Caminhos 'livres
de corona' são necessários para incentivar os pacientes a continuar o
tratamento oncológico, defende especialista
Já faz mais de dois meses desde que o governo anunciou
o início da quarentena no Brasil, a pandemia por si só já é um enorme desafio
para o SUS. Além disso trouxe consigo consequências graves para outras áreas de
atendimento à população, seja pela alta sobrecarga dos hospitais ou pela
instabilidade no Ministério da Saúde impactando diretamente na gestão dos
diferentes níveis do sistema estadual e municipal. Ainda que os Estados estejam
adotando medidas de contenção, elas são dispersas e, em muitos casos, não estão
dando conta da demanda por serviços de saúde e, até de uma simples informação.
A comunicação está desencontrada e isso é observado no número de pacientes em
redes sociais e ONGs buscando ajuda e direcionamento.
“Em um momento tão delicado como o que estamos
vivendo, mais do que nunca é preciso focar no que é essencial: a vida das
pessoas. É inaceitável que pessoas com suspeita de câncer fiquem em casa.
Precisamos com urgência de uma diretriz ministerial, estadual e municipal
dirigidas a pacientes com suspeitas de câncer ou em busca de atendimento. As
orientações precisam ser claras, com direcionamento, para que possamos
evitar o colapso nos próximos meses”, afirma a Dra. Maira Caleffi, Presidente
voluntária da FEMAMA (Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de
Apoio à Saúde da Mama) e Chefe do serviço de mastologia do Hospital Moinhos de
Vento.
Os pacientes se sentem desamparadas pelo sistema de
saúde e com a falta de informação, não conseguem ter uma ideia sobre o futuro
de seu tratamento. "Desconfiei de um novo tumor e fui ao médico, ele
solicitou uma endoscopia para o dia 23 de março, mas como no dia 22 a
quarentena foi anunciada, todos os exames foram cancelados e agora preciso
aguardar o fim do isolamento” diz Rosemary Souto Cruz.
A situação atual agravou, ainda mais, os atrasos no
diagnóstico de câncer no Brasil. De acordo com dados do Tribunal de Contas da
União (TCU), já em 2019 as pessoas demoravam até 200 dias para ter uma
confirmação ou negativa se tinham câncer. Para os casos positivos o resultado
era catastrófico, resultando em maior volume de pacientes com a doença em
estágio avançado.
“A ciência já provou que em câncer de mama, a arma
mais poderosa para diminuir o risco de morte é o diagnóstico precoce. E agora,
com a crise provocada pelo coronavírus, a escassez de atendimento gerará um
número de casos de câncer em estágios ainda mais avançados no período pós
pandemia. A população está resignada em casa com medo do vírus e não estão
fazendo exames de rotina. Vamos ver um aumento significativo de casos de
tumores palpáveis e tratamentos mais agressivos, com maior custo e número de
mortes. Por isso é urgente que se abram caminhos ‘livres de corona’ para que as
pessoas encontrem ajuda e informações”, diz a Dra. Maira Caleffi.
FEMAMA
- Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da
Mama
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