20
milhões de brasileiros deverão ser impactados silenciosamente por essa doença
crônica e progressiva até 2045
Já se sabe que pessoas com diabetes estão no
grupo de risco para desenvolverem o quadro grave da Covid-19. Porém, não é só
esse risco que preocupa especialistas. Médicos, instituições e a Organização
Mundial da Saúde, apontam a preocupação com o controle de doenças crônicas e
progressivas, enquanto o mundo ainda enfrenta a crise provocada pela pandemia
do novo coronavírus.
O receio é que, após a pandemia, seja detectado
um aumento de casos graves do diabetes tipo 2 e outras complicações associadas
à doença, provocados pelo estresse, dieta pobre em nutrientes e a falta de
atividade física. Com a aproximação do Dia Mundial do Diabetes, 14 de novembro,
é importante reforçar sobre o cuidado e conscientização sobre a doença.
Segundo o Atlas de 2019 da International Diabetes
Federation, o Brasil tem 16.8 milhões de pessoas com diabetes, ocupando 5º
lugar no ranking mundial. A estimativa para 2045 é de 20 milhões. O Brasil
ainda é o 6º país com maior número de pessoas não diagnosticadas, com 7.7
milhões, além dos possíveis 40 milhões de brasileiros com pré-diabetes. Nessa
condição, a pessoa já apresenta alterações no nível de glicose e cerca de 30%
de chance de apresentar complicações características do diabetes. Esse cenário
aumentou a preocupação de endocrinologistas neste momento de pandemia, como
destaca a especialista do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do
Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Dra. Tarissa Beatriz Petry.
"Muitos casos podem ter se agravado durante
o isolamento social. É importante salientar que estamos falando de uma doença
silenciosa, podendo levar anos para manifestar sintomas, e as pessoas não devem
negligenciar sua saúde. Além do uso correto das medicações já prescritas, o
retorno ao médico é fundamental para ajustes necessários, a fim de manter a
doença sob controle". A endocrinologista ainda aponta que é importante
lembrar que os hormônios do estresse são contrarreguladores no equilíbrio da
glicemia, ou seja, tem ação contraria à insulina, favorecendo o aumento da
glicose no sangue.
Nos últimos anos, novos medicamentos surgiram e
ampliaram as opções para o tratamento desta enfermidade. Entre os fármacos que
podem ajudar no tratamento estão os análogos do hormônio GLP-1 e os inibidores
da SGLT-2. Uma nova geração de insulinas também tem melhorado a posologia para
os pacientes. Porém, mesmo com essas novas associações de medicações a adesão
não é fácil. A maioria tem dificuldades em tomar medicações corretamente e
manter o estilo de vida saudável.
Em 2019, a Pesquisa de Vigilância de Fatores de
Risco e Proteção para Doenças Crônicas (Vigitel), feita pelo Ministério da
Saúde, já mostrava que 44,8% da população geral relatou um nível insuficiente
de atividade física, menos de 75 a 150 minutos por semana, e apenas 34,3%
descreveu consumo regular de frutas e verduras, "podemos ter esse ano uma
piora ainda maior desses hábitos, por conta do período de isolamento e todo
estresse causado pelo atual momento. As pessoas devem manter ou retomar
urgentemente a atividade física, ter uma alimentação saudável e ficar de olho
nas taxas de glicemia. Qualquer alteração, deve-se procurar atendimento
médico", explica Dra. Tarissa.
O controle da doença sempre foi um problema
enfrentado pelas pessoas com diabetes, que pode ter sido agravado com a chegada
da pandemia. O Coordenador do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do
Hospital Alemão Oswaldo Cruz, o cirurgião Dr. Ricardo Cohen, aponta um estudo
brasileiro que mostrou que cerca de 70% dos pacientes com o tipo 2 da doença,
não apresentam controle glicêmico adequado. "Vivemos há anos uma epidemia
global do diabetes, uma doença crônica e progressiva. Os pacientes que não têm
controle com medicamentos, a melhor opção é a cirurgia metabólica. Com a
pandemia, podemos ter um aumento de pessoas que necessitem do tratamento
cirúrgico", diz.
Benefícios da cirurgia metabólica
A cirurgia metabólica é definida como qualquer
intervenção sobre o tubo digestivo, que tem como finalidade o controle do
diabetes tipo 2. Os resultados podem ser detectados já a curto prazo. Estudos
indicam que 90% dos pacientes que são submetidos ao procedimento cirúrgico não
precisam mais utilizar a insulina para manter o tratamento da doença, e muitos
não necessitam mais de medicamentos via oral, além de obterem redução do peso,
controle do colesterol, pressão arterial e redução de complicações renais.
Uma pesquisa inédita do Centro Especializado em
Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, publicado na Jama Surgery
em junho deste ano, apontou que a cirurgia metabólica é o tratamento mais
eficaz para impedir a progressão da doença renal crônica precoce em pacientes
com diabetes tipo 2. O estudo detectou a remissão da albuminúria (perda da
proteína albumina na urina e importante indicador de insuficiência renal), em
54,6% dos pacientes após tratamento clínico e 82% após a cirurgia metabólica
por bypass gástrico em Y de Roux.
"A remissão de mais de 80% da albuminúria e
das lesões renais, com o tratamento cirúrgico significa evitar a progressão da
doença e, consequentemente, reduz a necessidade de fazer diálise e transplante
de rins. Além de diminuir fatores de risco que podem levar a infarto e Acidente
Vascular Cerebral (AVC)", avalia o cirurgião.
Em outubro, um estudo sueco publicado no New
England Journal of Medicine, que comparou pacientes submetidos a cirurgias
bariátricas e metabólicas versus os tratados clinicamente, após 24 anos de
acompanhamento, comprovou que os submetidos à cirurgia têm 30% menor risco de
morte cardiovascular, quando comparados aos que receberam apenas medicamentos.
Os tratados cirurgicamente ainda tiveram 13% menos risco de morte por câncer, e
ainda ganharam mais de três anos de sobrevida.
"O levantamento ainda apontou que quanto
mais cedo o paciente é submetido a cirurgia, maiores são os benefícios em
relação as possíveis complicações do diabetes tipo 2 e sobrevida. O
procedimento cirúrgico deve ser considerado cada vez mais cedo como tratamento,
assim como o medicamentoso. Isso pode salvar vidas", esclarece Dr. Ricardo
Cohen, que também fez parte do artigo. "Retardar as cirurgias metabólicas
coloca pacientes em risco de complicações graves e mortalidade",
complementa.
Por conta disso, a necessidade de ampliar o
acesso à cirurgia metabólica, é ainda maior, principalmente em casos mais
graves, tanto no Sistema Único de Saúde (SUS) quanto com as operadoras de
saúde. O procedimento já é regulamento pelo Conselho Federal de Medicina desde
2017, e está em aberto uma consulta pública da Agência Nacional de Saúde
Suplementar (ANS) para integrar o rol de procedimentos pagos pelos operadores
de planos de saúde, que pode ser acessada pelo site https://www.vidanovametabolica.org.br/.
Após entrar na página, basta clicar em "Quero Participar" e depois em
"Participar da Consulta Pública".
Hospital Alemão Oswaldo Cruz
https://www.hospitaloswaldocruz.org.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário