Segundo especialista, falar sobre a saúde mental combate estigmas e promove a busca por informações e tratamentos
O primeiro mês do ano é uma folha em branco, um momento de recomeço e
renovação, e dentro desse contexto, a campanha Janeiro Branco enfatiza a
importância desde já do cuidado com a saúde mental, um aspecto que também
deve estar entre as metas para 2021. Essa é uma medida essencial para cada vez
mais possibilitar a quebra de tabus persistentes que o tema ainda enfrenta.
Para o psiquiatra da Clínica Maia, Fábio Cantinelli, a iniciativa promove uma
maior procura por informações e tratamentos, e fomenta, ainda, a
conscientização e o acolhimento pela sociedade de pessoas que sofrem com alguma
condição psiquiátrica.
"É uma oportunidade de trazer à luz soluções, mudar posturas e conceitos,
e ressaltar novos paradigmas sobre a saúde mental", comenta o
especialista.
Coincidentemente, no último dia 17, o assunto
virou tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que tratou
justamente do "estigma associado às doenças mentais na sociedade
brasileira".
Segundo o artigo "Doença mental e
estigma", da Revista Médica de Minas Gerais, estima-se que 450 milhões de
pessoas no mundo sofrem com transtornos mentais, ou seja, é muita gente
enfrentando continuamente "rótulos" preconceituosos e errôneos, de
que, por exemplo, o quadro é sinônimo de agressividade, incapacidade, fraqueza,
drama.
Além disso, a análise publicada na revista
médica cita que "o estigma é o principal obstáculo para a recuperação e
reabilitação, para melhor assistência psiquiátrica e melhor qualidade de vida
daqueles que sofrem de transtorno mental, de seus familiares, da equipe que
trata e cuida dele e da comunidade em torno do indivíduo. O estigma representa
injustiça social que pode ser tão nefasta quanto a própria doença."
Para Cantinelli, debates de outros temas de relevância, como homofobia, têm
sido frutíferos ao combater preconceitos, e o mesmo deve acontecer em relação
ao estigma dos transtornos mentais.
"Creio que foi um
tema oportuno na prova, que deu a oportunidade de os alunos debaterem uma pauta
significativa enquanto demonstram seu preparo, sua capacidade de argumentação e
atualização. Mais que isso, trazer o tema à tona em um concurso de alcance
nacional também foi uma forma de levar o assunto para debate no país todo,
favorecendo a mudança de conceitos, posturas e, de certa forma, auxiliando os
principais interessados, que são aqueles que sofrem com as doenças
psíquicas", aponta o psiquiatra.
Até porque o preconceito associado à saúde
mental pode até mesmo comprometer a adesão e o sucesso do tratamento de
transtornos mentais.
"Não vivemos mais a época dos manicômios, em que os
doentes psiquiátricos eram segregados da sociedade. Hoje o paciente
psiquiátrico é mais visto como alguém em sofrimento, que precisa de ajuda, de
apoio, de acolhimento, de suporte qualificado e especializado. No entanto,
ainda há uma memória e um receio ligados a épocas antigas, e, por isso mesmo, o
maior estigma, inclusive, pode vir do próprio paciente, da pessoa em sofrimento",
alerta o médico.
Portanto, falar cada vez mais sobre o bem-estar emocional é um modo de evitar
que esse tabu comprometa um tratamento adequado e justo, a inserção social e
uma vida digna.
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