O papel da inteligência artificial na tecnologia está cada vez mais forte e seu crescimento tem se tornado um caminho sem volta tanto para o mundo corporativo quanto para a sociedade como um todo. Segundo uma pesquisa da Bain & Company, lançada em julho, implementar soluções de IA será prioridade para 85% das empresas em nível global – com uma previsão de que, até 2032, esse segmento passe a valer R$ 1,3 trilhão, conforme apontou a Bloomberg, em junho. Por um lado, esse ganho de escala é um acelerador para diversos fatores tecnológicos, mas, por outro, gera questionamentos sobre quais podem ser os impactos sustentáveis – positivos e negativos – da expansão dessas ferramentas.
Nesse sentido, é possível refletir por meio de duas
vertentes principais. A primeira é sobre as consequências que a infraestrutura
que suporta o sistema de IA pode trazer ao meio ambiente – conceito denominado
“Sustainability of AI”, pelo Gartner, neste ano. A segunda é sobre o quanto
essa tecnologia pode fomentar a sustentabilidade em diferentes segmentos e
aplicações – ou, então, “AI for Sustainability”, conforme apontou a instituição.
Sustainability of AI
O volume e a quantidade dos dados aumentaram nos
últimos anos. Atualmente, 80% dos domicílios brasileiros possuem acesso à
internet, de acordo com o levantamento TIC Domicílios 2022, feito pelo Núcleo
de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br). Isso tem gerado impactos
diretos na sustentabilidade – tendo em vista o maior uso de energia, o aumento
das emissões e o uso de recursos naturais para resfriamento da infraestrutura
de TI. Com inteligência artificial, isso não é diferente.
Assim como para o setor de tecnologia como um todo,
a aplicação de inteligência artificial precisará de esforços, investimentos e
desenvolvimento para que sua evolução seja acompanhada de sustentabilidade. O
aumento das discussões sobre o tema tende a chamar atenção das empresas sobre
essa questão para que possam enxergar ganhos de negócios, imagem e
credibilidade na criação de um sistema que não cause problemas para o meio
ambiente. Tendo em vista que o avanço da IA foi extremamente rápido neste
ano, é natural que os fatores que envolvem este mercado passem a se ajustar com
o decorrer do tempo, principalmente, diante de um assunto tão importante quanto
a preservação sustentável.
AI for Sustainability
Diante do enorme potencial da
inteligência artificial, não é difícil considerá-la como um impulsionador dos
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecidos pela Organização
das Nações Unidas (ONU). Tornando-se cada vez mais um fator crucial na
tecnologia, a ferramenta de IA pode ser um apoio para que diversos setores
sejam mais sustentáveis – seja no campo de emissões, desperdícios ou, até
mesmo, na otimização.
A IA pode melhorar, por
exemplo, o monitoramento das mudanças climáticas. Por mais que o cenário não
seja o mais favorável – segundo a ONU, em uma previsão feita em maio, o mundo
terá um calor recorde até 2027 – é extremamente importante manter a atenção e
assertividade nas análises. Nesse caso, a inteligência artificial pode atuar
como uma visão computacional que pode checar questões como aquecimento global,
derretimento do gelo ou branqueamento de corais. É possível processar os dados
coletados por meio de ferramentas de IA para elaborar insights de longo prazo.
No mundo corporativo, isso tende a favorecer diversos setores, como
agricultura, óleo & gás e energia.
Outro ponto que pode se tornar
mais sustentável com o uso da inteligência artificial é a reciclagem de
resíduos. De acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública
e Resíduos Especiais (Abrelpe), o índice de reciclagem no Brasil é de apenas
4%, sendo que o País produz cerca de 27,7 milhões de toneladas anuais. Para
melhorar esse cenário, a IA tem sido considerada uma ótima alternativa para a
triagem desses materiais, dimensionando operações e fazendo análises
prescritivas para mapear essas movimentações.
Com base nessas diversas
possibilidades, é crescente a viabilidade não só de tornar a IA mais
sustentável, mas também utilizá-la como ferramenta para o fomento da
preservação do meio ambiente. Temos que aproveitar as portas que essa
tecnologia tem aberto para trazer mais luz à questão ambiental e ao papel da
inovação nesse desenvolvimento. Sistemas modernos, eficazes e inteligentes são
a chave para um futuro melhor nos negócios e na vida em sociedade.
Roberta Cipoloni
Tiso - diretora de sustentabilidade e comunicação na green4T e coordenadora do
Grupo de Sustentabilidade da International Association of Public Transport
(UITP) América Latina.
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