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sexta-feira, 12 de maio de 2023

Todas as formas de maternidade


A maternidade é para muitos a expressão mais sagrada e sublime do feminino. Não há dúvida de que as mulheres evoluíram e conquistaram novos papeis na sociedade, no trabalho e em vários outros campos. Em meio a essa avalanche de mudanças nos últimos 50 anos, a maternidade também evoluiu diante não só das mudanças socioeconômicas e culturais, mas também frente aos avanços da ciência, especialmente da medicina reprodutiva. Dados de pesquisas europeias e brasileiras revelam que muitas mulheres jovens não consideram a maternidade uma prioridade. Em maio, mês dedicado às mães, muitas mulheres são chamadas a refletir sobre o tema.

Os avanços científicos e tecnológicos no campo da medicina reprodutiva deram às mulheres novas perspectivas, pois além de poder controlar seu ciclo reprodutivo com o uso dos modernos contraceptivos, permitiram escolher ou não a maternidade, o número de filhos e quando tê-los. As técnicas de reprodução assistida (TRA) abriram inúmeras oportunidades para a formação de novas famílias. Mulheres com os mais variados problemas, além da infertilidade, podem receber tratamentos sofisticados que permitem, por exemplo, que aquelas sem útero, casais homoafetivos femininos e masculinos ou aquelas que entraram na menopausa precocemente engravidem e tenham filhos saudáveis.

É provável que Patrick Steptoe e Robert Edwards, responsáveis pelo nascimento do primeiro “bebê de proveta” em 1978, na Inglaterra, não tivessem noção da revolução social e cultural que as TRA trariam. O leque de possiblidades é amplo para quem quer engravidar e construir uma família. A partir da fertilização in vitro (FIV), outras técnicas trouxeram a chance da maternidade para milhares de mulheres em todo o mundo. Dados publicados

pelo HFEA (Human Fertilization and Embryology Authority), órgão britânico responsável pela fiscalização e controle da TRA mostram que, embora as pessoas em relacionamentos heterossexuais (90%) ainda sejam a maioria de usuários de TRA, o número de casais homoafetivos femininos (6,4 %) e pessoas solteiras (3,2%) vêm aumentando.

A doação de óvulos oferece uma chance para mulheres que entraram na menopausa precocemente (antes dos 40 anos) ou para aquelas que apresentam comprometimento da quantidade e/ou qualidade dos seus óvulos. A redução da fertilidade com o avançar da idade é o resultado da perda da quantidade e qualidade dos óvulos, que é contínua ao longo da vida. Neste caso, a mulher (receptora) será submetida um procedimento de FIV, sendo utilizado o óvulo de uma doadora anônima e que não pode pertencer à família da receptora. Os embriões obtidos são transferidos de volta para o útero da receptora, previamente preparado com hormônios.

O Conselho Federal de Medicina (CFM) mantém a determinação de anonimato entre doador e receptor, mas considera “abrir exceção à doação de gametas ou embriões por parente de um dos parceiros de até quarto grau, desde que não incorra em consanguinidade”.

O útero de substituição (“útero solidário ou “barriga de aluguel”) surge como alternativa para casos de má-formação uterina, para aquelas mulheres que perderam seu útero por alguma doença ou em casos onde haja contraindicação para a gestação. O procedimento é regulamentado pelo CFM que estabelece que para a cessão temporária de útero a cedente deve ter pelo menos um filho e ser parente consanguíneo de até quarto grau de um dos parceiros.

Para as indecisas ou aquelas que ainda estão focadas nos estudos e na carreira, o congelamento de óvulos é a opção e, preferencialmente, deve ser feito até os 35 anos para obtenção dos melhores resultados. O procedimento

envolve o uso de medicação para estimulação dos ovários, acompanhamento com ultrassonografia e, finalmente, a coleta e congelamento dos óvulos. Não há um consenso sobre quantos óvulos devem ser congelados, mas acredita-se que entre 10 e 15 seria o número adequado para permitir uma chance de sucesso de gravidez, em até 70%, em mulheres com até 35 anos. O congelamento de óvulos também pode ser usado para preservar a fertilidade de mulheres que vão precisar passar por tratamentos oncológicos.

A maternidade solo é uma opção que vem atraindo cada vez mais mulheres segundo dados do HFEA. Neste caso, é preciso lançar mão de sêmen de doador e a gravidez pode ser obtida por meio da FIV ou da inseminação intrauterina dependendo da avaliação médica da mulher e engloba a utilização de bancos de sêmen nacionais ou internacionais, sendo a seleção do doador feita pela mulher. A procura por esse tipo de tratamento vem aumentando no Brasil.

Segundo o poeta Carlos Drummond de Andrade, “Mãe não tem limite, é tempo sem hora, luz que não apaga”. É fato que os avanços da medicina reprodutiva aumentaram sobremaneira as possibilidades de maternidade, vencendo doenças, malformações, o câncer e até as mudanças sociais e culturais. A janela de tempo disponível para as mulheres engravidarem, entretanto, é limitada. Dessa forma, a maternidade, caso desejada, deve ser discutida e planejada de modo a permitir uma gestação sem complicações e o nascimento de crianças saudáveis.

Cada mulher é única e deve ter o direto de receber informações embasadas no melhor conhecimento científico disponível para tomar decisões, inclusive sobre a maternidade.

 

Márcia Mendonça Carneiro - Diretora científica Clínica Origen BH, professora Titular do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da UFMG.


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