Problema de saúde pode acabar com a vontade de
viver, mas tem tratamento e cura em muitos casos
De vez em quando
é normal ficar desanimado ou triste. Mas quando a tristeza se intensifica e
atrapalha as atividades do dia a dia pode ser um transtorno cerebral bastante
conhecido: a depressão. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS),
aproximadamente 322 milhões de pessoas no mundo sofrem desse mal. No nosso
país, estima-se que esse número chegue a 11,5 milhões de brasileiros. Em 2020,
a depressão será a doença que mais impactará as pessoas.
“O
diagnóstico precoce é importante para que o tratamento ocorra o quanto antes.
Infelizmente, muitas pessoas levam anos para procurar um especialista e sofrem
com os sintomas que podem ser incapacitantes”, explica Rafael Brandes Lourenço,
especialista em psicogeriatria pelo Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da USP e psiquiatra pela Associação Brasileira de
Psiquiatria (ABP).
Os sintomas variam bastante,
mas os principais são: tristeza, perda de prazer e interesse por atividades que
gostava, falta de disposição, alterações no sono, sentimentos de desesperança,
falta de libido, mudanças no apetite, pensamentos relacionados à morte e até
tentativa de suicídio. “Na consulta com um psiquiatra, o paciente e seus
familiares conversarão sobre os sintomas que vêm ocorrendo. O médico
investigará quando começaram esses sinais, qual a intensidade e como atrapalham
a rotina do paciente”.
O tratamento costuma ser
realizado com antidepressivos. Há uma variedade de medicamentos e todos visam
reduzir ou aliviar os sintomas da depressão. “Os medicamentos podem ser
utilizados em quadros de depressão leve, mas são usados nas
depressões moderadas e graves. A fase aguda (quando o paciente tem mais
sintomas) do tratamento dura entre 6 e 12 semanas. Depois da melhora, mantemos
o remédio por mais 4 a 9 meses, o que é chamado fase de continuação, e por um
ano ou mais, fase de manutenção.
O especialista lembra que,
em todos os casos, nos primeiros meses existe alto risco de recaída, por isso,
há a orientação de continuar o uso da medicação após a remissão dos sintomas.
“O correto é que sejam reduzidos de forma gradual e suspensos com supervisão
médica, para diminuir o risco de ter um novo episódio depressivo."
Além do tratamento com
medicação, a pessoa que está deprimida pode precisar de psicoterapia para
ajudá-la a identificar e trabalhar fatores que possam causar a doença. As
questões emocionais (ligadas ao estresse) podem se unir a questões genéticas e
a desequilíbrios químicos cerebrais. “Outra questão bastante importante é em
relação à dependência de medicamentos antidepressivos. Isso não ocorre em
pesquisas ou na prática clínica. Apesar disso, os remédios agem no Sistema
Nervoso Central e são vendidos com receitas de controle especial. Há diversos
medicamentos disponíveis no mercado e apenas o especialista consegue definir
qual é indicado em cada caso e se existe algum risco a ser monitorado”, afirma.
A boa notícia é que o
tratamento para depressão não costuma durar a vida toda. O psiquiatra destaca
que cerca de 70% dos casos não são complicados. "Quando é o primeiro
episódio depressivo a fase de continuação dura por um ano. O tratamento
torna-se mais extenso quando se dá o segundo episódio depressivo ou mais.
Costumeiramente, os casos difíceis são aqueles que demoram a procurar ajuda,
avançando em gravidade ou complicados do ponto de vista neurobiológico."
Há ainda preconceito em
relação ao uso de medicamentos, mas a depressão é um transtorno cerebral que
deve ser tratado. “Não há porque se envergonhar; é um problema de saúde que
ocorre por vários fatores, atingindo homens e mulheres de todas as idades.
Procurar ajuda de um médico é o primeiro passo para voltar a ser feliz”,
finaliza.
Dr.
Rafael Brandes Lourenço –
é psiquiatra pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Psicogeriatra e
médico do sono pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
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