Reduzir a evasão escolar ajudará Brasil a recuperar a economia
A pandemia do novo coronavírus provocou uma
recessão econômica sem precedentes na história do Brasil e escancarou o abismo
social existente no país. Em médio e longo prazo, a desigualdade entre pobres e
ricos deve aumentar e os efeitos serão sentidos na economia, na saúde e até na
segurança pública. “O desemprego cresceu e os salários foram
reduzidos. Como mais de 90% da população não têm o hábito de guardar dinheiro,
os orçamentos domésticos precisaram ser revistos para que as famílias
conseguissem, ao menos, colocar comida na mesa. A saída encontrada por muitas
famílias foi, infelizmente, tirar os filhos da escola para que pudessem
trabalhar”, completa o professor e especialista em gestão financeira, Yuri
Utida.
Um levantamento do Ministério Público do Trabalho
(MPT), em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF),
mostrou que, entre os meses de abril e julho de 2020, houve um aumento de 26% nos
casos de trabalho infantil em São Paulo. “Os custos dessa realidade são altíssimos para o
Brasil. Estudos recentes mostraram que o país perde R$ 214 bilhões por ano por
deixar 17,5% dos jovens sem concluir o ensino médio. Ou seja, 3% do nosso PIB
são afetados porque as crianças não estão fazendo o que deveriam: estudar”,
completa Utida.
Utida afirma que a manutenção de programas de transferência de renda é um dos caminhos para mudar esse cenário |
O levantamento da Fundação Roberto Marinho e do
Instituto de Ensino e Pesquisa calculou o custo social total de cada jovem sem
educação básica, levando em conta a empregabilidade e remuneração dos jovens;
os efeitos que a remuneração deles têm para a sociedade; a longevidade com
qualidade de vida e a violência. A pesquisa calculou quantos jovens não
concluirão a educação básica e quais seriam as consequências dessa evasão, em
valores monetários, por jovem. “A pesquisa mostrou que, se nada for feito para
mudar o cenário atual, 575 mil adolescentes de 16 anos não vão completar a
educação básica. Para cada um desses adolescentes, a perda é R$ 372 mil por
ano, um valor assustador”, explica o especialista.
Na avaliação de Utida, esses jovens que não
completam os estudos serão adultos mais sujeitos ao subemprego e terão um
salário 25% menor, na comparação com outros jovens que completaram os estudos. “Esse
impacto vai além da economia. Quando deixa a escola, a expectativa de vida do
jovem cai em média 4 anos, já que aumentam as chances de ele ser cooptado pelo
crime. Os especialistas que fizeram esse estudo calcularam que cada ponto
percentual de queda na evasão escolar evita 550 homicídios por ano. Se todas as
crianças e jovens estivessem na escola, teríamos 10 mil mortes a menos”,
diz.
Segundo o especialista, para mudar esse cenário é
preciso implementar uma série de políticas públicas que incluam a manutenção de
programas de transferência de renda, combate ao trabalho infantil e incentivo
para que as crianças continuem na escola. “Não é uma tarefa fácil, uma
vez que o governo já gastou, com a pandemia, o que previa economizar em 10 anos
com a previdência. Estamos diante de um clássico exemplo de como a educação e a
falta de planejamento financeiro afetam a economia de todo o país. Se quisermos
mudar isso, precisamos investir na educação, repensar nossos hábitos de consumo
e planejar o nosso futuro financeiro”, finaliza Utida.
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