Especialista do CEUB detalha medidas para conter o
avanço do vírus e reduzir o estigma do uso de preservativos
O
Brasil registrou redução de 20,8% na taxa de detecção de AIDS, saindo dos 21,6
para 17,1 casos por 100 mil habitantes. A queda foi ainda mais expressiva entre
mulheres: 37,8%. A taxa de mortalidade por AIDS também diminuiu 26,5% no mesmo
período, de acordo dados do Boletim Epidemiológico HIV 2023. Apesar do cenário,
Eveline Vale, infectologista e professora de Medicina do Centro Universitário
de Brasília (CEUB), ressalta que as ações de prevenção, o diagnóstico precoce e
os direitos das pessoas que vivem com HIV ainda precisam de mais eficácia.
Como
o HIV ainda é considerado uma epidemia global, as estratégias de prevenção têm
se diversificado para atender diferentes públicos, especialmente aqueles em
maior vulnerabilidade social. “Essas populações estão mais expostas ao HIV e,
por isso, precisam de estratégias específicas que considerem suas realidades. A
prevenção combinada é uma abordagem que busca reduzir a transmissão do vírus, a
partir de ações comportamentais, estruturais e biomédicas, afirma Eveline.
De
acordo com a infectologista, o conceito de prevenção envolve medidas
integradas, como o uso de preservativos, a profilaxia pré e pós-exposição (PrEP
e PEP), testagem regular para HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis
(ISTs), além do tratamento imediato para pessoas diagnosticadas com o vírus.
“Nosso objetivo é alcançar a indetectabilidade da carga viral. Quando isso
acontece, o vírus se torna intransmissível”, explica.
Apesar
do maior acesso à informação, Eveline reconhece que ainda há barreiras
culturais e resistência envolvendo o uso de preservativos. Segundo a docente,
algumas pessoas acreditam que o preservativo reduz o prazer ou que não precisam
usar por confiar no parceiro. Outros grupos ainda enfrentam tabus relacionados
à sexualidade ou dificuldades de acesso, especialmente adolescentes, pessoas em
situação de rua ou privadas de liberdade.
Para
superar esses obstáculos, a professora do CEUB defende um esforço coletivo:
“Precisamos de campanhas educativas, desestigmatização do uso de preservativos
e empoderamento de mulheres e jovens para que possam adotar práticas sexuais
seguras. Também é fundamental envolver líderes comunitários e religiosos para
promover mensagens positivas de saúde sexual.”
Conscientização para as minorias
Eveline
ressalta o papel da campanha Dezembro Vermelho, como oportunidade de ampliar as
ações de testagem, conscientização e combate ao estigma. A médica aponta que
este é um momento em que a sociedade como um todo se mobiliza para reforçar a
importância da prevenção e do diagnóstico precoce. “Entre as ações de maior
impacto, estão os mutirões de testagem gratuita, a promoção de PrEP e PEP, e
atividades educativas voltadas para reduzir preconceitos.”
Sobre
a testagem, a frequência varia conforme o perfil de risco, sendo o diagnóstico
precoce fundamental para iniciar rapidamente o tratamento antirretroviral, que
no Brasil é oferecido gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “Para
pessoas mais expostas, como profissionais do sexo ou indivíduos com múltiplos
parceiros, a recomendação é fazer exames a cada três a seis meses. A testagem
regular permite identificar precocemente o HIV e iniciar o tratamento antes que
a infecção pelo HIV progrida para a aids,” explica.
Quanto
à função social, a infectologista do CEUB destaca a importância das iniciativas
comunitárias na disseminação de informações e acesso aos serviços de saúde.
Segundo ela, ações locais conseguem adaptar as mensagens às realidades
específicas de cada comunidade: “Deste modo, ajudamos a quebrar barreiras
culturais e promover um impacto mais eficaz na prevenção e no tratamento do
HIV”.
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