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quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Três pontos para refletir sobre o massacre na escola na Flórida



O recém massacre de estudantes na escola da Flórida, nos EUA, que deixou 17 mortos, entre alunos e funcionários, despertou novamente a pergunta do motivo da recorrência desses episódios no país norte-americano. O ocorrido faz pensar quais as reflexões e aprendizagem que se deve ter, com certa urgência, aqui no Brasil e no mundo com relação a este atentado.

Para o Professor e Doutor Rabino Samy Pinto a primeira questão que se deve pensar é sobre a comercialização de armas e sobre como a facilidade em obtê-las parece ser uma característica da sociedade americana. “É preciso entender que a arma de fogo é um instrumento que deveria ser de competência única e exclusiva da polícia e do exército, para a defesa dos cidadãos e das leis que regem a sociedade. Um exemplo é o caso de Israel, morei e estudei por dez anos no país, e era comum ver metralhadoras pelas ruas, mas sempre na mão de militares e policiais. E mesmo assim não tínhamos episódios como o da Flórida, porque o armamento não estava nas mãos dos civis, e sim das autoridades. Essa facilidade da população conseguir se armar não deve ser chamada de democracia, mas sim de irresponsabilidade”, comenta o Rabino.

Além de refletir sobre se há na sociedade americana uma flexibilidade exagerada para o porte de armas, outro ponto a agregar neste debate é sobre a saúde mental e distúrbios psíquicos da sociedade atual. “Estudos mostram que ultimamente as pessoas estão frustradas, depressivas e revoltadas com a situação em que se encontram. Ao olhar essa questão, vale pensar no caminho que a humanidade está seguindo para produzir tanta revolta, frustração e desequilíbrio na mente de um jovem, a ponto dele tomar uma atitude que nada poderia justificar”, questiona Samy.  

O rabino Samy Pinto ainda aponta uma terceira questão para se avaliar no massacre na escola da Flórida, a relação da escola com o aluno. Um dos pontos levantados no debate foi o fato do autor do ataque, Nikolas Cruz, ter sido expulso da escola, então questões educacionais devem ser consideradas e revistas: “o que leva um estudante a repetir de ano?” e “o que faz um adolescente ser expulso da escola?”. “Que sinalização o aluno já está dando para nós educadores de que algo está errado? Uma coisa é certa, um estudante que não atende a escola, já não está atendendo a sociedade, e isso precisa ser levado com maior seriedade pelo Estado. Eu sempre defendi que a escola não prepara para a vida, já é uma demonstração dela”, comenta.

A escola é um ambiente em que o indivíduo aprende a conviver com outras pessoas, a ter e a respeitar a liberdade, conhecer sobre a diversidade, porque ninguém é igual ao outro, e também aprender a repartir com o próximo. “Um aluno que está sendo reprovado no sistema escolar, ou sendo expulso dele, não encontra outra alternativa a não ser lutar contra uma sociedade que o expulsou por não estar de acordo com ela. Ele não está inserido na instituição, não está sendo reconhecido e portanto a agride. Como dizia Paulo Freire, a escola é uma ciência de transformação, então as pessoas que não atendem a escola, não se transformaram portanto são eliminadas. No que elas são eliminadas, elas se colocam contra”, explica Samy.

De acordo com o Professor Dr. Rabino Samy Pinto, esses são pontos de reflexão, é preciso uma tarefa multidisciplinar para debater e encontrar caminhos para que se façam projetos preventivos e se evite que novos episódios aconteçam, seja nos EUA ou em qualquer parte do mundo.



Rabino Samy Pinto - formado em Ciências Econômicas, se especializou em educação em Israel, na Universidade Bar-llan, mas foi no Brasil que concluiu seu mestrado e doutorado em Letras e Filosofia, pela Universidade de São Paulo (USP). O Rav. Samy Pinto ainda é diplomado Rabino pelo Rabinato chefe de Israel, em Jerusalém, e hoje é o responsável pela sinagoga Ohel Yaacov, situada no Jardins também conhecida como sinagoga da Abolição.



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