A fumaça do cigarro inalada por quem está ao redor
contém mais toxinas que a tragada pelo fumante e pode impactar severamente o
desenvolvimento do feto
É recorrente que
se associe os riscos do tabagismo à gestante que fuma. No entanto, menos
conhecida, e igualmente perigosa, é a ameaça invisível àquelas que não fumam,
mas convivem em ambientes com fumaça. O tabagismo passivo contamina o ar e traz
ao feto substâncias tóxicas, colocando em risco seu crescimento e saúde futura.
“A fumaça
ambiental do tabaco contém cerca de 4 mil compostos, dos quais mais de 200 são
tóxicos e cerca de 40 são cancerígenos. Estima-se que a fumaça liberada no
ambiente contenha até três vezes mais nicotina e monóxido de carbono, e até 50
vezes mais substâncias cancerígenas do que a fumaça tragada diretamente pelo
fumante”, alerta o obstetra Dr. Pedro Melo, do Hospital da Mulher Mariska
Ribeiro, localizado no Rio de Janeiro.
O peso
invisível do fumo passivo no bebê
Estudos
internacionais demonstram que a exposição passiva durante a gravidez aumenta
significativamente o risco de baixo peso ao nascer. Uma meta-análise publicada
no International Journal of Gynecology & Obstetrics apontou que
mulheres grávidas expostas ao fumo passivo têm até 60% mais chance de terem
bebês com baixo peso.
Já outra pesquisa,
conduzida pela Universidade da Califórnia e publicada no Environmental
Health Perspectives, verificou que bebês de mães expostas ao fumo passivo
nasceram, em média, com peso até 88 gramas inferior em comparação aos filhos de
mulheres não expostas.
“A exposição
intrauterina ao tabaco e seus subprodutos têm diversas consequências maternas e
fetais. Quando falamos em exposição, estamos nos referindo ao tabagismo passivo
também. Esse, ainda que em menor escala, apresenta as mesmas consequências do
tabagismo ativo”, explica Dr. Melo.
Consequências
neurológicas e comportamentais
A fumaça ambiente
não compromete apenas o peso do bebê: ela prejudica também o desenvolvimento
cerebral e pulmonar. A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que a nicotina
atravessa a placenta, podendo afetar a formação cerebral e a estrutura dos
vasos sanguíneos do útero. Estudos indicam alterações estruturais e funcionais
no cérebro de crianças até 12 anos associadas à exposição pré-natal ao tabaco,
como menor volume de massa encefálica, desempenho inferior em testes de
avaliação cognitiva, menor eficiência em funções executivas na adolescência e
uma discreta redução no quociente de inteligência (QI).
Embora ainda não
seja possível comprovar causalidade direta entre exposição ao tabaco e
alterações comportamentais, existem evidências de que o contato com a fumaça
pode estar relacionado ao desenvolvimento de Transtorno do Déficit de Atenção e
Hiperatividade (TDAH). Um estudo envolvendo 1 mil pacientes nascidos entre 1998
e 1999 com diagnóstico de TDAH sugere que esse efeito pode ser dose-dependente,
ou seja, quanto maior a exposição, maior o risco.
O monóxido de
carbono presente na fumaça intensifica a hipóxia intrauterina, aumentando o
risco de complicações como pré-eclâmpsia e insuficiência placentária. Crianças
expostas ao tabagismo passivo apresentam maior probabilidade de desenvolver
asma, infecções respiratórias recorrentes, otites de repetição e até a síndrome
da morte súbita infantil, segundo o Ministério da Saúde.
No Brasil, dados
oficiais do Portal de Serviços e Informações do Governo Federal estimam que
sete não-fumantes morrem por dia devido à exposição passiva, considerando
apenas três doenças principais associadas ao tabaco, e mais de 60% dessas
mortes ocorrem entre mulheres.
Proteção da
gestante: responsabilidade de todos
A proteção da
gestante depende do cuidado das pessoas que convivem com ela diariamente.
Parceiros e familiares devem evitar fumar dentro de casa, no carro ou em
qualquer espaço próximo à grávida.
Sempre que
possível, o ideal é que fumantes utilizem áreas externas, afastadas do ambiente
doméstico, e tenham atenção redobrada com roupas e objetos que podem acumular
partículas tóxicas.
Também é
fundamental dialogar com familiares e amigos, explicando os riscos reais do
tabagismo passivo, para que todos se engajem na proteção da gestante. Fora de
casa, recomenda-se priorizar lugares sinalizados como “livres de tabaco”, já
que a legislação federal proíbe fumar em ambientes fechados de uso coletivo.
“O perigo está no ambiente, por isso, proteger a gestante é proteger o bebê. Não há grau seguro de exposição à fumaça. A única medida eficaz é garantir ambientes totalmente livres de cigarro, especialmente onde a gestante transita ou reside”, reforça Dr. Pedro.
Hospital da Mulher Mariska Ribeiro - localizado na zona Oeste do Rio de Janeiro
CEJAM - Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”
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