A ideia de que tudo se resolve no Estado teve sua
expressão máxima na Constituição brasileira de 1967, no artigo 158, inciso XIX,
que assegurava aos brasileiros “colônia de férias e clínicas de repouso”. A
partir de Karl Marx, cresceu a legião de intelectuais, pensadores e políticos,
na direita e na esquerda, dedicados a convencer a sociedade de que para cada
problema individual há sempre uma solução estatal.
A socialdemocracia, que se propunha ser uma
terceira via entre socialismo e capitalismo, foi responsável pelo crescimento
do setor público e pelo aumento da tributação. A essência dessa ideia é que o
sistema produtivo deve ser capitalista, com base na propriedade privada, na
organização empresarial da produção e no trabalho assalariado, mas com governo
grande, tributação pesada e programas de transferência de renda via serviços
públicos. Os socialdemocratas se inspiraram em Marx para dizer que o problema
da produção já estava resolvido e tudo se resumia a ter um bom sistema de
distribuição.
Os defensores desse modelo não entenderam duas
coisas. A primeira, que Marx não estava pensando na pobre Rússia czarista
quando propôs o socialismo, mas na Inglaterra, um país com desenvolvido
capitalismo industrial sob um regime liberal. Marx disse, em A
Ideologia Alemã, que enquanto não houver aumento da produtividade
capaz de gerar abundância, a briga pela redistribuição será apenas uma briga
pela “die alte Scheisse” (a velha merda).
Ajudados pela grande depressão econômica dos anos
1930, que reduziu o produto mundial e lançou milhões no desemprego, os adeptos
do crescimento do Estado tiveram a oportunidade de promover a expansão
desmedida da máquina pública. Porém, cinco décadas depois, o gigantismo estatal
gerou subprodutos perversos: carga tributária pesada, ineficiência
governamental, inibição do investimento privado, casta de funcionários públicos
de altos salários, privilégios para os tripulantes da máquina oficial, déficits
fiscais, elevadas dívidas públicas e muita corrupção.
Conquanto o governo seja necessário e tenha suas
funções, o gigantismo estatal e o excesso de intervenção na vida das pessoas
passaram a produzir a doença que vieram para curar, além de disseminarem uma
danosa consequência de natureza cultural: a crença de que a solução de todos os
males sociais e individuais está no Estado. Na América Latina, os políticos
populistas e demagogos cresceram na esteira da cultura da dependência, que se
tornou a marca de grande parte da população.
O alemão desempregado de Ansbach, afora o aspecto
hilário e jocoso de sua ação, apenas expôs o reflexo da crença de que o
bem-estar é direito de todos e dever do Estado. Não se trata de ser contra
redes de proteção social, mas é justamente para bem cumprir esse papel que o
Estado não pode ser inchado, perdulário, endividado e excessivamente
tributador. O caso do Brasil hoje é notório: o maior obstáculo ao crescimento
econômico é o setor público, inchado, ineficiente, endividado e corrupto.
A redução da pobreza depende da criação de riqueza,
tarefa da sociedade e do sistema produtivo privado.
José Pio Martins - economista e reitor da Universidade Positivo
(UP).
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