Pesquisar no Blog

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Rio de Janeiro




Borges cantou sua cidade e os dramas nodosos do Mississipi. 

Aristóteles sucumbiu à saída de sua amada Atenas, evasão de divisas, 

pois Alexandre, o Grande,  destinava-lhe o produto de suas conquistas, 

despertando assim o fervor cívico de burocratas impolutos. 

Nunca fui seu poeta caminhante, Rio, que nada devia a Buenos Aires, 

até que lá permaneceu a Capital, e nossos políticos se mudaram 

para ocultar nos cerrados longínquos seus propósitos republicanos 

nada a rever ou a arrepender-se, se a república é reprovada,

tudo faz parte do jogo e o jogo é para homens, não preocupados, 

se conterrâneos são cancerosos ou morrem de febre amarela, 

todos conhecem com perfeição as fontes de que jorram votos. 

Escondidos no pâncreas do país de que se apropriaram 

longe das revoluções das ondas do mar e das ondas dos oprimidos 

veio a sensação medieval do domínio absoluto e incontestável. 

A velha e orgulhosa capital, mansa, pacífica, elegante, culta, 

e capaz de provocar suicídios, grandes debates, catilinárias, 

nos momentos cruciais da nação, de suas curvas sem controles, 

aos poucos foi perdendo a energia mágica de seu povo 

e suas poesias, seus poetas, suas tardes de encantos e tertúlias. 

A miséria extrema subiu o morro, com armas, tóxicos e tráficos 

as quadrilhas do velho e rubro Mississipi da melancolia de Borges 

passaram a enfrentar-se com armas mais modernas e igualmente 

integrantes da história universal da canalhice e da infâmia sórdida. 

Nosso Rio de Janeiro morreu sob as bênçãos do Cristo de braços 

abertos, que receberão todas as favelas, todos os pobres, todos 

os trabalhadores, todos os traficantes temerosos da legalidade, menos os trânsfugas, 

que se assenhorearam da coisa pública e construíram seus presídios.                                          
                   




Amadeu Roberto Garrido de Paula - poeta e autor do livro "Universo Invisível". Advogado e membro da Academia Latino-Americana de Ciências Humanas.  





Nenhum comentário:

Postar um comentário

Posts mais acessados