A maternidade é para muitos a expressão mais
sagrada e sublime do feminino. Não há dúvida de que as mulheres evoluíram e
conquistaram novos papeis na sociedade, no trabalho e em vários outros campos.
Em meio a essa avalanche de mudanças nos últimos 50 anos, a maternidade também
evoluiu diante não só das mudanças socioeconômicas e culturais, mas também
frente aos avanços da ciência, especialmente da medicina reprodutiva. Dados de
pesquisas europeias e brasileiras revelam que muitas mulheres jovens não
consideram a maternidade uma prioridade. Em maio, mês dedicado às mães, muitas
mulheres são chamadas a refletir sobre o tema.
Os avanços científicos e tecnológicos no campo da
medicina reprodutiva deram às mulheres novas perspectivas, pois além de poder
controlar seu ciclo reprodutivo com o uso dos modernos contraceptivos,
permitiram escolher ou não a maternidade, o número de filhos e quando tê-los.
As técnicas de reprodução assistida (TRA) abriram inúmeras oportunidades para a
formação de novas famílias. Mulheres com os mais variados problemas, além da
infertilidade, podem receber tratamentos sofisticados que permitem, por
exemplo, que aquelas sem útero, casais homoafetivos femininos e masculinos ou
aquelas que entraram na menopausa precocemente engravidem e tenham filhos
saudáveis.
É provável que Patrick Steptoe e Robert Edwards,
responsáveis pelo nascimento do primeiro “bebê de proveta” em 1978, na
Inglaterra, não tivessem noção da revolução social e cultural que as TRA
trariam. O leque de possiblidades é amplo para quem quer engravidar e construir
uma família. A partir da fertilização in vitro (FIV), outras técnicas trouxeram
a chance da maternidade para milhares de mulheres em todo o mundo. Dados
publicados
pelo HFEA (Human Fertilization and Embryology
Authority), órgão britânico responsável pela fiscalização e controle da TRA
mostram que, embora as pessoas em relacionamentos heterossexuais (90%) ainda
sejam a maioria de usuários de TRA, o número de casais homoafetivos femininos
(6,4 %) e pessoas solteiras (3,2%) vêm aumentando.
A doação de óvulos oferece uma chance para mulheres
que entraram na menopausa precocemente (antes dos 40 anos) ou para aquelas que
apresentam comprometimento da quantidade e/ou qualidade dos seus óvulos. A
redução da fertilidade com o avançar da idade é o resultado da perda da
quantidade e qualidade dos óvulos, que é contínua ao longo da vida. Neste caso,
a mulher (receptora) será submetida um procedimento de FIV, sendo utilizado o
óvulo de uma doadora anônima e que não pode pertencer à família da receptora.
Os embriões obtidos são transferidos de volta para o útero da receptora,
previamente preparado com hormônios.
O Conselho Federal de Medicina (CFM) mantém a
determinação de anonimato entre doador e receptor, mas considera “abrir exceção
à doação de gametas ou embriões por parente de um dos parceiros de até quarto
grau, desde que não incorra em consanguinidade”.
O útero de substituição (“útero solidário ou
“barriga de aluguel”) surge como alternativa para casos de má-formação uterina,
para aquelas mulheres que perderam seu útero por alguma doença ou em casos onde
haja contraindicação para a gestação. O procedimento é regulamentado pelo CFM
que estabelece que para a cessão temporária de útero a cedente deve ter pelo
menos um filho e ser parente consanguíneo de até quarto grau de um dos
parceiros.
Para as indecisas ou aquelas que ainda estão
focadas nos estudos e na carreira, o congelamento de óvulos é a opção e,
preferencialmente, deve ser feito até os 35 anos para obtenção dos melhores
resultados. O procedimento
envolve o uso de medicação para estimulação dos
ovários, acompanhamento com ultrassonografia e, finalmente, a coleta e
congelamento dos óvulos. Não há um consenso sobre quantos óvulos devem ser
congelados, mas acredita-se que entre 10 e 15 seria o número adequado para
permitir uma chance de sucesso de gravidez, em até 70%, em mulheres com até 35
anos. O congelamento de óvulos também pode ser usado para preservar a
fertilidade de mulheres que vão precisar passar por tratamentos oncológicos.
A maternidade solo é uma opção que vem atraindo
cada vez mais mulheres segundo dados do HFEA. Neste caso, é preciso lançar mão
de sêmen de doador e a gravidez pode ser obtida por meio da FIV ou da
inseminação intrauterina dependendo da avaliação médica da mulher e engloba a
utilização de bancos de sêmen nacionais ou internacionais, sendo a seleção do
doador feita pela mulher. A procura por esse tipo de tratamento vem aumentando
no Brasil.
Segundo o poeta Carlos Drummond de Andrade, “Mãe
não tem limite, é tempo sem hora, luz que não apaga”. É fato que os avanços da
medicina reprodutiva aumentaram sobremaneira as possibilidades de maternidade,
vencendo doenças, malformações, o câncer e até as mudanças sociais e culturais.
A janela de tempo disponível para as mulheres engravidarem, entretanto, é
limitada. Dessa forma, a maternidade, caso desejada, deve ser discutida e
planejada de modo a permitir uma gestação sem complicações e o nascimento de
crianças saudáveis.
Cada mulher é única e deve ter o direto de receber
informações embasadas no melhor conhecimento científico disponível para tomar
decisões, inclusive sobre a maternidade.
Márcia Mendonça Carneiro - Diretora científica Clínica Origen BH, professora Titular do
Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da UFMG.
Nenhum comentário:
Postar um comentário