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segunda-feira, 18 de agosto de 2025

"Surto de botulismo na Itália acende alerta mundial", diz especialista


O recente surto de botulismo alimentar na região da Calábria, sul da Itália, que matou duas pessoas e hospitalizou outras 14, reacendeu o debate sobre a segurança dos alimentos em escala global. 

 

O caso, associado ao consumo de sanduíches de brócolis vendidos em food trucks, levou as autoridades italianas a recolher insumos, interditar o ponto de venda e iniciar uma investigação para rastrear a origem da contaminação.

 

Embora pareça um episódio isolado, eventos semelhantes têm se repetido em diferentes países. Em setembro de 2023, durante a Copa do Mundo de Rúgbi, um surto em Bordeaux, na França, afetou 15 pessoas de nacionalidades distintas após o consumo de sardinhas enlatadas artesanalmente. 

 

Oito pacientes precisaram ser internados em unidades de terapia intensiva e seis foram submetidos à ventilação mecânica invasiva. O caso mostrou que, em um mundo cada vez mais interligado, um alimento contaminado pode provocar emergências sanitárias internacionais em poucas horas, especialmente durante eventos que atraem grandes fluxos de turistas.

 

O Brasil também registrou casos graves em 2024. Na Bahia, seis ocorrências confirmadas resultaram em duas mortes. Em Belo Horizonte, a suspeita de contaminação em uma torta de frango levou à interdição de uma padaria pela Vigilância Sanitária. 

 

Dados do Ministério da Saúde indicam que mais de 90% das ocorrências registradas no país são de origem alimentar, com maior concentração na região Sudeste. Apesar disso, as mortes são mais comuns em regiões com menor acesso a tratamento especializado. Especialistas alertam ainda para a subnotificação e a demora no diagnóstico laboratorial, fatores que dificultam a resposta rápida e aumentam o risco de novos casos.

 

A médica veterinária e especialista em segurança dos alimentos, Paula Eloize, atua há mais de dez anos no Brasil alertando sobre os riscos e reforçando a importância da prevenção. Atualmente, está em Portugal ampliando a atuação do seu grupo, Food Smart, para a Europa. O objetivo é levar o debate sobre segurança dos alimentos a um nível internacional e trazer subsídios para aprimorar práticas e políticas no Brasil.

 

“O botulismo é raro, mas extremamente grave. Ele é silencioso até ser tarde demais. Não causa febre e não apresenta sinais clássicos de infecção, por isso engana até profissionais experientes. Quando os sintomas surgem, como visão dupla, fraqueza muscular e dificuldade para engolir, a toxina já está em ação”, explica Paula Eloize.

 

Para ela, a segurança dos alimentos precisa ser tratada como um compromisso inegociável que abrange todas as etapas da cadeia, desde a produção primária até o prato do consumidor. “Não existe produto seguro sem processo seguro. Um alimento pode ter um excelente ingrediente, mas se for manipulado ou armazenado de forma inadequada, perde a segurança e pode se tornar fatal”, acrescenta.

 

Paula Eloize ressalta que prevenir o botulismo exige mais do que seguir normas de forma mecânica. É necessário que empresas e manipuladores compreendam a lógica por trás de cada medida. 

 

“Não basta dizer que uma conserva precisa ser fervida por tantos minutos ou armazenada a determinada temperatura. É preciso entender que a Clostridium botulinum sobrevive em ambientes sem oxigênio e que a toxina que ela produz é uma das substâncias mais potentes conhecidas. Quando o profissional entende isso, ele respeita o processo não por obrigação, mas por consciência”, diz.

 

Essa mentalidade deve se refletir em inspeções frequentes, análise rigorosa de fornecedores, rastreabilidade completa dos insumos e treinamento contínuo das equipes. Para o consumidor, significa estar atento a qualquer sinal de alteração nos alimentos, como embalagens estufadas, odor ou textura anormais, e compreender que descartar um produto suspeito é sempre mais seguro do que arriscar o consumo.

 

Ela reforça que a prevenção é uma responsabilidade compartilhada. “O poder público fiscaliza, mas não está dentro de cada cozinha ou indústria todos os dias. A responsabilidade pela segurança do alimento é de quem o produz, processa, transporta, vende e também de quem consome. Cada elo tem que fazer a sua parte”, alerta.

 

Ainda para Paula Eloize, os casos recentes demonstram que a segurança dos alimentos precisa ser tratada como prioridade estratégica de saúde pública. “A prevenção não é opcional. Ampliar a fiscalização, descentralizar o atendimento especializado e investir em educação sanitária são medidas tão importantes quanto o próprio tratamento médico. E elas custam muito menos do que o impacto de um surto”, completa.

 

Ela finaliza com um alerta claro. “Cada caso de botulismo que chega às manchetes carrega uma história de falhas que poderiam ter sido evitadas. Se a cultura de segurança estivesse presente do campo ao prato, estaríamos falando de prevenção e não de mortes”, conclui a especialista.



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