Segundo o advogado
especialista em direito internacional, Emanuel Pessoa, o problema sofre uma
autoalimentação contínua pois investidores que aceitam a corrupção como
parte das regras do jogo têm um incentivo a aportar seus recursos em território
nacional
Ao perder dois pontos, o Brasil recuou 10 (dez)
posições no Índice de Percepção de Corrupção da Transparência Internacional,
ficando na 104ª colocação, atrás de Cuba, Etiópia e empatado com a Ucrânia. É a
primeira vez que o país cai no ranking desde 2018. Em uma escala de 0 a 100, o
Brasil registrou 36 pontos, abaixo da média global, de 43 pontos, e da média
entre os países da OCDE, 66 pontos.
Houve uma forte reação do Governo e do Judiciário
contra o ranking e as motivações da Transparência Internacional, com alegações
de que as metodologias utilizadas deveriam ser vistas com ressalvas e com ordem
de investigação formal de uma antiga suposição de que a Transparência
Internacional iria gerir parte dos recursos obtidos com as multas e acordos de
leniência no âmbito da Operação Lava-Jato, não obstante isto tenha sido negado
no passado, inclusive com prova documental.
Mas para Emanuel, independentemente da reação, o
fato é que a percepção de corrupção altera fortemente o perfil dos investidores
estrangeiros. “Há estudos que comprovam que países que possuem leis que punem a
corrupção de suas empresas no exterior, como os Estados Unidos (FCPA) e o Reino
Unido (Anti-Bribery Act), ou aqueles que são signatários e tornaram efetivas a
Convenção da OCDE sobre o Combate ao Suborno de Servidores Públicos Estrangeiros
em Transações de Negócios Internacionais, reduziram, ao longo do tempo, em
termos relativos, os investimentos em países cuja percepção de corrupção local
é alta”.
“O problema, portanto, sofre uma autoalimentação
contínua – enquanto a percepção de corrupção for alta, em contrapartida,
investidores que aceitam a corrupção como parte das regras do jogo e não temem
ser punidos em seus países de origem têm um incentivo a aportar seus recursos e
manter a roda da corrupção girando”, completa o especialista.
Imagem brasileira no exterior,
como mudar?
É necessária uma atuação dupla para reduzir a
percepção de corrupção no Brasil. “A primeira delas, depende das Cortes, já os
processos penais no Brasil são longuíssimos, com uma vasta gama recursal e os
praticantes de delito somente podem ser considerados culpados após o fim de uma
via
crucis judicial para o aparato do Ministério Público. Um corrupto
que tenha reservado para si recursos para bancar bons advogados é capaz de
alongar um processo por muitos anos, cavando uma prescrição e se beneficiando
de um garantismo excessivo que não se compatibiliza com a necessidade social de
punir os criminosos”, acredita Emanuel.
A segunda, elenca o advogado, diz respeito a uma
melhoria substancial no compliance das empresas, que passa pela adoção de
medidas concretas de prevenção à corrupção e punição administrativa dos
colaboradores e sócios envolvidos em atos indevidos. “A existência de um
programa de integridade, com treinamentos e qualificações adequadas, além de
servir para reduzir eventuais multas, conforme previsto na legislação, tem um
efeito pedagógico muito relevante quando se consideram a rotatividade de
colaboradores e a imposição de regras de flow-down, que é quando uma determinada
empresa exige que aquelas outras que ela subcontrate também estabeleçam regras
de compliance. Combater a corrupção, portanto, é um imperativo moral e uma
necessidade econômica”, conclui.
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