A exposição à violência no ambiente
de trabalho configura um sério problema para os pediatras brasileiros. Essa
conclusão é da pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha a pedido da
Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), que revelou a percepção desses
especialistas sobre o tema. De acordo com o levantamento inédito, divulgado na
abertura do 38º Congresso Brasileiro da especialidade (CBP), dois em cada 10
pediatras afirmam que sofrem com frequência situações de violência no
trabalho.
Esse problema afeta diretamente o
cotidiano de 26% dos pediatras que trabalham apenas no SUS e de 26% dos que se
dividem entre a rede pública e consultórios de planos de saúde. Entre os
profissionais que atuam apenas em consultórios particulares, o indicador é um
pouco menor (12%).
O sentimento de exposição à violência
é maior entre as mulheres (24%) e nas faixas etárias que vão de 26 a 34 e de 35
a 44 anos (30%em cada uma). Do ponto de vista da distribuição geográfica, a
percepção é mais significativa nas regiões Norte (26%) e Sudeste (25%). Por
outro lado, ela é menor no Sul do País (16%) e nos municípios do interior
(19%), que é seis pontos percentuais abaixo do que se relatado nas regiões
metropolitanas (24%).
AGRESSÃO VERBAL - Os dados revelam ainda que um quarto dos entrevistados
sofreu agressão no trabalho nos últimos 12 meses. A agressão verbal é a mais
comum. Isso se traduz na forma de insultos, xingamentos, ofensas ou
intimidações. No entanto, há relatos de agressões físicas e psicológicas.
“Esses dados são extremamente graves,
pois vão desde agressão verbal até ameaça de morte, lamentavelmente”, comentou
a dra. Luciana Rodrigues Silva, presidente da SBP. Durante a cerimônia de
abertura do 38º CBP, oportunidade em que os dados foram apresentados, ela citou
o caso da pediatra Milena Gottardi Tonini Frasson, assassinada na saída de um
plantão em um hospital de em Vitória (ES).
Dentre as mulheres, 26% informaram
ter passado por esse tipo de situação no período apurado. Do ponto de vista da
idade, os problemas foram vivenciados por 39% dos que têm idades de 26 a 34
anos. Logo depois, vem os que estão inseridos na faixa de 35 a 44 anos, dentre
os quais 35% passaram por essa dificuldade.
Do ponto de vista de distribuição
geográfica, as regiões onde houve maiores relatos de casos de agressão contra
pediatras em ambiente de trabalho, nos últimos 12 meses, foram,
respectivamente: Sudeste (25%), Norte (24%) e Nordeste (24%). As situações são
mais frequentes nas regiões metropolitanas (25%).
Pediatras dão nota baixa para a
infraestrutura oferecida pelos serviços da rede pública
A maioria dos pediatras brasileiros
tem uma percepção negativa das condições de trabalho oferecidas nos serviços da
rede pública. Para 85% dos entrevistados, a infraestrutura disponível oscila
dentre os conceitos péssimo (15%), ruim (35%) e regular (35%). Essa é uma das
principais constatações de pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha a pedido
da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
Os dados inéditos foram divulgados
nesta quarta-feira (11) pela presidente da SBP, Drª Luciana Rodrigues Silva, na
solenidade de abertura do 38º Congresso Brasileiro de Pediatria, que acontece
até o próximo sábado (14), no Centro de Eventos do Ceará, em Fortaleza. As
notas mais baixas atribuídas aos serviços do SUS predominaram nos municípios de
regiões metropolitanas, onde 89% dos respondentes classificaram as instalações
como ruins, péssimas ou regulares. Por outro lado, as avaliações mais positivas
(bom ou ótimo) predominaram nas cidades do interior, com 15% das menções.
No caso dos consultórios, clínicas e
hospitais vinculados aos planos de saúde, a percepção sobre a infraestrutura
oscilou nas seguintes escalas: péssimo (1%), ruim (4%) e regular (29%). Nesse
segmento, as notas mais negativas prevaleceram nos municípios do interior
(35%). Com respeito aos conceitos bom ou ótimo, o destaque surgiu nas regiões
metropolitanas (68%).
“Esses dados são muito importantes,
pois chamam atenção para a necessidade imediata e absoluta de melhorar as
condições de trabalho dos nossos profissionais. Cerca de 38% da rede pública
considera a situação de trabalho regular, o que é totalmente diferente da
situação privada, onde 67% consideram a condição como adequada”, explica a
presidente da SBP, dra. Luciana Rodrigues Silva.
Os percentuais dialogam com
levantamentos recentes, divulgados pela SBP e pelo Conselho Federal de Medicina
(CFM), que apontam uma série de gargalos na rede pública de assistência. Dentre
os problemas relatados estão a falta de infraestrutura em postos de saúde e o
déficit no número de leitos para internação, o que dificulta a realização de
tratamentos que exijam acompanhamento em ambiente hospitalar ou até a execução
de procedimentos cirúrgicos eletivos.
DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA - Os dados da pesquisa também oferecem importantes pistas
sobre o perfil do pediatra brasileiro. De acordo com o apurado, a maioria se
concentra no Sudeste, que responde por 54% desses especialistas. Apenas no
estado de São Paulo estão 32% deles. Nas regiões Sul e Nordeste, atuam 32%
desses profissionais (16% em cada uma). Por sua vez, o Centro-Oeste e o Norte
do País agrupam, respectivamente, 7% e 5%.
Do total de pediatras brasileiros, a
imensa maioria (91%) trabalha diretamente na assistência pediátrica, ou seja,
estão envolvidos no processo de atendimento a pacientes e seus familiares em
postos de saúde, ambulatórios, clínicas ou hospitais, nas redes pública ou
privada. Desse total, 95% estão em municípios do interior, sendo que essa
presença é mais significativa no Norte (97%) e no Sul (95%) do País.
Em termos nacionais, os 9% restantes
se dedicam a atividades de ensino, pesquisa ou gestão. Nesse universo, eles se
destacam nos municípios de regiões metropolitanas (11%) e nas regiões
Centro-Oeste (15%) e Sudeste (10%).
Com respeito ao tipo de vínculo de
trabalho, 53% dos pediatras dividem seu tempo em atividades na rede pública, em
atendimento a planos de saúde e consultas particulares. Dentre os
entrevistados, 21% se dedicam apenas ao Sistema Único de Saúde (SUS) e outros
22% atuam exclusivamente na área privada. Do grupo, se destacam entre os que
mantém vínculos exclusivos com a rede pública as mulheres (23%) e a faixa
etária de 33 a 59 anos (47%).
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