Considerada um dos principais problemas de saúde pública do mundo, a obesidade não para de crescer. A Pesquisa Nacional de Saúde 2019, divulgada dia 21 de outubro pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), aponta que o percentual de adultos obesos mais que dobrou no Brasil em 17 anos. O índice, que era 12,2%, entre 2002 e 2003, subiu para 26,8%, em 2019. A mesma pesquisa mostra que 60,3% da população com idade acima de 18 anos estava com excesso de peso no ano passado. Os dados são alarmantes e preocupantes, afinal, a obesidade reduz não apenas o tempo de vida das pessoas, mas também sua qualidade de vida.
A obesidade é uma doença. Ela não é desleixo. É uma
doença grave, que não tem cura, mas é tratável. Só que este tratamento precisa
ser feito por toda a vida. O maior problema da obesidade é que ela gera ou
agrava outras doenças, que chamamos de comorbidades. Temos dezenas de
comorbidades, mas vou citar aqui apenas as principais: hipertensão arterial,
aumento do colesterol e do triglicérides, diabetes tipo 2, apneia do sono,
problemas ortopédicos, hemorroida, varizes nos membros inferiores, problemas
pulmonares, como asma e bronquite, e cefaleia. Com essa pequena lista, já
podemos ter uma ideia do quanto a obesidade é grave.
Alguns pacientes costumam dizer que são “gordinhos
saudáveis”, mas isso não existe. A obesidade, por si só, já é uma doença, e,
com o tempo, vai gerar ou agravar outras doenças. Por isso, é importante agir
desde cedo, ainda na infância, estimulando as crianças a terem uma alimentação
saudável e a serem mais ativas. Hoje, é comum que as crianças fiquem horas no
videogame ou com o celular na mão, o que reduz o gasto calórico, se comparado a
um jogo de futebol, a uma brincadeira na rua com os amigos. Além disso, com a
correria do dia a dia, os pais costuma adotar uma alimentação mais calórica,
com alto consumo de fast food, por exemplo. São maus hábitos que acabam sendo
levados por toda a vida.
Tratar a obesidade não é fácil, por isso, é melhor
prevenir, com bons hábitos. Os tratamentos para obesidade variam desde clínicos
até cirúrgicos. Normalmente, o paciente acima do peso começa adotando uma
alimentação mais saudável e praticando atividades físicas. Em alguns casos, ele
também pode optar por tratamentos medicamentosos. Também temos opções de
tratamentos por endoscopia (balão intragástrico e endossutura gástrica) e
tratamentos cirúrgicos, que são as cirurgias bariátricas. A indicação do melhor
tratamento varia de acordo com a pessoa e com o seu grau de
sobrepeso/obesidade.
O que percebemos, na prática, é que para ter
sucesso em qualquer tratamento para perda de peso, é necessária uma mudança de
vida e um acompanhamento multidisciplinar. A obesidade é uma doença
multifatorial e, portanto, precisa da abordagem de vários profissionais: nutricionista,
endocrinologista, psicólogo e, nos casos mais graves, cirurgião bariátrico,
entre outros. É comum que as pessoas obesas passem por vários tratamentos sem
sucesso ao longo da vida. Não emagrecem ou emagrecem e voltam a engordar.
Precisamos ter em mente que a pessoa obesa sofre
uma série de restrições em sua vida. Muitas vezes, se isola socialmente, se
sente envergonhada e desmotivada para sair de casa. É comum ouvirmos relatos de
mães que não conseguem brincar com os filhos por causa da obesidade e se sentem
culpadas por isso. Tarefas simples do dia a dia, como amarrar um sapato,
encontrar uma roupa que sirva e até fazer a própria higiene, costumam ser
difíceis.
Por tudo isso, precisamos ter mais empatia com a
pessoa obesa. Precisamos acabar com o preconceito com a pessoa obesa,
precisamos apoiar e incentivar quando ela decide fazer qualquer tipo de
tratamento contra a obesidade, inclusive a cirurgia bariátrica. Ainda há muita
desinformação sobre isso e a pessoa, quando opta pelo tratamento cirúrgico,
costuma ouvir uma série de críticas, que vão desde que esse “é o caminho mais
fácil” até “você vai morrer”. Os riscos de uma cirurgia bariátrica são mínimos.
Mas os riscos da obesidade são muitos.
Também precisamos de políticas públicas eficientes
que ajudem a prevenir a obesidade e que ofereçam amplas opções de tratamento
para esta doença. No Brasil, o acesso a alguns tratamentos ainda é muito
limitado, principalmente para o paciente que depende do SUS (Sistema Único de
Saúde).
Ao emagrecer, seja através de tratamento clínico,
endoscópico ou cirúrgico, a pessoa, normalmente, passa por uma transformação.
Ganha autoestima, ganha qualidade de vida e, mais que isso, ganha saúde.
Fonte pesquisa IBGE sobre obesidade
Dr. Admar Concon Filho - cirurgião bariátrico,
cirurgião do aparelho digestivo e médico endoscopista. Ele é membro titular e
especialista pelo Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva, Colégio Brasileiro
de Cirurgiões e Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva, além de membro
titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica e membro da
International Federation for the Surgery of Obesity and Metabolic Disorders. /
CRM – 53.577
Nenhum comentário:
Postar um comentário