Aparato tecnológico
e treinamento multidisciplinar são recursos utilizado no enfrentamento da lesão
neurológica, que já é a segunda maior causa de mortes no mundo
O Hospital Icaraí, na Região Metropolitana do Rio
de Janeiro, desenvolveu um protocolo de atuação para tratar de pacientes com
Acidente Vascular Cerebral (AVC), visando um atendimento efetivo e otimizado no
enfrentamento à doença neurológica.
Segundo Guilherme Torezani, gerente médico do
protocolo de AVC do Hospital Icaraí, a unidade hospitalar procurou alinhar a
estrutura tecnológica que possui - com recursos de ressonância, tomografia e
hemodinâmica - ao treinamento intensivo de suas equipes, desenvolvendo assim o
protocolo de AVC no hospital.
"O treinamento das equipes visa gerenciar
tanto o tratamento na fase aguda quanto no período de reabilitação no hospital.
A finalidade é oferecer o melhor para o paciente, de forma que ele não
seja apenas tratado adequadamente, mas que as complicações que possam ocorrer
sejam gerenciadas pontualmente. Entendemos o impacto que nós, profissionais de
saúde, podemos ter na vida do paciente que tem o sintoma neurológico e que
muitas vezes não encontra um local de referência para ser tratado", diz.
Ele explica que o treinamento é multidisciplinar,
englobando não somente profissionais de saúde direta, como médicos,
fisioterapeutas, enfermeiros e fonoaudiólogos, mas também componentes das
equipes operacionais e administrativas, como recepcionistas e seguranças.
"No hospital, todos vão aprender a conhecer os
sinais de um AVC e comunicar as equipes diretas para que se os pacientes em
sala de espera - ou mesmo os que estão internados por qualquer outro motivo
- tiverem algum aspecto diferente que aponte a manifestação da doença,
isso possa ser sinalizado rapidamente para que se consiga fazer a intervenção
de forma mais adequada", relata.
Guilherme conta que o protocolo de AVC já vem sendo
adotado mundialmente há algum tempo, se mostrando eficaz nos tratamentos da
lesão neurológica, o que fez com que o Hospital Icaraí buscasse aplicá-lo como
modelo em suas instalações e atividades médicas.
Importância dos cuidados
Guilherme explica que o Acidente Vascular Cerebral
(AVC) já é a segunda maior causa de morte no mundo. Trata-se de uma lesão no
cérebro. Várias artérias nutrem o nosso cérebro e, em dado momento,
ocorre uma obstrução nessas artérias, comprometendo o fluxo de sangue - que
deixa de ser entregue para uma região cerebral. Essa região, conforme sofre a
perda de sangue, deixa de funcionar. Portanto, surgem os sintomas agudos, a
exemplo da boca que fica torta, o braço pesado e as dificuldades na fala.
O neurologista esclarece que uma vez identificado o
AVC, existem muitos procedimentos a serem feitos na medicina moderna.
Porém, segundo o especialista, demanda-se tempo de intervenção. "Os
médicos têm poucas horas para poder fazer um medicamento e aplicar
procedimentos que revertam essa obstrução da artéria, o que faz com que o
sangue volte a circular naquela região que havia perdido o fluxo
sanguíneo".
Tempo é vida
O profissional elucida que a cada um minuto,
passada a obstrução da artéria, cerca de dois milhões de neurónios vão morrer
na região acometida. Portanto, essa é a importância de saber identificar a
situação em tempo hábil, visto que perdendo-se tempo, perde-se também
neurônios.
"Tem uma máxima que diz que tempo é cérebro.
Deve-se correr com esse paciente para um hospital que seja capacitado para
atender e realizar a intervenção guiada corretamente, dentro de um protocolo,
com respaldo na literatura médica", explica, acrescentando que muitas
vezes um paciente tem um sintoma em casa e, como não está acompanhado por
alguém, ou mesmo quando se identifica o sintoma, demora-se muito tempo para
tomar uma atitude, achando que a situação vai passar normalmente, e nisso se
perde muito tempo.
Guilherme esclarece que o tempo de
intervenção para se fazer um medicamento na veia, que reverta o quadro, é de
até quatro horas e meia, porém é necessário que a equipe responsável tenha capacidade
técnica para intervir adequadamente.
"Comparamos muito com uma equipe de pit stop
na Fórmula 1. Nos anos 80, demoravam muito tempo para trocar a roda e fazer a
manutenção do carro. E, analisando um vídeo atual, vemos como o serviço está
otimizado. No hospital, com uma equipe treinada, em que cada um sabe o que tem
que ser feito no fluxo, com tudo já sedimentado, a intervenção se dá em tempo
muito mais hábil", afirma.
A tecnologia potencializando o
tratamento
O Hospital Icaraí vem fazendo uso da ressonância na
fase aguda, que é uma adição tecnológica muito importante.
"Vamos ter a disponibilização da terapia de
trombectomia mecânica, que permite que se consiga intervir além das quatro
horas e meia e ainda assim tratar o paciente, colocando-o na sala de
hemodinâmica e fazendo a intervenção direta por meio da retirada do trombo de
dentro da artéria, desobstruindo o fluxo de sangue", explica Guilherme.
"Trata-se de mais um recurso que temos de alta
tecnologia. E, claro, contamos com uma rede de terapia intensiva extensa, com
quatro CTI's, e uma unidade coronariana que conseguem tratar o paciente com
todo suporte de monitoramento e de neurocirurgia 24 horas por dia, mitigando
possíveis complicações. Todo o protocolo é pautado em evidências
científicas", completa.
Iniciativa Angels
O Hospital Icaraí também está sendo inserido em um
grupo de vários países que compõem a Iniciativa Angels, uma coordenação
internacional de vários centros médicos que se capacitam em atender pacientes
com AVC, formando uma corrente para quanto mais centros de AVC's existirem,
mais rápido seja o atendimento do paciente, resultando em um melhor desfecho.
"Tem pacientes que chegam com déficits neurológicos muito graves e,
conforme sofrem intervenções, podem receber alta com pouco ou nenhum
deficit", pontua Guilherme.
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