Borges cantou sua cidade e os dramas nodosos do
Mississipi.
Aristóteles sucumbiu à saída de sua amada Atenas,
evasão de divisas,
pois Alexandre, o Grande, destinava-lhe o
produto de suas conquistas,
despertando assim o fervor cívico de burocratas
impolutos.
Nunca fui seu poeta caminhante, Rio, que nada devia a
Buenos Aires,
até que lá permaneceu a Capital, e nossos políticos se
mudaram
para ocultar nos cerrados longínquos seus propósitos
republicanos
nada a rever ou a arrepender-se, se a república é
reprovada,
tudo faz parte do jogo e o jogo é para homens, não
preocupados,
se conterrâneos são cancerosos ou morrem de febre
amarela,
todos conhecem com perfeição as fontes de que jorram
votos.
Escondidos no pâncreas do país de que se
apropriaram
longe das revoluções das ondas do mar e das ondas dos
oprimidos
veio a sensação medieval do domínio absoluto e
incontestável.
A velha e orgulhosa capital, mansa, pacífica,
elegante, culta,
e capaz de provocar suicídios, grandes debates,
catilinárias,
nos momentos cruciais da nação, de suas curvas sem
controles,
aos poucos foi perdendo a energia mágica de seu
povo
e suas poesias, seus poetas, suas tardes de encantos e
tertúlias.
A miséria extrema subiu o morro, com armas, tóxicos e
tráficos
as quadrilhas do velho e rubro Mississipi da
melancolia de Borges
passaram a enfrentar-se com armas mais modernas e
igualmente
integrantes da história universal da canalhice e da
infâmia sórdida.
Nosso Rio de Janeiro morreu sob as bênçãos do Cristo
de braços
abertos, que receberão todas as favelas, todos os
pobres, todos
os trabalhadores, todos os traficantes temerosos da
legalidade, menos os trânsfugas,
que se assenhorearam da coisa pública e construíram seus
presídios.
Amadeu Roberto Garrido de Paula -
poeta e autor do livro "Universo Invisível". Advogado e membro da
Academia Latino-Americana de Ciências Humanas.
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