Adoção do diesel renovável dentro do mandato de biocombustíveis propiciará ganhos ambientais e benefícios para o consumidor
O consultor sênior da Petrobras Ricardo Pinto participou, nesta quinta-feira
(22/10), de uma webinar sobre “A importância dos biocombustíveis na transição
energética da matriz de transportes”, promovida pelo Instituto Brasileiro do
Petróleo (IBP). No evento, Ricardo Pinto destacou a importância da introdução
do diesel renovável na matriz de biocombustíveis do Brasil. O diesel renovável
é um biocombustível moderno, feito com matérias-primas como óleos vegetais,
gordura animal e até mesmo óleo de cozinha usado, que pode ser misturado ao
diesel derivado do petróleo.
“O diesel
renovável é utilizado em mistura com o óleo diesel e pode ser produzido
diretamente via coprocessamento de óleo diesel com matérias primas renováveis
em unidades de hidrotratamento de refinarias de petróleo. O coprocessamento é a
forma mais rápida de iniciar-se a sua produção e com menos custos, pois se
utiliza de infraestruturas já existentes. O diesel já pode sair da refinaria
como um Diesel R5, por exemplo, com 5% de conteúdo renovável. O biodiesel éster
poderia ser utilizado em conjunto, numa parcela, por exemplo, de 7%, no mesmo
mandato de biocombustíveis adicionados ao diesel de petróleo, alcançando os
mesmos patamares (12%) de conteúdo renovável existentes atualmente no diesel
comercializado nos postos. Em alguns usos, como em geradores de emergência ou
em usinas térmicas, onde a estabilidade do produto é um fator chave, o uso de
um Diesel R12 seria muito mais adequado. O diesel renovável hidrotratado (HVO)
é o biocombustível cuja utilização mais cresce no mundo e já é amplamente
adotado em outras regiões como Europa e Estados Unidos. Cerca de 15% da
produção de HVO é feita por coprocessamento com o óleo diesel mineral em
refinarias de petróleo”, afirmou Ricardo Pinto.
O especialista da Petrobras também
destacou a importância da concorrência no segmento de biocombustíveis
misturados ao diesel, mercado ocupado atualmente exclusivamente pelo biodiesel
de base éster. Isso seria obtido pela inclusão do diesel renovável no mandato
hoje ocupado exclusivamente pelo biodiesel éster. A presença de diversos
biocombustíveis no mesmo mandato já é permitida pela legislação brasileira, mas
depende ainda de regulamentação pela Agência Nacional do Petróleo e Gás Natural
e Biocombustíveis, e permitiria mais competição no setor, trazendo benefícios
de custo e qualidade para o consumidor final. Atualmente a adoção
do diesel renovável encontra-se em estudo por autoridades como ANP e o Conselho
Nacional de Política Energética.
O diesel
renovável possui diversas vantagens em relação ao biodiesel éster, único
biocombustível que atualmente pode ser misturado ao diesel de petróleo no
Brasil. O diesel renovável é capaz de reduzir as emissões de gases de efeito
estufa em 70%, quando comparado ao diesel regular, e em 15% quando comparado ao
biodiesel. Isso ocorre porque o biodiesel éster utiliza metanol, produto de
origem fóssil, em seu processo produtivo.
Ao contrário do biodiesel éster, o
diesel renovável não possui em sua composição compostos metálicos que prejudicam
o funcionamento dos sistemas de tratamento de gases de combustão presentes nos
veículos. Esses compostos metálicos, existentes no biodiesel éster, desativam
os catalisadores que reduzem as emissões de poluentes dos gases de combustão,
fazendo com que sejam lançados no ambiente material particulado e óxidos de
nitrogênio, diretamente ligados a problemas de saúde. A utilização do HVO
permite o atendimento ao RenovaBio e também à fase P8 do PROCONVE (Programa de
Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores).
O diesel
renovável também permite a utilização de matérias primas residuais, como o óleo
de cozinha usado, contribuindo ainda mais para a descarbonização da atmosfera.
Outra vantagem do novo biocombustível
é que, embora seja feito de matéria-prima renovável, o produto é quimicamente
igual ao diesel de petróleo. Isso significa que é um combustível de alta
estabilidade, tanto térmica quanto de estocagem. O biodiesel éster, ao
contrário, possui glicerinas em sua composição, o que pode causar entupimentos
em sistemas de estocagem e em filtros, bombas e bicos injetores, prejudicando o
desempenho de veículos.
O evento
também contou a presença de Valéria Lima, diretora executiva de downstream do
IBP, Heloisa Esteves, diretora de Estudos de Petróleo, Gás Natural e
Biocombustíveis da EPE, Paulo Jorge Santo Antônio, vice-coordenador da Comissão
de Assuntos Técnicos da Anfavea, e Vânya Pasa, coordenadora do Laboratório de
Combustíveis da UFMG. Todos os participantes destacaram a importância da
introdução o mais rapidamente possível do diesel renovável na matriz energética
brasileira como forma de melhorar a qualidade do biocombustível usado no país.
BIOQAV
Os
palestrantes presentes no evento lembraram também da necessidade de introdução
do bioQAV na matriz energética brasileira. A Organização da Aviação Civil
Internacional (OACI) criou um programa para a redução de gases de efeito estufa
por parte de aeronaves. A OACI determina que todos os países membros, incluindo
o Brasil, utilizem biocombustíveis de aviação a partir de 2027. Foi destacado
também que a Resolução 778 da ANP inclui todos os tipos de bioQAV, independente
de processo e/ou composição, garantindo a competição entre eles. A Petrobras
considera que a produção do bioQAV é associada à produção do diesel renovável e
a introdução dos dois biocombustíveis na matriz energética brasileira é muito
importante e precisa ser realizada de forma urgente.
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