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sexta-feira, 26 de junho de 2020

Cadê a Poliana?


Todo mundo conhece e já acusou alguém de sofrer do mal da Poliana ou da síndrome da Poliana. Pouca gente sabe é que Poliana é personagem de uma obra de literatura norte-americana, escrita por Eleanor Porter em 1913.

A senhora Porter conta a estória de uma personagem que somente vê o lado bom das coisas, das pessoas e da vida. Sendo incapaz de fazer ou pensar mal de alguém, ela é só amor e bondade. Poliana anda meio sumida no Brasil hoje em dia. Quem sabe esteja isolada verticalmente ou guardada horizontalmente, se você me permite o chiste nesta hora tão séria e sombria.

Mas olhe bem…. Esta doença lazarenta que aparentemente só deixa coisas ruins na mesa pode, diria a Poliana, trazer coisas boas. Eu ouço por exemplo, todos os dias, que estão sendo feitos investimentos em hospitais de campanha, em respiradores (ou ventiladores) artificiais, equipamentos de usos profissional como máscaras e luvas, testes médicos e remédios. Se eu e você, que estamos isolados em casa, pensarmos detidamente sobre a saúde pública; se considerarmos que nosso mini Governador em São Paulo está contratando profissionais de saúde aos borbotões (exagero meu… são 2.000 profissionais não farão nem cosquinha no déficit do estado, mas já ajudarão muito!) e que novos hospitais estão sendo entregues a velocidade de gripe Chinesa, temos que acreditar no avanço. O fato de que tudo isso é paliativo só sobrevive (sorry!) por uns minutos pois afinal, é boa notícia.

As Santas Casas estão, com perdão da expressão funesta, mortas. Vamos então olhar para isso com os olhos da Poliana e acreditar que uns cobres ou uns equipamentos sobrarão para elas também. Devem impostos? Sim, má vá: agora eles são menos importantes que as vidas, não?

Os hospitais municipais, estaduais, clínicas, etecetera estão muito além de quebrados. Nos acostumamos a ver nos noticiários (quando estes ainda eram isentos) cenas bizarras de uma triste novela realística que mostrava pacientes no chão sem roupas, médicos exaustos, assistência social evaporada e enfermeiros, as vezes, em pior estado de saúde que os próprios doentes. O caos sem fim, não é? Mas ora… o que é tudo isso se não a maior oportunidade da era republicana para uma reforma ampla, geral e irrestrita da saúde?

Serão dias em que os pés-descalços e os descamisados poderão agendar consultas e exames, serão atendidos em prazos menores do que da fatalidade das suas doenças e que exames de maior complexidade serão feitos nos pacientes com menos recursos enquanto eles ainda estão vivos. Não consigo entender que você não acredite nesta nova fronteira do nosso país. Este é o presente que nos dão, Poliana e a gripe Chinesa.

O isolamento social também me trouxe, particularmente, várias benesses: ando revendo artigos da nossa CF e súmulas do STJ e STF sobre direitos e garantias individuais, responsabilidade e também sobre usos & fontes de inúmeras besteiras ditas todos os dias nas redes sociais. Eu ando relendo clássicos e “nem-tão-clássicos” assim e hoje catei meus 18 livros do Rubem Fonseca para prestar meu luto e homenagem. Tenho assistido filmes e séries que me surpreendem diariamente como “Os Carcereiros” pela qualidade e veracidade com que mostram o medieval sistema penitenciário brasileiro. Já dá mais uns 40 dias de Quarentona. Isso, Quarentona: estou aproveitando para conhecer melhor minha Quarentona. Se não fosse suficiente, ainda trouxe a sogra para minha casa - o que tem se revelado uma extraordinária surpresa. Boa figura, companheira de cinema e conversa fácil. Quem diria.

Não só sobre a sogra mas amplamente sobre a vida e sua fragilidade, a gripe Chinesa e suas terríveis perspectivas tem me alertado sobre a fragilidade da vida. Lembre-se de não adiar aquele e-mail, Whattsapp ou principalmente aquele telefonema. Não sabemos quando a pessoa do outro lado estará impossibilitada de lhe atender.

Veja então que os hospitais melhorarão, as clínicas melhorarão e você melhorará como pessoa depois de todo este período de reflexão obrigatória. Tudo isso queridos, claro… Se a Poliana não testar “positivo” para qualquer uma das gripes que nos circundam desde sempre e acabar por desautorizar esses meus pequenos argumentos aqui. Mas nisso, eu não acredito.





Julio Gavinho - executivo da área de hotelaria com 30 anos de experiência, sócio e Diretor da MTD Hospitality, Diretor Executivo” da Dee Participações e professor do curso de MBA em hotelaria de luxo e do curso de MBA em arquitetura de luxo da Faculdade Roberto Miranda.

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