacional no uso cirúrgico da tecnologia, e representa um passo significativo em demonstrar a robustez e potencial da inovação na prática médica. “Como brasileira e idealizadora da tecnologia, estou muito feliz de ter o Brasil como o primeiro local internacional dos nossos estudos. Tem sido um privilégio trabalhar com a equipe fantástica do Einstein, que é referência mundial em inovação e excelência em pesquisa e no tratamento de pacientes”, afirma Lívia Eberlin.
A implementação da pesquisa é resultado de uma articulação internacional envolvendo instituições de referência. A Thermo Fisher Scientific, além de fornecer o espectrômetro utilizado no estudo, mantém parceria científica com o Einstein há mais de uma década. Já a MS Pen tem sua tecnologia validada em estudos clínicos realizados em instituições americanas de prestígio como Johns Hopkins University, UCLA, MD Anderson Cancer Center e Baylor College of Medicine.
A
experiência acumulada com a tecnologia em centros internacionais reforça seu potencial
clínico. Já aplicada em procedimentos envolvendo tumores de mama, cérebro,
ovário e próstata, a abordagem demonstrou resultados consistentes. No Brasil, o
objetivo é adaptar o uso à realidade local, avaliando a eficácia diagnóstica em
cânceres de pulmão e tireoide.
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