Durante muito tempo em nossa História, as mulheres foram vistas como pessoas de segunda classe. Foi longa e dolorosa (e ainda é) a luta para votar, estudar e trabalhar em condições minimamente igualitárias às dos homens. Hoje em dia, após várias ondas de Feminismo, as mulheres estão se desempenhando melhor que os homens nas escolas, faculdades e na sensação de bem estar pessoal. Em muitos grupos.
Estatísticas americanas estudam muito de perto o
Suicídio como uma patologia em si, ligada mais ou menos a várias doenças
psiquiátricas. Uma lente de aumento está sendo colocada em meninas
pré-adolescentes, que estão sofrendo mais com uma doença agravada muitíssimo
pelas Redes Sociais, que é a Comparação, mas não é sobre isso que esse artigo
vai falar. Vamos falar sobre os rapazes.
Os riscos suicidas, nesses estudos, andam
equiparados em adolescentes, e isso muda radicalmente quando falamos sobre
adultos jovens: o risco aumenta quase seis vezes para os rapazes (em relação às
garotas). Os índices de mal desempenho na faculdade e fracasso profissional
também está aumentando entre eles. As escolas estão abraçando uma pedagogia
centrada em sentimentos, avessa a riscos e a competição, com uma velada e pouco
consciente campanha contra valores caros ao Masculino e seus ritos de iniciação.
Vou contar um caso que ilustra o assunto: um dos meus filhos, na época do
Ensino Fundamental, tinha um talento razoável para o Xadrez. Uma vez ganhou um
pequeno torneio, com meninos de outra escola. Não ganhou medalhas, nem mesmo um
diploma alusivo à vitória. Tudo para não desestimular os outros competidores
(competidores?), que não chegaram às finais do torneio. Fui até uma loja de
esportes e comprei um pequeno troféu meio brega, entreguei para meu filho e
gritei: É campeão! Diante do olhar meio atônito das professoras. Gritei “É
campeão” algumas vezes. Um autêntico Macho Tóxico, não?
Sinto muito, queridas e queridos: competição é
importante, perder é difícil, mas muitas, muitas vezes mais engrandecedor do
que ganhar. A derrota sempre te lança para a reflexão, e a reflexão proporciona
aprimoramento. Além da tolerância à frustração.
Hoje chegam no mercado de trabalho essa geração
criada nesse ambiente meio anti-masculino. Essa geração está sendo chamada de
Floco de Neve. Eu usaria um termo mais tupiniquim, que é a Geração Paçoca:
basta um peteleco para tudo se desmanchar. Terminou um namoro? Tomou um fora?
Corre para o psiquiatra medicar. Um cliente querido veio relatar que seu filho,
que parecia um Buda de tranquilidade, estava de cama há alguns dias porque
tomou um fora da namoradinha. Chora na cama e não quer voltar para a escola,
onde a visão da garota com outro cara é insuportável. Quer mudar de escola. Não
dorme direito nem come. Deve marcar consulta e ser medicado? Pelo amor de Deus,
não! O primeiro pé-na-bunda a gente nunca esquece. É duro, é difícil, mas
levanta o queixo e vai para a aula, rapaz.
A Geração Paçoca está sofrendo com essa política
coletiva de investimento na fragilização das crianças: nada pode afetar a sua
autoestima. Os meninos estão sofrendo dentro desse contexto. As meninas
precisam ser Empoderadas (detesto esse termo). Os meninos precisam evitar ser
um Macho Tóxico ou um Hetero Top. As Redes Sociais explodem de vídeos contra os
Narcisistas e os Namorados Abusivos.
Espera aí. Esse texto é um libelo contra o
Feminismo e os direitos das mulheres de serem respeitadas, valorizadas e
protegidas contra abusos, avanços sexuais inadequados e machismos de todos os
tipos? Obviamente que não! O que esse artigo tenta destacar, como outros que já
escrevi, é que estamos numa era de extremos, e os extremos sempre levam ao
adoecimento. O tema, o foco aqui, é o adoecimento dos rapazes. A culpabilização
do Masculino e de seus valores. Ser Masculino não significa ser um Macho
Tóxico. Competir, correr riscos, vencer, fracassar, são valores importantes
para meninos e meninas.
Na Era dos Extremos, que estamos vivendo, estamos
emparedados entre a cultura da Ultradireita tacanha, machista, tóxica, de um
lado, e a Cultura Woke, do outro lado, caçando pessoas, lacrando e cancelando
os caras da “Direita fascista”. Com aquele ar santarrão dos ditos
Progressistas. Parece tola e infrutífera a tentativa de se encontrar o caminho
do Meio e o equilíbrio fundamental entre Masculino e Feminino que nossa Psique,
nossa Sociedade, nosso Planeta, tanto necessitam. Particularmente, a disputa
desses extremos está deixando nossos meninos sem saída. É bom voltar nosso
olhar para eles. Antes que seja tarde.
Marco Antonio Spinelli - médico, com mestrado em
psiquiatria pela Universidade São Paulo, psicoterapeuta de orientação junguiana
e autor do livro “Stress o coelho de Alice tem sempre muita pressa”.
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