Abril Roxo é um mês importante para a conscientização sobre a adenomiose, doença em que o tecido endometrial cresce dentro das paredes musculares do útero, causando dor e problemas de fertilidade. A doença afeta uma em cada dez mulheres segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), representando uma condição comum durante o período reprodutivo.
O Dr. Ricardo Quintairos, presidente da Comissão de Endometriose da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), esclarece que a adenomiose refere-se à presença das células do endométrio infiltradas no miométrio (músculo uterino), enquanto a endometriose envolve a presença dessas células fora do útero, disseminadas pelo abdome (ovário, intestino, bexiga, trompas, etc.), locais onde normalmente não deveriam estar.
Evitar que a doença se desenvolva é desafiador,
uma vez que é uma condição influenciada por fatores genéticos e imunológicos,
dificultando a prevenção primária. No entanto, a prevenção secundária é
possível e consiste em intervir para impedir a progressão da doença.
“Uma abordagem eficaz de prevenção secundária é
agir precocemente, especialmente em jovens que apresentam suspeita de
desenvolver a condição. Uma estratégia fundamental é suprimir a menstruação,
evitando assim a estimulação hormonal, que contribui para o crescimento das
lesões endometrióticas. Ao inibir a menstruação, é possível reduzir a produção
de estrogênio, o que pode retardar o avanço da doença. Embora não seja possível
interromper completamente o seu desenvolvimento, essa abordagem pode proporcionar
uma evolução mais lenta da endometriose, possibilitando uma vida reprodutiva
mais saudável”, alerta o especialista.
Sintomas
Os sintomas e são predominantemente
caracterizados pela dor, manifestando-se através de dispareunia (dor durante a
relação sexual), dismenorreia (cólicas menstruais intensas, sendo o sintoma
mais marcante), sangramento uterino anormal (hipermenorreia, caracterizada por
um fluxo menstrual excessivo), e dor pélvica crônica, persistindo ao longo do
mês. As consequências a longo prazo incluem o agravamento da dor e do fluxo
menstrual, podendo resultar em anemia significativa. Além disso, a
infertilidade é uma complicação grave, especialmente prevalente em mulheres
mais jovens, dificultando a concepção. A gravidade dessa infertilidade pode
variar de acordo com a extensão e características da doença endometriótica.
Tratamento
O tratamento clínico, que visa inibir a ação do
estrogênio. Este hormônio, responsável pela proliferação celular, estimula o
crescimento das células endometriais. O médico da FEBRASGO explica que qualquer
tratamento para a endometriose, seja ela interna (adenomiose) ou externa, deve
incluir a inibição do hormônio estrogênio. Para isso, são utilizados diversos
métodos contraceptivos e anticoncepcionais, que atuam de maneira eficaz. Além
disso, progestágenos isolados também são empregados com sucesso no tratamento.
“Destaca-se entre esses métodos o sistema
intrauterino de levonorgestrel, conhecido como DIU medicado. Este dispositivo
tem um papel relevante no alívio da dor e na redução do sangramento uterino,
especialmente em pacientes sem endometriomas, uma vez que não interfere na
ovulação, mas sim na ação estrogênica na cavidade uterina”, enfatiza.
Casos cirúrgicos
O tratamento cirúrgico em casos de preservação da
fertilidade é considerado heróico, sendo realizado principalmente em centros
especializados. Essas cirurgias visam preservar a capacidade reprodutiva das
pacientes, especialmente em condições como endometriose e adenomiose. Uma das
técnicas utilizadas é a ressecção das paredes afetadas, que é realizada com
precisão para minimizar danos aos tecidos.
“É importante destacar que a principal
consequência da cirurgia, especialmente da histerectomia (remoção do útero), é
a impossibilidade de uma gestação futura. Nesses casos, a mulher não pode mais
engravidar ou dar à luz naturalmente”, destaca o médico.
Neste contexto, a cirurgia só é recomendada
quando a paciente tem absoluta certeza de que não deseja mais ter filhos
biológicos. No entanto, em certos casos, é possível preservar os ovários para
que a mulher possa, dentro das normas regulamentadas pelo Conselho Federal,
recorrer à ajuda de outras mulheres, como primas ou irmãs, para engravidar por
meio de técnicas de reprodução assistida.
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