Disfunção acomete cerca de 1% dos pacientes com problemas tireoidianos, mas requer atenção e tratamento
Em nosso pescoço,
temos uma glândula pequena, em formato de borboleta, que é extremamente
importante para todo o bom funcionamento do organismo. Trata-se da tireoide.
Pequenina e poderosa, ela também pode apresentar algumas falhas que comprometem
o bem-estar.
Em geral, os
principais problemas que afetam a tireoide são o hipotireoidismo, mais comum e
prevalente, que ocorre quando há diminuição no funcionamento da glândula; e o
hipertireoidismo, que é justamente o oposto: quando a tireoide passa a secretar
muito hormônio e funcionar em excesso.
"As alterações da
função da glândula tireoide ficam apenas atrás da diabetes em termos de números
de casos por doenças endócrinas. Especificamente, o hipertireoidismo acomete
algo em torno de 1% das pessoas, variando esse valor conforme a idade",
conta o Dr. Murilo Neves, cirurgião de cabeça e pescoço da Unifesp.
Há várias razões pelas
quais o problema acontece, sendo a mais comum uma doença autoimune, como a de
Basedow-Graves. Neste caso, segundo Dr. Murilo, o corpo passa a produzir em
larga escala um anticorpo chamado TRAB, que ataca a tireoide e ativa seu
funcionamento. Dessa forma, a glândula aumenta de volume sem a formação de
nódulos, e a faz trabalhar sem parar. "Esse anticorpo TRAB também ataca a
gordura do olho, levando a uma condição de proptose ocular, que é quando o olho
parece esbugalhado; e a pele, especialmente a da perna, que fica
edemaciada", diz o médico.
Outra causa de
hipertireoidismo são os nódulos que podem se formar na glândula. Apesar de a
maioria não produzir hormônio, alguns deles o fazem, em especial quando a
tireoide é volumosa por conta de vários nódulos bilaterais. "Mais
raramente, apenas um único nódulo da tireoide pode se tornar produtivo,
condição conhecida como doença de Plummer."
Dr. Murilo ensina que
também há causas externas que podem levar ao hipertireoidismo, como o uso de
medicamentos e fórmulas para emagrecer. "Existe ainda os casos de
pacientes que fazem uso de iodo (na forma de lugol) ou aqueles que simplesmente
usam a reposição de hormônio em uma dose muito alta. Todas essas causas,
chamadas exógenas, quando executadas na dose ou forma errada, podem levar ao
hipertireoidismo", alerta.
O diagnóstico da
condição acontece por meio de exames laboratoriais (hemograma, ultrassom,
punção aspirativa etc.) e os sintomas mais comuns são:
- Taquicardia: o
coração bate mais rápido, e o paciente pode ter uma sensação de batedeira no
peito.
É perigoso porque...
quando o paciente é mais idoso, isso é muito arriscado e pode causar batidas
erradas do coração. "Quando o coração bate errado e sem coordenação
adequada, pode faltar sangue no próprio órgão ou no cérebro. O paciente pode
ter um mal súbito ou um desmaio. Essa condição demanda tratamento
imediato!"
- Intolerância ao
calor: a pele fica quente, suada e úmida constantemente. O paciente sofre com
calor mesmo em temperaturas amenas.
- Perda de peso:
ocorre por conta do metabolismo acelerado e de maneira desordenada. Não é
saudável.
- Irritabilidade:
ocorre uma variação do humor importante, chamada de labilidade. "O
paciente fica com temperamento explosivo e facilmente irritável. Essa condição
frequentemente é seguida de insônia e/ou dificuldade em dormir, o que acaba
aumentando o grau de irritação do paciente."
- Tremores:
principalmente em mãos e extremidades. Não chega a ser um tremor incapacitante,
mas muitas vezes atrapalha quando há a necessidade de movimentos finos e
precisos.
O tratamento inicial
visa controlar o funcionamento da tireoide com remédios que têm a capacidade de
frear a produção de hormônio dentro da glândula. "Dependendo da causa do
hipertireoidismo, o tratamento muda bastante. Pode ser apenas com medicação ou
algum tratamento mais definitivo pode ser necessário", conta o cirurgião.
No caso da doença de
graves, por exemplo, o tratamento pode ser apenas com medicação. "Por ser
uma doença autoimune, a própria fisiologia da doença leva a destruição do
parênquima da tireoide. Dessa forma, após um controle medicamentoso, a melhor
opção é esperar algum tempo (atualmente dois ou mais anos, a depender do caso).
Nos casos nos quais o controle medicamentoso não ocorre, ou em situações
específicas, pode-se partir para o chamado tratamento definitivo."
O tratamento
definitivo conta com duas opções: a iodoterapia ou a cirurgia. Cada uma destas
opções tem suas indicações, vantagens e desvantagens.
Na iodoterapia,
utiliza-se iodo radioativo que se concentra na glândula tireoide. Há uma
radioterapia localizada, que destrói a tireoide, que para de funcionar. É
melhor quando a glândula não é muito volumosa, segundo Dr. Murilo, quando a
paciente não tem urgência em engravidar e quando a tireoide não tem nódulos.
Nos casos em que o
hipertireoidismo é decorrente de nódulos, a medicação serve apenas para
controle clínico e para preparar o paciente para o tratamento cirúrgico.
"Nestes casos, a cirurgia será sempre necessária para a resolução da
doença, pois os nódulos sempre produzirão mais hormônios", conta o médico.
Dr. Murilo Neves - Cirurgia de Cabeça e Pescoço. Formado em Medicina pela Universidade de São Paulo – USP. Residência médica em Cirurgia Geral no Hospital das Clinicas Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP. Residência médica em Cirurgia de Cabeça e Pescoço pela Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP. Título de especialista em Cirurgia de Cabeça e Pescoço pela Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço - SBCCP Pós-graduando em Doutorado pelo Departamento de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço pela Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP
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