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terça-feira, 6 de outubro de 2020

Hipertireoidismo, quando a glândula tireoide funciona demais

 Disfunção acomete cerca de 1% dos pacientes com problemas tireoidianos, mas requer atenção e tratamento


Em nosso pescoço, temos uma glândula pequena, em formato de borboleta, que é extremamente importante para todo o bom funcionamento do organismo. Trata-se da tireoide. Pequenina e poderosa, ela também pode apresentar algumas falhas que comprometem o bem-estar.

Em geral, os principais problemas que afetam a tireoide são o hipotireoidismo, mais comum e prevalente, que ocorre quando há diminuição no funcionamento da glândula; e o hipertireoidismo, que é justamente o oposto: quando a tireoide passa a secretar muito hormônio e funcionar em excesso.

"As alterações da função da glândula tireoide ficam apenas atrás da diabetes em termos de números de casos por doenças endócrinas. Especificamente, o hipertireoidismo acomete algo em torno de 1% das pessoas, variando esse valor conforme a idade", conta o Dr. Murilo Neves, cirurgião de cabeça e pescoço da Unifesp.

Há várias razões pelas quais o problema acontece, sendo a mais comum uma doença autoimune, como a de Basedow-Graves. Neste caso, segundo Dr. Murilo, o corpo passa a produzir em larga escala um anticorpo chamado TRAB, que ataca a tireoide e ativa seu funcionamento. Dessa forma, a glândula aumenta de volume sem a formação de nódulos, e a faz trabalhar sem parar. "Esse anticorpo TRAB também ataca a gordura do olho, levando a uma condição de proptose ocular, que é quando o olho parece esbugalhado; e a pele, especialmente a da perna, que fica edemaciada", diz o médico.

Outra causa de hipertireoidismo são os nódulos que podem se formar na glândula. Apesar de a maioria não produzir hormônio, alguns deles o fazem, em especial quando a tireoide é volumosa por conta de vários nódulos bilaterais. "Mais raramente, apenas um único nódulo da tireoide pode se tornar produtivo, condição conhecida como doença de Plummer."

Dr. Murilo ensina que também há causas externas que podem levar ao hipertireoidismo, como o uso de medicamentos e fórmulas para emagrecer. "Existe ainda os casos de pacientes que fazem uso de iodo (na forma de lugol) ou aqueles que simplesmente usam a reposição de hormônio em uma dose muito alta. Todas essas causas, chamadas exógenas, quando executadas na dose ou forma errada, podem levar ao hipertireoidismo", alerta.

O diagnóstico da condição acontece por meio de exames laboratoriais (hemograma, ultrassom, punção aspirativa etc.) e os sintomas mais comuns são:

- Taquicardia: o coração bate mais rápido, e o paciente pode ter uma sensação de batedeira no peito.

É perigoso porque... quando o paciente é mais idoso, isso é muito arriscado e pode causar batidas erradas do coração. "Quando o coração bate errado e sem coordenação adequada, pode faltar sangue no próprio órgão ou no cérebro. O paciente pode ter um mal súbito ou um desmaio. Essa condição demanda tratamento imediato!"

- Intolerância ao calor: a pele fica quente, suada e úmida constantemente. O paciente sofre com calor mesmo em temperaturas amenas.

- Perda de peso: ocorre por conta do metabolismo acelerado e de maneira desordenada. Não é saudável.

- Irritabilidade: ocorre uma variação do humor importante, chamada de labilidade. "O paciente fica com temperamento explosivo e facilmente irritável. Essa condição frequentemente é seguida de insônia e/ou dificuldade em dormir, o que acaba aumentando o grau de irritação do paciente."

- Tremores: principalmente em mãos e extremidades. Não chega a ser um tremor incapacitante, mas muitas vezes atrapalha quando há a necessidade de movimentos finos e precisos.

O tratamento inicial visa controlar o funcionamento da tireoide com remédios que têm a capacidade de frear a produção de hormônio dentro da glândula. "Dependendo da causa do hipertireoidismo, o tratamento muda bastante. Pode ser apenas com medicação ou algum tratamento mais definitivo pode ser necessário", conta o cirurgião.

No caso da doença de graves, por exemplo, o tratamento pode ser apenas com medicação. "Por ser uma doença autoimune, a própria fisiologia da doença leva a destruição do parênquima da tireoide. Dessa forma, após um controle medicamentoso, a melhor opção é esperar algum tempo (atualmente dois ou mais anos, a depender do caso). Nos casos nos quais o controle medicamentoso não ocorre, ou em situações específicas, pode-se partir para o chamado tratamento definitivo."

O tratamento definitivo conta com duas opções: a iodoterapia ou a cirurgia. Cada uma destas opções tem suas indicações, vantagens e desvantagens.

Na iodoterapia, utiliza-se iodo radioativo que se concentra na glândula tireoide. Há uma radioterapia localizada, que destrói a tireoide, que para de funcionar. É melhor quando a glândula não é muito volumosa, segundo Dr. Murilo, quando a paciente não tem urgência em engravidar e quando a tireoide não tem nódulos.

Nos casos em que o hipertireoidismo é decorrente de nódulos, a medicação serve apenas para controle clínico e para preparar o paciente para o tratamento cirúrgico. "Nestes casos, a cirurgia será sempre necessária para a resolução da doença, pois os nódulos sempre produzirão mais hormônios", conta o médico.

 


Dr. Murilo Neves - Cirurgia de Cabeça e Pescoço. Formado em Medicina pela Universidade de São Paulo – USP. Residência médica em Cirurgia Geral no Hospital das Clinicas Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP. Residência médica em Cirurgia de Cabeça e Pescoço pela Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP. Título de especialista em Cirurgia de Cabeça e Pescoço pela Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço - SBCCP  Pós-graduando em Doutorado pelo Departamento de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço pela Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP


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