A profissional destaca também por que é mais comum homens traírem
A traição é mais comum
entre homens do que mulheres no Brasil. Entre eles, 50,5%, admitem já terem
sido infiéis em seus relacionamentos. A traição foi admitida por 30,2%
das mulheres. Os dados foram obtidos através da pesquisa Mosaico 2.0, conduzida
pela psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do Projeto Sexualidade (ProSex) do
Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da
USP, com o apoio da farmacêutica Pfizer. Entre homens e mulheres, a média
nacional de traição é de 40,5%.
Mas, afinal, por que homens traem mais?
"Tem a questão
cultural, obviamente, do machismo, da normalização da traição. Tem também a
questão que a pessoa precisa de uma autorização interna para ela trair. É
mais comum, inclusive, traição em pessoas que ainda estão ainda visando
buscar um prazer de curto prazo. Elas desejam uma outra pessoa e preferem
viver aquele momento e, muitas vezes, sacrificar relações duradouras. Então é
mais comum que a gente veja esse cenário em pessoas que se autorizam a trair
mesmo que vá sacrificar algo de longo prazo. Isso acontece mais por
homens pela autorização que os homens se dão. Então, se eu acredito que as
consequências não vão ser grandes. Dependendo daquilo que eu vi ao longo da
minha vida, que eu formei ao longo da minha história. Aquilo que eu vi quando
criança. O meu contexto familiar, aquilo que eu fui capturando no meio, eu
posso ter uma tendência maior a trair, a normalizar a traição", explica
psicóloga Amanda Fitas, especialista em relacionamentos.
De acordo com a psicóloga, as pessoas traem porque elas visam o benefício daquele momento. Ela também afirma que a traição pode estar ligada a
maturidade.
"Ele acredita que é melhor tomar
essa decisão naquele momento e ele desconsidera o longo prazo, o que pode vir
de punição ou nem acredita que terá punição. Normaliza aquilo internamente ou
porque já normalizou desde a infância. Normalmente, a pessoa já tem essa
estrutura fragilizada, onde ela não consegue se manter firme em propósitos
maiores, em coisas que exijam uma responsabilidade maior, uma maturidade maior.
Essas pessoas têm a tendência a trair. Pode acontecer com qualquer pessoa
imatura. É mais comum a gente vê, principalmente em pessoas mais jovens.
Pessoas que traíram às vezes na adolescência e não vão trair na vida
adulta. Tem todo um contexto também relacionado a questão de maturidade. A pessoa
saber valorizar coisas sólidas, de longo prazo e não só ficarem nos prazeres de
curto prazo", pondera.
Ainda segundo Amanda, até mesmo quem acha que ama muito alguém
pode trair.
"Ela pode sentir realmente que ama e
que gosta, porém é um amor infantil. É um amor que ela acaba desconsiderando a
outra pessoa para se beneficiar. Pensa só nela. É comum. Tem muita gente que
traiu e diz que se arrepende, mas quando tem a oportunidade, vai trair de novo,
mas é porque ela não entende que ela tem um amor que só olha para ela mesma,
que esquece que ela pode prejudicar muito alguém".
Já sobre perdoar uma traição, não é uma
tarefa nada fácil. A pessoa traída vai ter que lidar com uma série de questões
internas para bancar esse perdão.
"Ela vai ter que lidar com a própria
insegurança dela e com a sensação de que talvez ela não seja suficiente para
esse outro. Isso é uma crença muito grande da pessoa traída, que de fato não
sente que é boa suficiente para o mundo, que ela tem potenciais e forças
suficientes para seguir em frente. Quando acontece uma traição, a própria
insegurança fica atacando, dizendo que ela não é boa o suficiente, que o outro
vai fazer de novo. Ela pode muito querer perdoar, mas ela vai ter que lidar com
o sistema muito forte de autodestruição e às vezes ela pode não conseguir lidar
com isso. É como se ficar com a pessoa fosse um martírio gigantesco e ela pode
vir a terminar depois. Mas também pode acontecer da pessoa conseguir se
reestruturar esse sistema, parar de se auto atacar, enxergar com outros olhos,
ressignificar e, assim, ela conseguir perdoar uma traição e ficar junto, às
vezes, pelo resto da vida".
Então, e se o traído quiser continuar o
relacionamento, mas quer se vingar. Pagar na mesma moeda pode ser a solução?
"É uma decisão imatura tanto quanto
a traição. É péssimo, não é uma boa estratégia, é a pior delas. Uma pessoa que
tenta atacar a outra pessoa para se sentir bem não é alguém maduro. Quando eu
falo desse sistema de estruturação, onde você de fato sabe o que é importante para
você e entende seus princípios, os seus valores, fica forte em algo que vai te
fazer feliz e trazer orgulho no longo prazo. Isso, com certeza, traz uma
sensação muito maior de felicidade do que uma pessoa que fica tentando se
vingar, tentando atingir. Mesmo que ela traia, a primeira pessoa que ela
feriu e contradisse, já que ela não acha a traição algo legal, foi ela mesmo.
Se ela tá agindo de uma forma incongruente com aquilo que ela gostaria, ela
mesma é a maior prejudicada. Não é a melhor estratégia", finaliza.
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