Imaginando uma empresa de serviços, de produção de
inteligência ou de engenharia, ao pensar em desenvolver um projeto e estruturar
um orçamento de uma área, quais seriam os principais custos a serem levantados?
Esta estrutura de custos deve ser a mesma de dez ou vinte anos atrás? Este
ponto pode ter impacto no processo de inovação do setor?
No passado, o escritório era algo importante: salas
de reunião, linhas telefônicas, servidores, teleconferências, aparelhos de fax,
grandes equipes de apoio, como secretárias, office boys, cadistas,
recepcionistas, garçons e por aí vai. Esses custos "necessários" eram
considerados fixos e mereciam atenção especial. Hoje, entretanto, tudo é mais
fluido, computadores de mesa deram lugar aos notebooks, o celular é o novo
"canivete suíço", o espaço é compartilhado, as reuniões acontecem em
qualquer local e a rede corporativa é a nuvem.
Em uma cidade como São Paulo, o ideal não é ter um
escritório, mas diversos, espalhados nas regiões onde estão os clientes, obras
e colaboradores. Uma rede de escritórios é a forma de otimizar o tempo de todos
os colaboradores. É diante deste cenário, estão crescendo os coworking e
teletrabalhos.
Este tema também está associado a um aspecto que
costumava ser importante: a frota e o aluguel de carros. Quer ser competitivo?
Esqueça essa mentalidade, otimize sua operação para o uso do transporte público
e, ou, modais compartilhados. O seu bolso e a cidade agradecem.
Por outro lado, um ponto que não era significativo,
a tecnologia, passou a ser. A tecnologia não era listada, pois era considerada
um ativo, como um investimento. Atualmente isso não faz mais sentido, pois
estamos na era do software como serviço. Não se compra ou desenvolve software,
o mercado já mostrou que o conceito correto é considerar a tecnologia um custo
operacional, ou seja, pagar sob demanda.
Tudo isso parece muito lógico, porém aí vem uma
dúvida: por que ainda temos a grande maioria dos editais públicos remunerando
aluguel de escritório, aluguel de carro, quilometragem rodada, mas não
apresentam nenhum item relativo à tecnologia?
Geralmente, são editais de projeto que não preveem
o custo dos softwares de projeto, textos sobre gerenciamento que não têm espaço
para gerenciamento de documentos e processos, assim como uma supervisão de obra
que não prevê custo para soluções mobile. Indo além dos sistemas específicos,
temos que citar as tecnologias de base como os computadores, editores de texto,
planilhas, sistemas de planejamento e rede.
Para estes editais, todos estes custos não existem.
Então, qual é o incentivo para inovar que o poder público está dando ao
mercado? Este tipo de visão não seria um vetor que vem contribuindo com o
atraso em nosso segmento?
O setor público caminha na contramão do privado
quando o assunto é evoluir os processos para um mundo digital. Está, ou melhor,
já passou da hora de rever este cenário se quisermos, de fato, transformar o
mercado.
Marcus Granadeiro - engenheiro civil formado pela Escola
Politécnica da USP, presidente do Construtivo, empresa de tecnologia com
DNA de engenharia e membro da ADN (Autodesk Development Network) e do RICS
(Royal Institution of Chartered Surveyours).
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