Ary Dutra, professor de Medicina Veterinária da Universidade Veiga de Almeida, explica que animal e vítima nunca são os culpados e dá orientações sobre o que fazer ao se deparar com um cão de grande porte solto
De 2020 a 2023, o Brasil registrou 156 mortes
causadas por mordidas ou golpes provocados por cães. Somente no ano passado,
foram 51 vítimas, um crescimento de 27% em relação a 2022, quando foram
registrados 40 óbitos. Os dados são do Sistema de Informações sobre Mortalidade
(SIM), do Ministério da Saúde.
Em 2020 e 2021, foram listadas 32 e 33 mortes,
respectivamente. São Paulo encabeça a lista de óbitos por ataques de cães nos
últimos quatro anos, com 38 casos, seguido pelo Rio Grande do Sul (18), Rio de
Janeiro (12), Minas Gerais (12) e Pará (11).
Apesar de haver subnotificação, os números
acendem um alerta. Para Ary Dutra, professor de Medicina Veterinária da
Universidade Veiga de Almeida, o problema passa pela falta de informação e
cuidado dos tutores com a manutenção de cães de grande porte, como os pitbulls,
responsáveis por ataques mais graves.
“O animal e a vítima nunca são os culpados.
Infelizmente falta conscientização na hora de obter animais de grande porte.
Muitos tutores não conhecem a origem e o comportamento natural de cada
linhagem. Além disso, todo tutor precisa ter ciência de que é sua obrigação
manter o animal dentro de sua propriedade de forma contida e segura”, explica
Dutra.
Cães da raça pitbull, por exemplo, são robustos,
fortes e temperamentais, mas altamente amáveis ao tutor e não são agressivos
por natureza, esclarece o especialista. “Em sua formação, eles foram
desenvolvidos para defesa contra animais selvagens, mas são cuidadosos à
presença do ser humano. Sua característica é defender a propriedade e o
proprietário. E há linhagens mais dóceis e amorosas, o que é possível
identificar ao conhecer o canil e o sistema de criação do animal”, ressalta
Dutra.
O professor explica ainda que os filhotes
aprendem sua hierarquia na matilha durante os primeiros quatro a cinco meses de
vida, e o brasileiro tem a tendência de retirar o filhote prematuramente da
mãe, com 30, 40, 50 ou 60 dias. “Nessa fase, o comportamento ainda não foi
definido. Sem instrução e acompanhamento profissional adequados, os tutores
podem desconhecer o comportamento do animal”.
Diferentemente do cenário brasileiro, a raça
pitbull possui restrições em mais de 20 países, como Espanha, Rússia, Argentina,
Itália e Nova Zelândia. Para Dutra, a proibição, entretanto, não é a solução.
“Não se deve impedir a criação, mas, sim, regulamentar a criação e a venda,
para que as pessoas tenham certeza de que o animal se enquadra nos padrões da
linhagem”, ressalta o médico veterinário.
Dicas para agir diante de cães soltos
O que fazer, no entanto, ao se deparar com um cão
de grande porte solto ou sem focinheira? O professor da UVA listou 4 dicas:
1) “Nunca encare nem olhe nos olhos do animal
dominante. Ele pode entender o sinal como um desafio de dominância e atacar”.
2)
“Não corra – a não ser que tenha consciência de que atingirá abrigo próximo e
seguro. Os cães correm até 10 vezes mais rápido que o homem”.
3)
“Não grite. Se se sentir ameaçado ou for atacado, quanto mais você grita e
esperneia, mais o cão ataca. Pitbulls têm força muscular torácica muito grande
e são animais de chão e tração”.
4) “Nunca passe próximo a cães soltos
desconhecidos, independentemente da raça".
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