A revolução digital também tem provocado
transformações nesse mercado
O cenário com a tendência de
forte transformação no mercado de trabalho até 2025, dentro do contexto da
revolução digital, acelerado pela pandemia de Sars-Covid19, foi uma das
evidências demonstradas no relatório publicado pelo Fórum Econômico Mundial “The Future of Jobs – 2020". Entre
os dados apontados, 43% dos negócios planejam diminuir sua força de trabalho
por meio da integração tecnológica e, até 2025, o tempo gasto para executar as
tarefas será igualmente distribuído entre trabalhadores humanos e máquinas.
Segundo o relatório, há uma estimativa de até 85 milhões de empregos no mundo
serem impactados por uma mudança na divisão de trabalho entre humanos, algoritmos
e máquinas e, por outro lado, a criação de 97 milhões de novos empregos em
papéis mais adaptados a esta nova divisão de trabalho. No entanto, os novos
empregos que estão sendo criados demandam dos trabalhadores novas habilidades
como análise de dados, pensamento crítico, habilidades para resolução de
problemas, autogestão, aprendizagem ativa e criatividade.
A utilização de algoritmos e robôs, por exemplo, expõem a sociedade atual a um
risco imediato de aumento na automação de tarefas e destruição de empregos,
devendo haver, portanto, políticas que garantam investimentos em capital
humano, que desenvolvam rapidamente as capacidades complementares ao uso de
robôs e inteligência artificial, tanto no sentido de formar capacidades em
áreas em que a automação não alcança, como também as capacidades de concatenar
a colaboração entre pessoas e máquinas ou software para a execução de
trabalhos. O pré-requisito chave para a formação destas capacidades é a
educação, tanto antes da entrada do trabalhador no mercado de trabalho, quanto
ao longo de toda sua vida profissional.
De acordo com o relatório da Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da
Informação e Comunicação, o déficit de profissionais na área pode chegar, no
Brasil, a 260 mil vagas em aberto, até 2024, evidenciando que a capacitação das
pessoas não está ocorrendo na velocidade e quantidade suficientes para suprir
as necessidades dos negócios. Por outro lado, a taxa atual de desemprego no
País está em 12,9 milhões de pessoas. Mesmo com investimentos massivos, com a
estrutura atual, não há como reverter rapidamente este quadro que compromete
tanto o emprego e renda quanto a competitividade das empresas ao não
conseguirem ser atendidas em suas novas necessidades.
Nesse contexto, a educação deve se transformar profundamente refletindo as
exigências modernas de adaptabilidade e flexibilidade. As políticas públicas
devem garantir que a qualidade da educação seja medida e ajustada na direção da
alta qualidade e criar oportunidades para as pessoas e as empresas agirem
ativamente na obtenção de treinamentos e novas habilidades.
Um cenário bem positivo que a revolução digital torna factível seria o governo,
em cocriação com empresas e trabalhadores, construir ferramentas que tragam
previsibilidade de tendências de surgimento de novas ocupações emergentes e
quais habilidades são requeridas, possibilitando a adaptação de todos os atores
às novas necessidades no timing correto.
Políticas no sentido de estimular as empresas a formarem (aprender a fazer) profissionais
para preencherem suas próprias necessidades também fazem sentido, uma vez que
podem trazer mais eficiência ao sistema educacional, com formações e conteúdos
mais específicos e adaptados às práticas dos negócios, complementando o sistema
educacional geral com sua missão formativa básica, educação para a cidadania,
sustentabilidade e o mais importante, aprender a aprender.
Melhorar o capital humano e as habilidades dos trabalhadores também é uma
condição necessária, mas não suficiente, para a criação e manutenção de
empregos abundantes e de alta qualidade. Para evitar que a revolução digital
gere desemprego ou torne as carreiras instáveis e fadadas à baixa remuneração,
é fundamental combater a disfuncionalidade e ineficiência do mercado de trabalho.
As políticas públicas devem estar direcionadas a remover as barreiras à geração
de empregos e investimento, apoiar inovação e crescimento, aumentar a segurança
jurídica nas relações trabalhistas, promovendo o equilíbrio entre a
flexibilidade do mercado de trabalho e a segurança do emprego para os
trabalhadores, além de simplificar e melhorar as regulamentações trabalhistas
de modo a torná-las mais simples e eficientes.
Um outro aspecto diz respeito a facilitar a criação e financiamento de
startups, estimulando a abertura de novos negócios, oportunizados pela
revolução digital, além de organizar e estimular a formação de ecossistemas de
empresas que podem atuar em rede, ampliando seu alcance no mercado com
capacidades complementares, aproveitando as novas oportunidades criadas como
consequência à revolução digital.
Cadu
Pereira é head de Inovação para a vertical de Governo da Stefanini Brasil
Marcello Caldas Bressan é head
de Inovação para Futuros e Novas Abordagens da Stefanini Brasil
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