Instalações
médicas são atingidas e mais de 200 mil estão deslocados, maioria com casas
destruídas
Leia a seguir depoimento de Léo Cans, coordenador
de Projeto de MSF na Palestina
A situação em Gaza é
catastrófica. Os
hospitais estão sobrecarregados. O número de feridos é extremamente alto -
há um fluxo constante em todos os hospitais da Faixa de Gaza. As equipes
médicas estão exaustas, trabalhando sem parar para tratar os feridos.
Os bombardeios são muito
intensos. Prédios inteiros estão sendo destruídos, incluindo
um, na noite passada, bem próximo ao escritório de Médicos Sem Fronteiras
(MSF). Às vezes, as pessoas recebem uma mensagem de texto no meio da noite
dizendo para evacuarem suas casas, como aconteceu com alguns dos membros da
nossa equipe em Gaza. Você tem de acordar seus filhos no meio da noite e sair
de casa, sem levar nenhum de seus pertences, para chegar a um lugar seguro.
Mas, muitas vezes, as pessoas não sabem para onde ir. Elas se encontram do lado
de fora, no meio da noite, sob uma chuva de bombas. Onde elas podem encontrar
segurança?
As estimativas mais recentes são de que haja cerca
de 200 mil pessoas deslocadas, principalmente pessoas que receberam essas
mensagens e cujas casas foram destruídas. Elas precisam de tudo: água, um lugar
para tomar banho, comida, um colchão para dormir... em resumo, são necessidades
variadas, mas básicas.
Agora, o governo israelense decidiu cortar
completamente o fornecimento de água e eletricidade, e a rede telefônica foi
muito danificada. Nesta manhã (10/10), não conseguimos entrar em contato com
nossas equipes em Gaza por telefone. Tudo isso torna extremamente difícil a
coordenação das operações de resgate e o acesso aos feridos.
Hoje, em Gaza, as pessoas estão aterrorizadas. Falo
regularmente com nossos colegas de lá. Eles são pessoas muito fortes porque,
infelizmente, já passaram por muitas guerras, mas a situação atual está lhes
causando extrema ansiedade. Eles dizem que desta vez é diferente: eles não veem
uma saída e se perguntam como tudo isso vai acabar. Eles estão enfrentando um
terrível sofrimento mental. Não há palavras para descrever o que as pessoas
estão passando.
Quanto a MSF, estamos muito preocupados em ver que
as instalações médicas não foram poupadas. Um dos hospitais que apoiamos foi
atingido por um ataque aéreo e ficou danificado. Outro ataque aéreo destruiu
uma ambulância que transportava os feridos, bem em frente ao hospital onde
trabalhamos. A equipe de MSF, que estava operando um paciente, teve que deixar
o hospital às pressas. Repetimos: as instalações médicas devem ser
respeitadas. Isso não é algo que deva ser negociado.
Atualmente, MSF está doando medicamentos essenciais
e equipamentos médicos para os principais hospitais da Faixa de Gaza. Também
enviamos equipes cirúrgicas a dois hospitais para ajudar a tratar os feridos.
Nos próximos dias, também haverá muitas cirurgias pós-operatórias a serem
realizadas, já que a maioria dos feridos que recebemos precisará de várias
intervenções cirúrgicas antes de serem salvos. Nesta segunda-feira (09/10),
também montamos uma clínica no centro da cidade de Gaza para pessoas com outros
ferimentos, que tentaremos manter aberta se as condições permitirem.
Na segunda de manhã, recebemos um menino de 13 anos
cujo corpo estava quase completamente queimado depois que uma bomba caiu bem
perto de sua casa, iniciando um incêndio. Esses são casos muito complicados de
tratar nessas condições e, quando há crianças envolvidas, é muito difícil de
suportar.
A intensidade da violência e dos bombardeios é
chocante, assim como o número de mortos. A declaração de guerra não deve, em hipótese
alguma, levar à punição coletiva da população de Gaza. Cortar o
fornecimento de água, eletricidade e combustível é inaceitável, pois pune toda
a população e a priva de suas necessidades básicas.
Léo Cans - coordenador de projeto de MSF na Palestina, atualmente baseado em
Jerusalém.
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