O Brasil é um dos países pioneiros no implante de
marcapassos e mesmo assim, segundo dados do Censo Mundial de Marcapassos e
Desfibriladores, são implantados apenas 215 dispositivos por milhão de
habitantes, um número que demonstra atraso em relação a outros países como
Argentina, Uruguai e Porto Rico, além dos europeus.
O marcapasso é cercado por uma série de mitos que
fazem com que médicos não especialistas e pacientes tenham dúvidas e até mesmo receio quanto à sua
utilização. Muitas destas dúvidas estão relacionadas às limitações, que são
raras, no dia a dia dos portadores desses dispositivos.
Outros fatores que contribuem para um número menor
de implantes em nosso país são:
- A desinformação sobre as reais indicações segundo
as nossas diretrizes para implantes de marcapasso, desfibriladores e
ressincronizadores;
- As dificuldades para liberação destas próteses
pelos órgãos governamentais locais;
- A distância para os grandes centros que são
habilitados para realização desses procedimentos.
“O assunto é muito mal compreendido no país. As
pessoas não sabem como o dispositivo funciona, nem quando é indicado. Além
disso, convivem com uma série de mitos que ajudam a criar um preconceito em
relação aos implantes”, explica Carlos Eduardo Duarte, médico especialista em
Estimulação Cardíaca e colaborador da ABEC/DECA - Associação Brasileira de Arritmia, Eletrofisiologia e
Estimulação Cardíaca Artificial/Departamento de Estimulação Cardíaca
Artificial.
Para ajudar a mudar esta realidade, a ABEC / DECA conta com uma campanha
anual, o Dia do Portador de Marcapasso, em que distribui um material didático
que esclarece as principais dúvidas sobre o tema, como estas abaixo:
* O que é – O marcapasso é um dispositivo
eletrônico que foi idealizado para corrigir determinadas doenças do coração que
reduzem a frequência dos batimentos cardíacos e produzem sintomas
incapacitantes. O dispositivo substitui o sistema elétrico natural do coração
que, em condições normais, trabalha com ritmo e
frequência adequadas, respondendo de acordo com as necessidades do corpo
humano.
* Quando é utilizado – É utilizado para aumentar a
frequência cardíaca nas doenças que reduzem as propriedades elétricas do
coração. Isso porque o paciente que necessita do dispositivo tem um coração
lento, que, batendo devagar, pode produzir sintomas como tonturas, vertigens,
desmaios, cansaço, falta de ar e inchaço nas pernas. “Com o marcapasso, o
coração volta a bater com frequência normal”, afirma Duarte.
* Como funciona – O marcapasso é composto por um
gerador (circuito eletrônico e uma bateria) e eletrodos, que são fios metálicos
revestidos por uma fina camada de silicone. Conectados ao gerador, eles
conduzem a eletricidade para o coração.
* Tipos – Existe, ainda, o Marcapasso
Ressincronizador, recomendado a portadores de insuficiência cardíaca congestiva
e dissincronia. Ou seja, este modelo não está ligado à lentidão dos batimentos.
Diferencia-se por estimular as duas metades inferiores do coração (ventrículos)
ao mesmo tempo, corrigindo uma dissincronia que existe entre elas.
Já o Cardiodesfibrilador Implantável (CDI) é
indicado em casos de doenças que fazem o coração bater acelerado, chamadas
taquicardias. Com a frequência muito alta, o órgão não enche completamente e
não há oxigênio suficiente para o corpo, podendo provocar tonturas, desmaios,
pressão arterial baixa e até parada cardíaca.
* Dia a dia do portador – Este é o tema acerca do
qual surgem os principais mitos. Ao contrário do que se fala por aí, são poucas
as limitações cotidianas do portador. Os eletrodomésticos em geral, incluindo o
micro-ondas, podem ser utilizados sem restrições, assim como os telefones
celulares.
Todo portador possui um documento de identificação
que dá o direito de entrar por uma porta diferente das giratórias nos bancos,
sem o detector de metais. “Em relação à atividade física, o marcapasso em si não
impossibilita os exercícios, mas, muitas vezes, a doença cardíaca do portador é
limitante. Por isso, deve haver uma avaliação do cardiologista”, explica
Duarte.
Segundo o especialista, um dos maiores desafios do
segmento é a conscientização dos médicos, por meio de informação e formação. Um
melhor conhecimento desta especialidade levará ao diagnóstico precoce e,
desta forma, o marcapasso será implantado de forma eletiva. “Nem sempre é
necessário esperar o paciente ficar mal para indicar a cirurgia, às pressas e
com urgência”, conclui.
As ações de conscientização da terceira edição do
Dia do Portador de Marcapasso, realizada em 23 de setembro de 2016, atingiram
cerca de 30 mil pessoas, em 38 cidades de 20 estados brasileiros.
Sobre a
ABEC/DECA – A ABEC/DECA - Associação Brasileira de Arritmia,
Eletrofisiologia e Estimulação Cardíaca Artificial/Departamento de Estimulação
Cardíaca Artificial faz parte da Sociedade Brasileira de Cirurgia
Cardiovascular (SBCCV). O DECA foi fundado em 1986 por cardiologistas,
cirurgiões cardíacos e outros médicos interessados no tema. Durante esses 29
anos, mantém seus objetivos de agregar, disciplinar e capacitar os
profissionais da medicina envolvidos na área de estimulação cardíaca
artificial.
Atualmente, o DECA conta com
mais de 700 associados em todo o Brasil, que realizam em média 18 mil implantes
de marcapassos, desfibriladores e ressincronizadores por ano, para pacientes
previdenciários (SUS), particulares ou conveniados.
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