Especialista
explica que o retorno do estilo pode estar relacionado à nostalgia, política e
até mesmo fatores econômicos
Calça cintura baixa, transparência, babados, jeans,
presilhas para cabelo. Todos esses elementos estão ligados a uma época
específica da moda: os anos 2000. No entanto, com a volta das tendências
daquele período, determinados padrões estéticos podem marcar uma linha de
retrocesso nas lutas pela aceitação da diversidade de corpos e estilos tidos
como femininos.
Marcados pela aceleração dos processos de
globalização e uma alta expectativa com a chegada e propagação da internet, os
primeiros anos após a virada do século trouxeram inúmeros marcos políticos,
econômicos e sociais ao redor do mundo. Com a moda, esses processos não foram
diferentes.
“Segundo alguns especialistas, as roupas dos anos
2000 simbolizavam muita alegria e energia em seus coloridos, fazendo com que as
pessoas se sentissem bem, e este pode ser um dos motivos de seu retorno, a
sensação nostálgica da alegria em contraposição a um mundo caótico”, explica
Hebe de Camargo, professora doutora do curso de Psicologia do Centro
Universitário Módulo (Caraguatatuba), Instituição da Cruzeiro do Sul
Educacional.
Por mais que o fator nostálgico seja importante, é
necessário ponderar até onde o resgate de determinados estilos pode se difundir
com o retrocesso de pautas importantes, como o body positive – movimento de
aceitação da diversidade de corpos femininos –, que não eram pautados naquela
época.
“Como ficariam as mulheres que desejam aderir às
calças de cintura baixa, mas não se sentem confortáveis o suficiente com o
próprio corpo por estarem de fora do antigo padrão? Essas questões são
complexas quando a moda representa uma opressão ou quando são dirigidas a uma
determinada camada social”, comenta a professora.
A docente também afirma que padrões estéticos como
corpos magros, cabelos lisos e determinadas roupas podem se tornar prejudiciais
quando a adequação a moldes que não coincidem com a identidade dessas mulheres,
o que pode desencadear inúmeros problemas de autoaceitação e autoestima.
Dessa forma, retornar ao passado em busca da
memória de uma época marcante e revolucionária pode ser importante. Porém, é
necessário que esse resgate seja feito com a devida prudência, para que junto
da memória não sobressaiam estigmas sociais uma vez já debatidos.
“A inversão de valores, falsa consciência de si
mesmo, inconsciência de classe social podem ser aspectos maléficos à saúde
mental das mulheres quando dependentes da moda”, analisa Hebe. “O melhor padrão a
ser introduzido em termos de moda por uma mulher em seu dia a dia é sua moda
própria. Utilizar roupas do guarda-roupa criando novas possibilidades, se
conhecer e perceber o que lhe cai bem e que promove bem-estar, sem cair no
buraco do consumismo automático”, pontua a professora de Psicologia.
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