Segundo oncologista Rafael Luís, do Grupo SOnHe, nenhum dos estudos já publicados incluiu pacientes com câncer, portanto, a segurança não é comprovada e é necessário orientação expressa do médico
86 milhões de casos e mais de 1.800.000 mortes no mundo. 8 milhões de casos e mais de 200.000 mortes no Brasil.Enquanto a pandemia de COVID-19 se alastra como nunca antes, o mundo urge por uma solução. E essa solução tem nome: vacinação. E os pacientes com câncer – em maior risco de desenvolver a COVID-19 – também precisam desta proteção. Mas a vacinação para estas pessoas será possível? “A decisão de tomar a vacina deve ser compartilhada com o médico que acompanha o paciente, com as ressalvas que, em geral, pacientes imunocomprometidos têm menos resposta imune às vacinas, que podem ter, então, uma menor eficácia nessa população. Não só isso, nenhum dos estudos já publicados incluiu pacientes com câncer, portanto, a segurança não é comprovada. Entretanto, como temos experiência com outras vacinas mais antigas, a segurança daquelas desenvolvidas para COVID-19 não deve diferir muito para os pacientes oncológicos”, explica o oncologista Rafael Luís, do Grupo SOnHe – Sasse Oncologia e Hematologia.
De acordo com o oncologista, as sociedades internacionais americana e europeia de oncologia e a maioria dos especialistas defendem a vacinação dos pacientes com câncer tratado ou mesmo ativo em tratamento. “Importante ressaltar que vacinas de vírus atenuados não devem ser dadas às pessoas em tratamento. Nesse caso, como não temos vacinas deste tipo para COVID-19 em fases avançadas, não nos preocupemos com isso nesse momento. Vale ressaltar alguns esclarecimentos de fakenewsque circulam por aí: vacinas não causam câncer, não modificam o DNA de quem as recebe e não, não têm chips embutidos para controlar a todos. Fato é que vacinas salvam vidas e, portanto, o movimento antivacina é criminoso”, afirma.
“Até o momento, há por volta de 150 vacinas em teste, sendo que 40 estão nas fases avançadas em humanos e apenas três têm publicações em revistas científicas. Isso é um histórico extremamente importante passo da ciência mundial: em menos de seis meses, foram desenvolvidas vacinas, as quais começaram a ser aplicadas em pessoas em menos de um ano da declaração da pandemia pela Organização Mundial da Saúde. Algo nunca antes visto (ou imaginado)”, conta Rafael.
As três vacinas com resultados publicados e já aprovadas em países do ocidente são: Pfizer/BioNTech, Moderna e Oxford/AstraZeneca. Todas as três mostraram eficácias altas com uso de duas doses. As duas primeiras usam a tecnologia do RNA mensageiro, algo novo, mas muito eficaz e seguro, ao menos em curto prazo. Além disso, seus estudos incluíram mais de 30.000 pessoas. A última, de Oxford, é baseada em um vetor viral e, apesar de ter um estudo mostrando sua eficácia entre 60 e 90%,, o mesmo teve algumas questões ainda questionadas pelos cientistas, o que, porém, não a tira da lista de opções para uso emergencial.
Nos dias 7 e 12 de janeiro de 2021, foram apresentados os dados de fase III da Coronavac, vacina feita pelo Instituto Butantan em parceria com a Sinovac. O estudo foi conduzido no Brasil com mais de 12.000 profissionais de saúde. As taxas de eficácia foram muito satisfatórias (50,4% na população geral,78% para casos leves e 100% para os graves) e correspondem ao limiar mínimo da OMS. Um ponto importante, foi que não houve casos graves nem mortes do grupo que tomou a vacina. Porém, para uma análise mais acurada, os dados ainda têm de ser revelados em publicação em revista científica, visto que os resultados estatísticos ainda não foram detalhados. Apesar disso, é uma vacina eficaz e segura e, portanto, deve ser aprovada para uso emergencial.
“Em
geral, as contraindicações são apenas para pessoas com alergias a algum
componente da fórmula ou, em algumas situações, a outras vacinas. E vale
ressaltar que a análise das vacinas deve (e vai) continuar acontecendo após a
aprovação das mesmas, pois ainda não se sabe a duração da proteção, se
precisamos de um reforço, quais subpopulações podem ou não podem tomar, os
efeitos colaterais em longo prazo e qual é o limiar para atingirmos uma
imunidade de rebanho. É salutar o entendimento de que as vacinas só funcionam
quando dadas em uma porção grande da população (vacinação), ou seja, não servem
como um mecanismo de defesa individual. Por isso, para o sucesso da vacina, os
governos devem usar de uma estratégia que foque na vacinação do maior número de
pessoas, no menor tempo possível, priorizando aqueles que estejam em maior
risco de óbito ou de infecção. Esperemos que consigamos começar a vacinar o
quanto antes e utilizar a nossa expertise com o Programa Nacional de
Imunização, que é (ou era) referência no mundo. Mas até lá, devemos manter as
medidas de distanciamento, máscara e lavagem de mãos. Vacinação, não vacina,
salva vidas (inclusive a sua)”, finaliza o especialista.
Rafael Luís Moura Lima do Carmo - mestre em oncologia pela Unicamp.
Tem graduação e residência em Clínica Médica e Oncologia clínica também pela
Unicamp. Realizou Fellowship no MD Anderson Cancer Center Madrid. É membro da
Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e da Sociedade Europeia de
Oncologia Clínica (ESMO). Rafael faz parte do corpo clínico de oncologistas do
Grupo SOnHe – Sasse Oncologia e Hematologia e atua no Instituto Radium de
Campinas, no Hospital Santa Tereza, Hospital Madre Theodora e Santa Casa de
Valinhos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário