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segunda-feira, 23 de julho de 2018

“Dr. Bumbum”: transtorno de personalidade antissocial ou transtorno bipolar?

A notícia da morte de uma mulher que teria se submetido a procedimentos estéticos  em uma clínica com pouco suporte clínico no Rio de Janeiro sob os cuidados do médico Denis Furtado, apelidado pela mídia de “Dr. Bumbum” levantou outra questão à tona: as várias hipóteses sobre qual transtorno psiquiátrico levaria um médico a realizar procedimentos e correr vários riscos, inclusive o de ocorrer o óbito de pacientes, sem se dar conta do real perigo desta conduta. O psiquiatra e pesquisador do Hospital das Clínica de SP, Dr Diego Tavares comenta o caso.

 
É comum que meio a notícias envolvem morte e possível falta de empatia e até frieza sempre vem à mente a hipótese da psicopatia: um transtorno da personalidade em que o indivíduo apresenta falta de remorso e empatia como traço inerente à personalidade, isso é: ao jeito de ser e se desenvolver de alguém. Para Dr. Diego não existe psicopata que ficou ou se tornou psicopata na vida adulta ou depois de ter virado médico ou depois de ter se tornado rico ou depois de ter se casado ou várias outras situações que vemos por aí com o intuito de dizer que alguém que passou a emitir comportamento anti-sociais ao longo da vida teria se tornado um psicopata.

“O termo psicopata ou antissocial é a designação atribuída a uma pessoa com um padrão comportamental recorrente, devido a um transtorno na personalidade, caracterizado por insensibilidade, frieza, diminuição da capacidade de empatia/remorso e pela presença de uma atitude de dominância desmedida. Esse tipo de comportamento pode, mas nem sempre, acabar levando a ocorrência de crimes, mas em casos socialmente adaptados também se relaciona a cargos de chefia e liderança com alguns traços de tirania e exigência desmedida”, fala.

Dr Diego afirma que o psicopata apresenta o comportamento antissocial desde o início da adolescência e que se torna mais estável e evidente na vida adulta, não existem fases de personalidade mais fria e em outras mais empática, para o médico, o psicopata é assim o tempo todo.
O espectro dos transtornos bipolares, por outro lado, é um conjunto de doenças caracterizadas por oscilação de humor, energia e impulsos em que pode predominar fases depressivas ou fases maníacas (períodos de ativação) a depender de como o cérebro do indivíduo oscila mais para um lado ou o outro. “A grande questão é que quanto mais leve o transtorno bipolar mais os sintomas se misturam com comportamentos menos problemáticos e que são confundidos com traços da personalidade da pessoa”, alerta o especialista.
Entretanto, uma dica importante e que permite a diferenciação é que traços de personalidade são constantes, estáveis e não oscilam de tempos em tempos. Em portadores de transtorno bipolar mais suave é comum a pessoa conseguir manter atividade social e até mesmo profissional sem que haja prejuízo de maneira mais evidente - pelo menos em curto prazo.
“Quem convive e observa o comportamento, pode notar características que oscilam e recorrem de tempos em tempos que são sintomas leves de bipolaridade como mudanças de humor para depressão, euforia ou agressividade (pavio-curto, insensível, frio, exigente, autoritário, tirano, maldoso, cruel, irônico, sarcástico, briguento); comportamentos impulsivos; grandiosidade (senso de razão aumentado, empáfia, arrogância, destemido, ameaçador, onipotente, não mede os atos e consequências, etc); aumento de energia e redução da necessidade de sono (dormem pouco, ficam workhahoolics, etc); se tornam agitados, hiperativos, ansiosos e acelerados”, explica.
Por isso, Dr Diego afirma que os diagnósticos de transtornos psiquiátricos devem ser avaliados à luz de toda história de vida e traços comportamentais e dos conjuntos de sintomas que cada indivíduo apresenta pois muitas vezes um comportamento que pode ser sugestivo de algo na personalidade pode na realidade fazer parte de um outro transtorno mais complexo que abarca outras alterações.
“E isso tem importância porque transtornos que envolvem agressividade e crimes como o transtorno bipolar e o transtorno de personalidade antissocial se encaixam na lei naquilo que chamamos de crime semi-imputável em que a pessoa teria consciência do que está cometendo, mas há um transtorno cerebral de fundo impulsionando e direcionando o comportamento”, ressalta o médico acrescentado que “não avaliamos o colega médico em questão e não poderíamos emitir um diagnóstico sem uma correta avaliação clínica, mas temos que ter cuidado ao chamarmos de psicopata quem comete crimes pelo simples fato de um comportamento nos parecer assim”.






FONTE: Dr. Diego Tavares - Graduado em medicina pela Faculdade de Medicina de Botucatu - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (FMB-UNESP) em 2010 e residência médica em Psiquiatria pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPQ-HC-FMUSP) em 2013. Psiquiatra Pesquisador do Programa de Transtornos Afetivos (GRUDA) e do Serviço Interdisciplinar de Neuromodulação e Estimulação Magnética Transcraniana (SIN-EMT) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPQ-HC-FMUSP) e coordenador do Ambulatório do Programa de Transtornos Afetivos do ABC (PRTOAB). https://drdiegotavarespsiquiatra.com/



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