O dia 9 de marco de 2023 é o Dia Mundial da Saúde do Rim. Uma em cada dez pessoas terá algum tipo de problema relacionado à saúde dos rins, seja cálculo renal (popularmente chamado de pedra no rim), mal funcionamento dos rins (doença renal crônica) ou até mesmo câncer do rim. Essa data foi idealizada pela Sociedade Internacional de Nefrologia, com o objetivo de conscientizar a população como um todo sobre eventuais doenças que acometem o órgão. A campanha tem o escopo principal na prevenção e diagnóstico precoce da doença renal crônica (insuficiência renal), condição frequente em pacientes que acumulam comorbidades como hipertensão arterial e diabetes mellitus, e que pode culminar na necessidade de hemodiálise.
Os tumores do rim também fazem parte das doenças do
rim, e merecem uma parcela de atenção. O câncer primário do rim
é relativamente raro; corresponde a aproximadamente 5% de todos os tumores
sólidos no adulto. Ele acomete duas vezes mais os homens do que as mulheres,
numa faixa etária que varia entre 50 e 70 anos. Infelizmente, o Instituto
Nacional do Câncer (INCA) não dispõe de estatísticas brasileiras sobre câncer
de rim. Por se tratar de um câncer não tão frequente, não existem políticas de
rastreamento instituídas no Brasil.
Os tumores malignos do rim quase sempre não têm
correlação com genética. Existem síndromes hereditárias raras que podem
desenvolver diversos tipos de câncer, entre eles os do rim; a mais conhecida é
a síndrome de Von Hippel Lindau. No que tange aos sintomas, o câncer de rim é
comumente assintomático. Nestes casos, o diagnóstico é feito incidentalmente
após a realização de exames de ultrassom ou tomografia do abdome por motivos
outros e diversos. Uma pequena parcela (aproximadamente 10%) dos pacientes vai
apresentar sintomas, o que denota um quadro mais avançado. Entre eles estão sangramento
urinário, dor abdominal, perda de peso, e até mesmo o aumento do volume renal
configurando uma massa (tumoração) que pode ser palpada no abdome. O tipo mais
comum de câncer do rim é o carcinoma de células claras, que leva esse nome
pelas características das células cancerígenas quando vistas ao microscópio.
Para os tumores restritos ao rim, o tratamento de
escolha é cirurgia de retirada órgão acometido (nefrectomia), que pode ser
parcial ou total. A cirurgia tem papel majoritário na cura do câncer do
rim. Após a nefrectomia, faz-se necessário o monitoramento da função
renal junto ao nefrologista (profissional especialista no funcionamento dos
rins). Para alguns casos, é necessário discutir a realização de tratamentos
medicamentosos complementares com imunoterapia.
O tratamento medicamentoso tem maior relevância para o cenário avançado do câncer de rim, quando existem metástases. Os últimos anos foram ricos em avanços na oncologia, com a consolidação da imunoterapia e de terapias-alvos orais (inibidores de tirosina quinase - TKI), que outrora revolucionaram a história do câncer renal avançado. Hoje, esses tratamentos já são realidade no Brasil. Na saúde privada, a imunoterapia (combinada ou isolada) já faz parte do arsenal terapêutico para o câncer do rim, assim como os as terapias-alvos orais. No SUS, a imunoterapia ainda é um desfalque importante o tratamento do câncer de rim.
Higor Mantovani - oncologista - Especialista
em Oncologia Clínica pela Unicamp e em Clínica Médica pela Faculdade de
Medicina de Jundiaí (FMJ). Mestre em Oncologia pela Faculdade de Ciências
Médicas (FCM) da Unicamp e membro do corpo de oncologistas clínicos do Grupo
SOnHe.
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