Exames cerebrais logo após o nascimento preveem
sintomas posteriores
Os
primeiros fatores que permitem prever a ansiedade e a depressão podem ser
observados no cérebro logo após o nascimento, sugere um estudo publicado na
edição de fevereiro de 2017 do Jornal da Academia Americana de Psiquiatria da
Criança e do Adolescente (Journal of the American Academy of Child and
Adolescent Psychiatry - JAACAP), publicado pela Elsevier.
Analisando
exames cerebrais de recém-nascidos, pesquisadores descobriram que a força e o
padrão das conexões entre a amígdala e certas regiões cerebrais podem prever a
probabilidade dos bebês desenvolverem maiores sintomas de internalização, tais
como tristeza, timidez excessiva, nervosismo ou ansiedade de separação até os
dois anos de idade. Tais sintomas estão sendo associados à depressão clínica e
transtornos de ansiedade em crianças mais velhas e adultos.
“O
fato de podermos identificar esses padrões de conectividade no cérebro logo
após o nascimento ajuda a responder a uma questão crítica sobre se eles
poderiam ser responsáveis pelos sintomas precoces ligados à depressão e
ansiedade ou se os sintomas em si levam a alterações no cérebro”, disse Cynthia
Rogers, mestre e professora assistente de psiquiatria infantil. “Nós
descobrimos que já no nascimento, as conexões cerebrais podem ser responsáveis
pelo desenvolvimento de problemas posteriores, ao longo vida”.
Inicialmente,
a Dra. Rogers e sua equipe se propuseram a identificar as diferenças na
conectividade cerebral funcional – isto é, a coordenação de atividades em
diferentes partes do cérebro – entre bebês nascidos prematuramente e bebês
nascidos a termo. Eles realizaram exames de ressonância magnética funcional em 65
recém-nascidos a termo, e 57 recém-nascidos prematuros nascidos pelo menos dez
semanas antes do tempo. Os últimos foram examinados na data do nascimento, ou
próximo dela. Os pesquisadores buscaram diferenças nos padrões de conectividade
de várias regiões do cérebro, na esperança de encontrar evidências para
explicar por que os bebês prematuros enfrentam um maior risco de desenvolver
problemas psiquiátricos – incluindo depressão e ansiedade – mais tarde em suas
vidas. Em particular, a equipe se concentrou na maneira como uma estrutura
envolvida no processamento de emoções, chamada amígdala, se conecta com outras
regiões do cérebro.
Primeiro,
eles descobriram que os bebês saudáveis, nascidos a termo, tinham padrões de
conectividade entre a amígdala e outras regiões do cérebro semelhantes aos
padrões registrados em estudos anteriores realizados em adultos. Embora
houvesse padrões semelhantes de conectividade nos bebês prematuros, a força de
suas conexões entre a amígdala e outras regiões cerebrais era reduzida.
Ainda
mais interessante, eles observaram que os padrões de conexão entre a amígdala e
outras estruturas – como a ínsula, que está relacionada à consciência e às
emoções, e o córtex pré-frontal medial, que desempenha funções no planejamento
e na tomada de decisões – aumentaram o risco de sintomas precoces relacionados
a depressão e ansiedade.
Quando
os bebês completaram dois anos de idade, um subconjunto deles foi submetido a
avaliações de acompanhamento para buscar sintomas precoces de ansiedade e depressão.
Os pesquisadores avaliaram 27 crianças nascidas prematuramente, e 17 nascidas a
termo.
“As
crianças nascidas prematuramente não apresentaram maior probabilidade de exibir
sinais precoces de ansiedade e depressão do que as crianças nascidas a termo”,
disse a Dra. Rogers. “Parte disso pode ter sido devido ao fato de que algumas
crianças nascidas a termo já corriam o risco de apresentar sintomas devido a
fatores socio-demográficos, tais como viver na pobreza ou ter uma mãe com
depressão clínica ou transtorno de ansiedade. Além disso, a gravidade destes
sintomas de ansiedade precoce foi correlacionada com padrões de conectividade
observados nos bebês de ambos os grupos”.
Os
pesquisadores também pretendem avaliar novamente todas as crianças que
participaram do estudo ao completarem 9 a 10 anos de idade, para saber se as
conexões cerebrais continuam a influenciar o risco de depressão e transtornos
de ansiedade. “Temos uma subvenção sob análise para convocar de volta todas as
crianças nascidas prematuramente quando estiverem mais velhas, juntamente com
as crianças nascidas a termo, e pretendemos estudar como seus cérebros se
desenvolveram ao longo do tempo”, observou a Dra. Rogers.
“Queremos
determinar se elas ainda possuem muitas das mesmas diferenças na conectividade,
se houve alguma mudança nas conexões estruturais e funcionais de seus cérebros
e como tudo isso se relaciona com o fato delas terem - ou não - sintomas de
transtornos psiquiátricos”.
JAACAP - Jornal da Academia Americana de Psiquiatria da
Criança e do Adolescente (Journal of the American Academy of Child and
Adolescent Psychiatry - JAACAP)
www.jaacap.com
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