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segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Caso no RJ acende debate sobre importância de programas de acreditação para Controle de Qualidade de Laboratórios

 A Sociedade Brasileira de Patologia (SBP) também defende a implementação de políticas públicas governamentais voltadas à segurança do paciente e ao controle da qualidade em instituições de saúde públicas.

 

Nas últimas semanas, a infecção com o vírus HIV por pessoas que receberam transplantes advindos de um laboratório de patologia clínica no Rio de Janeiro mobilizou as autoridades e a opinião pública. Diante desse cenário, especialistas apontam a necessidade de fortalecimento de programas de acreditação e controle de qualidade de sociedades médicas voltados a laboratórios privados e de políticas governamentais voltadas à segurança do paciente em laboratórios públicos e privados. 

O Dr. Emilio Assis, vice-presidente para assuntos profissionais da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP), analisa que a investigação do caso no Rio de Janeiro dá uma perspectiva do contexto. Para ele, a situação pode ser semelhante em outros laboratórios públicos e privados tanto de patologia clínica, que analisam exames de sangue, quanto de anatomia patológica cujos especialistas realizam diagnóstico a partir de tecidos sólidos de biópsias e de outros exames como moleculares e são representados pela SBP. 

“O laboratório de patologia clínica não seguia os parâmetros de controle de qualidade recomendados pelo programa de acreditação da sociedade médica representante, o que ocasionou os erros desastrosos. Isso chama atenção de outras sociedades médicas de especialidade para o fortalecimento das ações de seus respectivos programas de acreditação, como da SBP”, comenta ele. 

O especialista exemplifica que a SBP possui programas de acreditação voltados aos laboratórios de anatomia patológica. “Temos boas práticas e recomendações do que fazer para que o atendimento ao paciente tenha como principal objetivo a segurança do paciente”, diz. 

No caso da patologia, a falta de rigor na qualidade pode resultar em diagnósticos imprecisos de doenças como o câncer. “Isso pode acontecer, por exemplo, quando a biópsia fica mais tempo que o ideal em formol e quando o laboratório não realiza o teste de controle para cada exame de imuno-histoquímica que realiza do tecido coletado”, explica Assis. 

Programas de acreditação - Entre seus programas, a SBP possui o Programa de Incentivo ao Controle de Qualidade (PICQ), que tem como objetivo estimular a atualização científica de patologistas e também, o Programa de Acreditação e Controle da Qualidade (PACQ), que visa auxiliar os laboratórios de anatomia patológica a alcançar a excelência nos processos e procedimentos, considerando a legislação vigente e proporcionando a segurança ao paciente e aos colaboradores. 

Assis detalha que para um laboratório participar do PACQ, os patologistas colaboradores têm que ter o certificado do PICQ, garantindo a qualidade dos especialistas e da instituição: “Com isso, trimestralmente, os patologistas participam de uma avaliação à distância em que respondem sobre a análise de casos e perguntas teóricas sobre o nível de conhecimento em medicina e patologia”. 

Além disso, anualmente, o laboratório deve submeter documentos internos que são avaliados por auditores do PACQ. Se o laboratório satisfazer os requisitos administrativos, se qualifica para uma visita presencial de inspeção e ao final recebe a certificação de Acreditação. “A SBP também disponibiliza manuais de boas práticas, guidelines e manuais de padronização de laudos que orientam o trabalho de patologistas em laboratórios”, complementa ele. 

O Dr. Clóvis Klock, presidente da SBP, lembra que o PACQ é o único programa de patologia brasileiro a ser reconhecido pela Sociedade Internacional para a Qualidade nos Cuidados de Saúde (ISQua, da sigla em inglês). “O que significa que é uma acreditação de qualidade, muito bem vista no exterior”.

 

Políticas de saúde - Para Klock, a acreditação e o controle de qualidade são necessários também na saúde pública, visando a segurança do paciente, mas faltam políticas públicas governamentais que fortaleçam tais iniciativas. 

“Estamos em uma campanha para que todos os laboratórios de anatomia patológica que atendem os pacientes do Cacon [Centro de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia] e Unacon [Unidade de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia] tenham um controle de qualidade. Nós já discutimos essa demanda com o Ministério da Saúde, porque a gente vê que trabalhar com segurança do paciente e qualidade é primordial”, pontua ele.  

O especialista menciona ainda a importância de a Agência Nacional de Saúde (ANS) determinar que os serviços de saúde tenham um controle de qualidade: “Também propomos que haja uma remuneração diferenciada para o laboratório que tiver a certificação ou que exista nas RDCs [Resolução de Diretoria Colegiada, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária] a obrigatoriedade de todo o serviço para atender na área da saúde de ter controle de qualidade”, afirma.

Para Assis, “Quando há controle de qualidade por um programa de acreditação uma negligência como essa não ocorre.”, conclui.


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