A
confiança dos consumidores na segurança dos veículos 100% autônomos (que
dispensam a atuação de um motorista para se locomoverem) cresceu
significativamente no último ano. Apesar dessa mudança de percepção, a
indústria automobilística ainda pode enfrentar alguns obstáculos para a
consolidação dessa tendência, de acordo com o estudo “Global Automotive
Consumer 2018”, da Deloitte.
Na
edição anterior do levantamento (de 2017), feito em 15 diferentes mercados (17
países no total), 67% dos participantes, em média, afirmavam acreditar que os
veículos totalmente autônomos não seriam seguros. Esse percentual recuou para
41% no atual estudo da consultoria.
“No
ano passado, as pessoas tiveram mais acesso a informações sobre os progressos obtidos
no desenvolvimento dos veículos autônomos. De fato, os avanços tecnológicos e a
divulgação de experiências muito bem-sucedidas ajudam a explicar o porquê de as
pessoas confiarem mais na possibilidade de os carros que se movimentam sem
motoristas se tornarem uma realidade segura”, afirma Carlos Ayub, sócio da
Deloitte especializado em Indústria Automotiva.
O
estudo conclui que os consumidores têm uma visão mais clara da segurança dos
veículos autônomos, embora ainda restem algumas preocupações. Assim, um
percentual significativamente menor de pessoas consultadas pelo estudo de 2018
não considera que os carros autônomos não serão seguros, sendo que menos de
metade (47%) dos consumidores dos EUA expressaram essa opinião. Esse resultado
é 27 pontos percentuais abaixo dos 74% que se diziam céticos no levantamento de
2017, por exemplo.
A
tendência é similar em todos os países que participaram do estudo: Coréia do
Sul (com 54% este ano, contra 81% no ano passado), Alemanha (45%, ante 72%),
França (37%, frente a 65%) e Brasil (25%, contra 54%). A mudança mais notável,
no entanto, vem da China, onde o percentual de pessoas que consideram que os
carros totalmente autônomos não serão seguros caiu de 62% em 2017 para apenas
26% no estudo deste ano.
"Percebemos
que a aceitação geral da tecnologia que permite a viabilização dos veículos
autônomos cresceu significativamente em pouco tempo. Como a aceitação pública
de uma mudança tão radical é um fator muito importante para esse mercado, a
indústria automobilística precisa estar atenta a essa tendência e aos
movimentos que indicam que sua consolidação tende a se tornar uma realidade
cada vez menos longínqua”, diz Carlos Ayub.
No
entanto, segundo o estudo, os veículos que dispensam os motoristas ainda estão em
fase experimental. A indústria está, portanto, diante de um longo ciclo de
investimento de capital necessário para transferir a tecnologia dos veículos
autônomos ao mercado convencional. Para complicar esse cenário, as montadoras
reconhecem a necessidade imediata de investir em áreas de desenvolvimento de
conjuntos motores elétricos ou híbridos, materiais avançados mais leves,
conectividade e serviços de mobilidade.
“Embora
o retorno para os investimentos sejam projetados para um futuro mais distante,
é importante que as montadoras continuem a destinar recursos para o
desenvolvimento e a incorporação da tecnologia de condução autônoma. As
empresas que não acreditarem na necessidade de se preparar para as mudanças de
longo prazo que se desenham no mercado automobilístico estarão mais expostas a
riscos, à medida que a aceitação do consumidor pela tecnologia autônoma tenda a
avançar", explica Carlos Ayub.
Construindo
confiança
A
comprovação de um histórico de segurança na operação dos veículos autônomos é
fator essencial para garantir a confiança entre os consumidores, como aponta a
pesquisa. Só nos Estados Unidos, 71% dos participantes do estudo disseram que
estariam mais propensos a viajar em um veículo autônomo se tivessem acesso a um
registro de resultados com a confirmação de padrões de segurança de fato
apurados, percentual pouco acima ao apurado no estudo de 2017 (68%). Em outros
mercados, no entanto, essa exigência de comprovação de resultados em relação à
segurança dos veículos autônomos avançou mais, como no caso da Coreia do Sul,
com 83% dos consumidores querendo dados de comprovação de segurança (ante 70%
em 2017) e 63% dos consumidores alemães (acima dos 47% do ano passado) mantendo
a mesma visão.
As
grandes marcas fabricantes de veículos já estabelecidas no mercado são
apontadas como as mais confiáveis para garantir a segurança das tecnologias
autônomas. Na média entre os 15 mercados que foram objeto da pesquisa, 45% dos
participantes confiam mais nas montadoras tradicionais para que levem veículos
autônomos seguros às ruas. Outros 30% apostam em novas companhias dedicadas ao
desenvolvimento de veículos autônomos ou outras organizações dedicadas a essa
tarefa. O menor grupo, formado por 25% dos entrevistados, tem confiança nas
empresas de tecnologia existentes para realizar essa tarefa com sucesso.
