A meningite é um processo inflamatório das
meninges, membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal, e pode ser
desencadeada por vários tipos de agentes, sendo os principais, vírus e
bactérias. No Brasil, a meningite é considerada uma doença endêmica, ou seja,
casos do problema são esperados ao longo de todo o ano, sendo mais comum a
ocorrência das meningites bacterianas no inverno e das virais, no verão. A
vacinação é a principal ferramenta na prevenção da doença bacteriana. Para
falar sobre os principais tipos de meningite, suas causas, sintomas e
tratamento, o infectologista pediátrico do Instituto Nacional de Saúde da
Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) Leonardo
Menezes responde às principais dúvidas sobre a doença.
Quais
são os sintomas?
Os sintomas variam de acordo com a faixa
etária. As crianças maiores de dois anos de idade apresentam, na maioria das
vezes, cefaleia (dor de cabeça), vômitos, febre, dor, rigidez de nuca com ou
sem manchas na pele. Nas crianças menores, os sintomas se apresentam de uma
forma mais inespecífica, como: sonolência ou irritabilidade intensa, choro
inconsolável, recusa em mamar, febre alta, abaulamento de fontanela (moleira
alta).
Como se
transmite?
Em geral, a transmissão é de pessoa para
pessoa, através das vias respiratórias, por gotículas e secreções do nariz e da
garganta. A transmissão fecal-oral ((ingestão de água e alimentos contaminados e contato com fezes) é de grande
importância para a meningite viral, em infecções por enterovírus.
Como é feito o diagnóstico da doença? E o
tratamento?
O diagnóstico da doença é feito a partir da
suspeita clínica e confirmado através da análise do líquido cefalorraquidiano
obtido, na maioria das vezes, por meio de uma punção lombar. O tratamento das
formas virais se dá apenas com medidas de suporte e sintomáticos, enquanto, que
a doença bacteriana necessita do uso de antibióticos, além das medidas adotadas
nas formas virais. Destaca-se que o uso dos antibióticos deve acontecer,
idealmente, o mais precoce possível.
Existe alguma forma de
prevenção?
A vacinação é a forma mais eficaz de
prevenção. O calendário vacinal oficial brasileiro oferece vacinas contra meningococo
do tipo C, Haemophilus Influenzae do tipo B, Pneumococo e Tuberculose. O
serviço público oferece também a vacina para meningococo do tipo A, porém, essa
opção só é utilizada em casos de surtos e epidemias por esse sorotipo. Existem
as vacinas para meningococo dos tipos A, B, Y e W 135, contudo, só estão
disponíveis na rede privada.
Existe também a possibilidade
de prevenção com uso de antibióticos para os contactantes de casos de meningite
por meningococo e por Haemophilus Influenzae. No entanto, esse tipo de
abordagem deve ser dirigida e realizada pelas autoridades de saúde ou pelos
serviços de saúde responsáveis pelos casos de meningite. Para as meningites
virais, ainda não existem formas eficazes de prevenção.
Existe algum grupo que esteja
mais vulnerável à doença, ou qualquer pessoa, em qualquer idade está sujeita a
contrair a doença?
Qualquer pessoa está sujeita a ter a
doença, porém, as pessoas que não foram vacinas, crianças menores de um ano de
vida, os adolescentes e os idosos apresentam maiores chances de contraírem a
doença.
A meningite pode ter relação
com algum quadro de infecção, como gastroenterite ou otite?
A meningite infecciosa está relacionada a
qualquer infecção que possa acarretar uma invasão da corrente sanguínea por
agentes infecciosos. Normalmente, o agente infeccioso ganha a corrente
sanguínea e atinge o sistema nervoso central, causando a inflamação das
membranas meníngeas.
Crianças de creches, berçários
e escolas estão mais suscetíveis à doença?
Crianças de creches ou em fase de
escolaridade são mais acometidas do ponto de vista epidemiológico. Isso pode se
dar por vários motivos, desde um sistema imunológico ainda em formação e
exposto aos novos agentes infecciosos de maneira mais prevalente do que o resto
da população, até a convivência com outras crianças com as mesmas
características em locais fechados e aglomerados.
Em estações como outono e
inverno, em que os ambientes tendem a ficar fechados, a incidência de
contaminação é ainda maior. Medidas simples, como lavar as mãos, não
compartilhar talheres e alimentos, manter o ambiente limpo e os brinquedos
higienizados, podem evitar o contágio, não só da meningite, mas também de
outras doenças. Outra orientação importante é manter o cartão de vacinação das
crianças atualizado.
O diagnóstico precoce reduz o agravamento da doença?
Explique.
Sim, sobretudo nas formas
bacterianas, onde a administração do antibiótico de forma precoce pode diminuir
as complicações e a mortalidade. Além dos antibióticos, a adoção de medidas de suporte
(controle de dor, febre, náuseas/vômitos e suporte das condições vitais), de
maneira precoce e intensa também atuam em conjunto com os antibióticos para o
mesmo objetivo. A doença causada por vírus, habitualmente, possui um melhor
prognóstico e menos complicações.
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