O alerta é estratégico porque as taxas de imunização vêm caindo em todo o mundo de forma acentuada. Para ampliar o acesso à vacina, facilitar a logística de imunização e melhorar a cobertura vacinal, a Organização Mundial da Saúde acaba de recomendar esquema alternativo com dose única da vacina.
No
mês da Conscientização e Combate ao
Câncer de Colo de Útero, celebrado em março, especialistas reforçam a
importância dos métodos de prevenção deste tipo de tumor: o sexo seguro e a
vacinação contra o papilomavírus humano. Conhecido por HPV, o vírus tem transmissão sexual e
provoca mais de 95% dos casos de câncer uterino. “O microrganismo induz
a mutações das células no colo uterino, fazendo com que cresçam de forma
desordenada”, explica o médico Pedro Henrique Souza, da Oncologia D’Or.
Apesar da importância da proteção por vacina, as taxas de imunização
vêm caindo em todo o mundo. De 2019 a 2021, a cobertura vacinal da primeira
dose caiu 25% para 15%. Para reverter o quadro, a Organização Mundial da Saúde
(OMS)1 recomendou recentemente a administração da vacina em dose
única, como um esquema alternativo, para
meninas, adolescentes e jovens entre 9 e 20 anos. A OMS se baseia em evidências
surgidas nos últimos anos, mostrando que este esquema tem eficácia comparável
aos regimes de duas ou três doses.
No Brasil, a vacina2 é administrada na rede pública em
duas doses para meninos e meninas entre 9 e 14 anos, com intervalo de seis
meses. Para adolescentes, maiores de 15 anos, que não foram previamente
imunizados, o calendário vacinal prevê três doses. O Programa Nacional de
Imunização (PNI) oferece ainda vacinação para homens e mulheres até 46 anos,
que convivem com o HIV, realizaram transplantes ou estão em tratamento contra o
câncer. A vacina está disponível na rede privada de imunização para pessoas
entre 9 e 59 anos, a critério médico.
“A recomendação da OMS é excelente porque vai ampliar o acesso à vacina, simplificar o esquema vacinal e melhorar a cobertura vacinal”, afirma o médico Pedro Henrique Souza. “É possível que outros tumores relacionados ao HPV, como o de pênis, orofaringe e vulva, também se beneficiem com esta nova estratégia de vacinação”, complementa o médico Eduardo Paulino, da Oncologia D’Or.
A vacina contra o HPV é uma das armas contra o câncer de colo de útero |
O câncer de colo uterino é o quarto mais frequente em mulheres, ficando atrás apenas dos cânceres de pele, mama e intestino. O Instituto Nacional do Câncer (Inca)3 estima que em 2023 sejam diagnosticados 17.010 casos. “Infelizmente a maioria dos tumores no Brasil são diagnosticados com a doença localmente avançada”, explica o médico Eduardo Paulino.
O HPV
Composto por mais de 200 subtipos, o HPV
divide-se em grupos de baixo e alto risco. Os subtipos de baixo risco não
provocam câncer, mas podem causar verrugas nos órgãos genitais, ânus, boca e
garganta. Dos 14 subtipos de alto risco, dois deles -- 16 e 18 -- respondem por
sete a cada dez casos de câncer associados a esse vírus.
A infecção por HPV é muito comum, mas a maioria é
combatida pelo sistema imunológico. “Apenas em um pequeno porcentual de
pessoas, o HPV de alto risco persiste por muitos anos no organismo, levando a
alterações celulares, que resultam em câncer, em especial no colo uterino,
vulva, ânus, pênis e boca, principalmente língua e orofaringe”, explica o
oncologista Cláudio Calazan, da Oncologia D’Or. A contaminação pode ser evitada pela vacinação e pelo sexo
seguro. O Ministério da Saúde4 recomenda a realização regular do
exame Papanicolau em mulheres entre 25 e 64 anos.
A doença e o tratamento
Os sintomas mais comuns do câncer do colo uterino são sangramento
e dor durante relação sexual, sendo frequentemente assintomático nos casos
iniciais. Nos casos detectados muito precocemente, o tratamento consiste em
cirurgia, com a retirada somente do colo uterino. Segundo o oncologista Cláudio Calazan, na maioria dos casos é
necessária a remoção do útero e do colo. Em
quadros mais avançados, mas com o tumor ainda localizado no útero e tecidos
vizinhos, recomenda-se a radioterapia e a quimioterapia. Na doença com
metástase, é realizada a quimioterapia.
Em 2022, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou dois novos imunoterápicos para o câncer uterino. Pembrolizumabe é recomendado para casos de metástase ou recidiva, após cirurgia, quimioterapia e radioterapia. O tratamento é associado à quimioterapia. Cemiplimabe é indicado para mulheres com câncer metastático que avançou, após tratamento com quimioterapia. “Esses medicamentos abrem novas perspectivas, oferecendo maior controle da doença quando associados à quimioterapia”, concluiu o médico Pedro Henrique Souza.
Referências
1. Organização Mundial da Saúde. Disponível em Link
2. Ministério da Saúde. Disponível em Link
3. Instituto Nacional do Câncer (Inca). Disponível em Link
4. Ministério da Saúde. Disponível aqui
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