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| A geração Alpha está crescendo em um ambiente tecnológico Pexels |
A sociedade vive um paradoxo desconfortável: ao mesmo tempo em que entrega celulares a crianças cada vez mais novas, tenta desesperadamente conter os efeitos colaterais dessa exposição precoce. Surgem projetos de lei para restringir o uso de telas em escolas, campanhas para desintoxicação digital e apelos para devolver às crianças uma infância analógica que, honestamente, já não existe mais. Mas no meio desse caos emocional e educacional, uma pergunta precisa ser feita com coragem: será que simplesmente retirar o celular é, de fato, a solução?
De acordo com o especialista em comunicação entre gerações, Ricardo Dalbosco, a solução não é tão simples. Tirar o celular sem um plano de reeducação digital é como cortar o fio de um alarme sem entender por que ele disparou. O problema não está no aparelho, mas no vácuo que ele preenche. A tecnologia entrou na rotina das crianças porque os adultos saíram dela. Quando pais, escolas e até empresas abdicam de sua função formadora, a tela se torna babá, professora, terapeuta, melhor amiga e válvula de escape, tudo ao mesmo tempo. A raiz do problema não é o excesso de tecnologia, mas a escassez de presença familiar.
É inegável que o uso excessivo de telas está
associado a distúrbios de atenção, queda no desempenho escolar e dificuldades
emocionais. Mas o erro está em tratar o celular como vilão absoluto e não como
sintoma de uma infância desassistida. Retirar o aparelho pode até gerar alívio
momentâneo, mas se os pais não estiverem dispostos a preencher o espaço com
diálogo, afeto, limites e rotina estruturada, a abstinência digital só vai
trocar um problema por outro: ansiedade, irritabilidade e isolamento.
A geração Alpha está crescendo em um
mundo que não será menos digital. Pelo contrário, será ainda mais imerso em
inteligência artificial, hiperconectividade e acesso instantâneo à informação.
Proibir o celular não os prepara para esse mundo. Ensinar
a usá-lo com consciência, sim. A reprogramação da infância não pode ser um
retorno romântico ao passado, mas uma construção estratégica do futuro, e isso
só se faz com pais mais presentes e menos reativos.
O celular não é o inimigo. O inimigo é o comodismo parental que
terceiriza o afeto para uma tela. A educação do futuro exige adultos que saibam
liderar pelo exemplo e que ensinem que o tempo de qualidade com os filhos vale
mais do que qualquer aplicativo. Que estejam dispostos a conversar, jogar no
chão da sala, fazer refeições sem notificação e dizer “não” com firmeza, mas
com afeto. É preciso parar de tratar o celular como o problema e começar a
olhar para o que ele está silenciosamente substituindo.
Portanto, a pergunta que deveríamos estar fazendo não é “como tirar o celular do meu filho?”, mas “como posso me tornar mais relevante do que ele?”. Se estamos realmente preocupados com o futuro das novas gerações, chegou a hora de parar de culpar a tecnologia e começar a reprogramar a forma como ocupamos nosso lugar na vida dos nossos filhos. Educação exige intenção e infância, ao contrário do que muitos pensam, ainda precisa ser guiada, mesmo em um mundo onde as crianças parecem saber tudo sobre o digital.
Ricardo Dalbosco - Palestrante referência em Comunicação Multigeracional e o Futuro do Trabalho, sendo estrategista de marca pessoal, referência nacional e com experiência em projetar marcas pessoais de profissionais de sucesso de quatro continentes, além de marcas corporativas. É Doutor com foco em influência digital, escritor Best-Seller, conselheiro de empresas, vencedor de prêmios, além de colunista e consultado por diversas mídias de renome nacional. É o maior formador de LinkedIn Top Voices e Creators no Brasil, trabalhou em diversos lugares pelo mundo e é considerado o profissional de confiança de vários executivos, empresários e board members no país.

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