“Mais
da metade dos brasileiros (52%, acima da média global do estudo, portanto) tem
mais confiança que as grandes e tradicionais montadoras liderem o
desenvolvimento das tecnologias de mobilidade autônoma de maneira segura e
confiável. Essa característica é representativa da força que essas empresas têm
em nosso mercado, mas também cobra responsabilidade delas em relação à
liderança nessa revolução tecnológica”, indica Carlos Ayub.
Demonstrando
algum ceticismo em relação à confiabilidade das companhias privadas,
consumidores também indicam que se sentirão mais seguros assim que as
instâncias governamentais estabeleçam normas e regulamentos para determinarem
as bases do processo de adoção das tecnologias de mobilidade autônoma. Como
referência, 54% dos norte-americanos aguardam as iniciativas governamentais
para se sentirem mais seguros.
Tipos
de
motorização
Mesmo
diante de uma melhor aceitação das novas tecnologias que podem levar ao veículo
guiado autonomamente, os consumidores ainda demonstram algum conservadorismo em
relação aos principais propulsores utilizados nos veículos. Na média entre as
15 regiões analisadas, 64% dos entrevistados disseram ter preferência por
sistemas motores movidos a gasolina ou a diesel. Outros 24% optariam por
veículos híbridos e 12% apostam em outras alternativas motoras.
África
do Sul (com 85% de indicações) e Estados Unidos (80%) lideram a lista dos
países que preferem os combustíveis fósseis para abastecer seus veículos. Na
outra ponta, 40% dos chineses e 36% dos italianos têm predileção por sistemas
motores híbridos. No Brasil, 66% ainda optariam por abastecer seus veículos com
combustíveis tradicionais, com apenas 13% apostando nos híbridos e 21%, em
outras alternativas.
"Os
preços dos veículos com propulsão alternativa, como os híbridos e elétricos,
ainda estão em um patamar mais elevado, o que pode justificar esse quadro. No
Brasil, essa realidade é ainda mais marcante. Isso pode mudar caso os projetos
de políticas públicas voltados ao incentivo do uso de veículos elétricos ou
híbridos sejam de fato implementados no país. Outra restrição é a falta de
infraestrutura e de uma rede preparada para reabastecimento de automóveis
elétricos em todo o país”, avalia o sócio da Deloitte.
E
enquanto a maioria dos consumidores de países como Alemanha (50%), Bélgica
(55%), Canadá (53%), França (58%) e Reino Unido (50%) afirma não estar disposta
a pagar mais pelos veículos de condução autônoma, 68% dos brasileiros
aceitariam gastar um adicional na compra de um carro com essa tecnologia.
“Diante
de uma maioria de consumidores, especialmente em países da Europa, que dizem
não querer pagar nada extra para ter veículos autônomos, a indústria automotiva
precisa tomar algumas decisões difíceis ao dedicar capital ao desenvolvimento
dessa tecnologia, além de ter atenção especial ao seu modelo de negócios, caso
esperem ganhar dinheiro com essas mudanças”, conclui Carlos Ayub.
Tendo
em vista os mais de um bilhão de veículos convencionais que circulam atualmente
pelas ruas e estradas ao redor do mundo – assim como as dezenas de milhões de
carros novos que continuam a ser vendidos anualmente – e que deverão durar pelo
menos ao longo da próxima década, a transformação da atual realidade de mobilidade
no sentido da incorporação dos veículos de condução autônoma levará algum tempo
para chegar a um ponto de inflexão.
Assim, os fabricantes de automóveis devem
equilibrar a inovação contínua e os novos modelos de negócios com a necessidade
de vender, atender e conquistar os consumidores atuais em relação às
tecnologias melhoradas pelas quais eles estariam mais dispostos a pagar no
curto prazo, como é o caso dos recursos de segurança, segundo aponta o estudo
da Deloitte.
Sobre
o estudo Global Automotive Consumer
Como
parte de uma avaliação contínua do comportamento do consumidor, a Deloitte
aplicou recentemente sua pesquisa a mais de 22.000 consumidores de 15 regiões
(incluindo 17 países ao redor do mundo) para expor as preferências dos
consumidores em relação a questões críticas que afetam o setor automotivo.
O
objetivo geral do estudo é buscar indicações e apontar respostas a questões
importantes que podem ajudar as empresas a melhor priorizar suas ações e
posicionar estratégias e investimentos comerciais.
Além
do Brasil, a pesquisa foi feita com consumidores da África do Sul, Alemanha,
Bélgica, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Itália,
Japão, México e Reino Unido, além da região Sudeste Asiático (formada por
Indonésia, Malásia e Tailândia).
Deloitte
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