A fonoaudióloga Juliana Algodoal, PHD em análise do discurso para o trabalho e precursora da atuação de fonoaudiólogos com voz profissional dentro de empresas, traz dicas de como usar a voz corretamente, de acordo com a mensagem que se deseja passar. São elas:
- Planejar a voz a ser usada para
passar a mensagem - uma das coisas
mais importantes é o planejamento da voz a ser utilizada em conjunto com o
planejamento da fala. Escolher a intenção e a forma como vai expressar seu
conteúdo para subir no palco e dar uma palestra, acolher uma pessoa, dar
bronca, demonstrar urgência etc.
- Escolher a velocidade da voz - falar muito devagar, transmite a ideia de reflexão. A fala
muito acelerada demonstra ansiedade, urgência. Ideal é saber qual a melhor
velocidade para a mensagem que vai compartilhar, lembrando que sempre é
possível variar a velocidade para dar ‘mais vida ao conteúdo’.
- Intensidade da voz- o som muito baixo de voz pode não ser ouvido ou interpretado
corretamente, especialmente em ambientes ruidosos. Falar muito alto, pode
transmitir uma imagem de falta de educação, dependendo do local onde está.
Ajustar intensidade à mensagem compõe o planejamento.
- Entender e pensar sobre o conteúdo
da fala - além de estudar a palestra,
estudar a reunião, estudar a pauta, é preciso colocar no planejamento,
‘com que voz eu vou’.
- Valorizar a voz - ambientes ruidosos são mais desafiadores para quem precisa
projetar a voz. Quando falta um microfone, o ideal é articular melhor as
palavras. Abrir e movimentar mais os lábios para que as pessoas possam ter
o apoio da leitura labial. Isso também requer cuidados com os lábios,
aliás a coerência entre corpo e voz na fala valoriza ainda mais a mensagem
com todo, pois quanto mais a voz é valorizada mais você se destaca.
- Respiração – essa é a base para uma boa
projeção de voz. Com ar no pulmão, é possível usar as pausas para pegar
mais ar e falar uma frase mais comprida, e ter uma voz que transmite
saúde. Isso evita com que a pessoa que está falando fique sem ar até que a
voz vai ficando ‘esganiçada’ no final da frase. Para quem escuta, essa
situação passa despreparo, falta de planejamento, de insegurança. É
fundamental fazer a regulação da respiração, do estilo de respirar com a
intenção que ela quer transmitir, usando as pausas para ter mais tempo de
fala.
- A voz no trabalho – é muito importante a pessoa saber qual é o papel que
representa no ambiente profissional. A voz também é um ponto de atenção.
Então, planejar o uso da voz faz muita diferença na carreira profissional.
Ajuda a formar sua marca profissional e transmitir as mensagens para que
todos envolvidos compreendam. É preciso saber inserir a voz na construção
do seu discurso para enriquecê-lo e torná-lo ainda mais vencedor
despertando interesse das pessoas.
- Não existe ‘falar de improviso’ – isso é mito. Para falar bem é preciso praticar, ter foco.
Quem improvisa bem certamente já tem algum texto preparado previamente
dentro de si, incluindo a melhor voz para se expressar.
Com
mais de 30 anos de atuação para o aperfeiçoamento da fala de profissionais,
Juliana Algodoal adaptou um modelo inspirado na publicação de Behlau e Pontes
(1995), que pode ajudar a compreender as mensagens que cada escolha de voz
carrega e a emoção que pode despertar:
Voz |
Interpretação do
ouvinte |
Voz rouca |
Indica que a pessoa sente cansaço ou faz algum esforço para
falar. |
Voz soprosa |
Nas mulheres indica certa sensualidade, mas também pode indicar
alguma fraqueza de quem fala. |
Voz áspera |
Considerada desagradável, indica agressividade. |
Voz monótona |
Também é chamada de “fala robotizada”, pois transmite ausência
de emoção. Geralmente causa sono e desinteresse em quem escuta. |
Voz mais grave |
Historicamente associada a uma pessoa com personalidade
autoritária, também pode transmitir energia e segurança, dependendo do
contexto. |
Voz mais aguda |
Causa a impressão de que a pessoa é submissa ou frágil. |
Tons agudos |
Estão mais associados à alegria. Se houver velocidade de fala
aumentada pode dar a impressão de que há uma festa. |
Tons mais graves |
São mais associados à introspecção ou tristeza. Se houver
velocidade de fala reduzida pode dar a impressão de que o ambiente está
triste ou de que há uma má notícia. |
Intensidade alta |
Aqui o equilíbrio é delicado, porque, dependendo do contexto em
que se fala alto, pode ser identificada energia e movimento. Por outro lado,
se o contexto requerer uma fala mais baixa, pode indicar falta de educação e,
até mesmo, invasão do espaço do outro. Essa estratégia também pode ser
utilizada para impor uma opinião e pode representar uma ameaça a quem escuta. |
Intensidade
reduzida |
Geralmente associada à timidez, também pode indicar que a pessoa
está insegura em relação àquela comunicação. |
Intensidade
adequada |
Demonstra que o falante tem habilidade para balancear as
intensidades de acordo com a situação, controlando-as de acordo com as
necessidades |
Velocidade lenta |
Frequentemente quem fala devagar desperta falta de interesse em
quem escuta, mas também pode indicar que o falante está pensando durante a
fala ou que não planejou sua comunicação e a mensagem que deseja transmitir.
Isso também acontece quando o falante não está prestando atenção ao falar. |
Velocidade
acelerada |
Geralmente indica que há urgência, algo a ser resolvido
rapidamente, porém pode demonstrar que a pessoa tem certa ansiedade ao falar.
Importante ter controle da velocidade para que seja mais fácil separar quando
a mensagem é, de fato, urgente. |
“Mais que um recurso de liderança, a voz reflete a imagem da sua marca pessoal ou de uma empresa, reforça seu compromisso como líder, sobretudo espelha nossas atitudes e propósitos como empresa e como profissionais. Não é só o falar, é como falar”, destaca Juliana Algodoal.
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