Constatação é do novo estudo da Preply, que acaba de investigar os limites do humor dentro e fora do escritório
Responda com sinceridade: você já testemunhou brincadeiras ofensivas no ambiente de trabalho? Se sua resposta for positiva, saiba que isso não é por acaso: de acordo com 63% dos brasileiros entrevistados na nova pesquisa da Preply, as empresas são o espaço onde mais se reproduz piadas insensíveis ou de mau gosto — à frente do círculo familiar, grupos de amigos e até mesmo das redes sociais.
Isso porque, em um contexto no qual muitos humoristas têm sido criticados por, não raramente, normalizarem discursos de ódio, a especialista em idiomas pediu que centenas de pessoas de todas as regiões revelassem suas experiências com certas piadas de mau gosto (seja como reprodutoras ou ouvintes), entre os preconceitos mais ouvidos sob a forma de “gozação” e como costumam reagir ao ouvi-los.
Durante o levantamento, aliás, mesmo
quem afirmou reproduzi-las no dia a dia também não negou: já se sentiram
pessoalmente ofendidos ao ouvir certas “gracinhas” por aí.
Principais conclusões:
·
52,6% dos brasileiros já reproduziram piadas de mau
gosto, enquanto 71,6% já se ofenderam com
brincadeiras de terceiros;
·
Para a maioria dos entrevistados, tais “gozações” costumam
acontecer no ambiente profissional (62,6%), internet (61,2%)
e reuniões com amigos (56,8%);
·
Já no ambiente online, as páginas e perfis no Instagram (46,6%)
seriam os maiores disseminadores de piadas ofensivas;
·
Sexismo, xenofobia e intolerância
religiosa aparecem entre os tópicos mais presentes nas
piadas ouvidas diariamente.
52,6% dos entrevistados reproduzem ou
já reproduziram piadas insensíveis
Quando o assunto é a reprodução de
piadas ofensivas, se existe algo que o estudo da Preply parece deixar claro é
como quem hoje as reproduz tem grandes chances de se tornar alvo desse tipo de
humor no futuro — algo
evidenciado nas respostas dos próprios entrevistados.
Isso porque, ao serem perguntados sobre suas participações nessas supostas “brincadeiras”, 5 em cada 10 respondentes afirmaram fazer ou já ter feito alguma “gracinha” considerada insensível ou de mau gosto socialmente, muitos dos quais também fazem parte dos grupos que disseram ficar constrangidos por outras pessoas (82,6%) ou se ofenderem com certas piadas de terceiros (71,6%).
Tal incômodo, de toda maneira, nem sempre é o suficiente para justificar eventuais confrontos durante esse tipo de situação. Afinal, mesmo ao ouvirem piadas que avaliam como insensíveis (seja porque se utilizam de temas delicados, discriminatórios ou que podem causar desconforto), somente cerca de 10% das pessoas revelaram manifestar a própria desaprovação (13,6%) ou educar os demais sobre os impactos negativos (11,4%) desse tipo de humor.
Piadas no trabalho: quando as
brincadeiras se tornam ofensas
Nem na faculdade, nem entre os colegas: de acordo com o que responderam a maioria dos brasileiros, o lugar onde mais escutam piadas insensíveis ou de mau gosto diariamente é, na verdade, o ambiente de trabalho (62,6%) — o mesmo espaço em que, segundo um estudo da Workplace Bullying, práticas intimidatórias afetam mais de um terço dos funcionários.
Só então (e já fora do meio profissional) é que viriam outros locais e circunstâncias onde tendem a surgir “gozações” do tipo, como em meio a conversas em grupos de amigos (56,8%), ambientes escolares (49,6%), eventos sociais (48,2%) e espaços públicos (44,2%).
Ora, mas e quanto à internet, esse terreno em que piadas se confundem com discursos de ódio e ofensas gratuitas com grande frequência? Para 6 em cada 10 entrevistados, estamos falando de um dos espaços onde mais se encontram “brincadeiras” ofensivas, sobretudo em três redes sociais específicas: Instagram (46,6%), Facebook (28,2%) e TikTok (27,6%), as mais mencionadas nas respostas.
As reuniões de família, como imaginado, também não ficam muito atrás no quesito passar do ponto em nome do riso, tendo em vista que familiares como primos (39,8%), tios (37,6%) e até mesmo os próprios pais (25,2%) foram classificados como reprodutores de piadas desconfortáveis na visão dos ouvidos pela Preply.
Sexismo, racismo, xenofobia: preconceitos disfarçados de piada
Mas, afinal, se experiências com piadas de mau gosto não faltam entre os brasileiros, que temas sérios têm sido menosprezados em prol da “gozação” entre a população? Como uma pesquisa atenta à relação entre certos estigmas, possíveis discursos de ódio e comentários humorísticos, esse foi um dos questionamentos da Preply aos entrevistados, que dividiram com a plataforma o que mais ouvem da boca dos outros disfarçado de humor.
Ao que demonstram os respondentes, são
três os tópicos que mais aparecem nas piadas ouvidas no dia a dia: mensagens
sexistas (56,6%), por trás, por exemplo, de
brincadeiras envolvendo mulheres loiras e sogras, zombarias à
aparência física (55,8%), como aquelas que envolvem pessoas
gordas, e, ainda, piadas racistas (54,4%).
Somam-se a eles, por sua vez,
comentários jocosos sobre grupos como a população LGBTQIA+ (45,2%), membros de
determinados grupos religiosos (35,6%), pessoas em
situação de vulnerabilidade social (29,6%) e indivíduos
com deficiência (30%).
"Quando usado de forma positiva, o
humor promove conexão e empatia, serve como um quebra-gelo universal e permite
que as pessoas riam juntas. Sua verdadeira potência reside na capacidade de nos
unir na alegria sem fazer de ninguém o objeto de ridicularização", destaca
Sylvia Johnson, líder de Metodologia da Preply. "Assim, devemos tomar
precauções para evitar o humor que zomba, diminui ou ofende com base em gênero,
raça ou cultura".
Metodologia
Para compreender o que pensa a
população sobre piadas insensíveis e os limites do humor, entre os dias 11 e 12
de março, foram entrevistados 500 brasileiros residentes em todas as regiões do
país. Ao todo, os respondentes tiveram acesso ao total de 10 questões, que
exploraram dimensões diversas do tema — de experiências pessoais com
supostas “brincadeiras” ofensivas a percepções gerais sobre a cultura de piadas
no Brasil. A organização das respostas possibilitou a criação de
diferentes rankings, onde é possível conferir o percentual de cada alternativa
apontada pelos entrevistados.
https://preply.com/pt/
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