A
opção por cursar Medicina nasce do desejo genuíno de cuidar das pessoas, bem
como de zelar pelo bem-estar do outro; ao menos na maioria dos casos. Porém,
esse sonho não raramente vira pesadelo, quando se vence a etapa do vestibular
em diversas escolas médicas do Brasil.
Lamentavelmente
a má qualidade da formação predomina em nosso País sob as vistas grossas das
autoridades responsáveis pelo ensino e a saúde, entre outras. Assim, vemos
jovens estudantes com potencial incrível tornarem-se vítimas de um estelionato
da pior espécie.
O
péssimo nível de docentes, a estrutura inadequada das faculdades, a falta de
hospital-escola são flagrantes. Como em medicina praticamente não há
reprovação, em curto espaço de tempo colocamos na linha de frente do
atendimento milhares de profissionais com formação inadequada e insuficiente.
Há
quem diga que as lacunas de conhecimento podem ser corrigidas durante a
residência. Falácia. Guardadas as proporções, isso seria como preparar o
alicerce depois da casa construída.
Devido
à mercantilização da formação e ao descompromisso social de maus empresários do
ensino e gestores, o Brasil já é o segundo país do mundo com maior quantidade
de cursos de Medicina. Os alunos concluem a graduação despreparados, pois não
se leva em conta questões de suma importância para quem lidará com vidas
humanas. Alguns possuem até certo nível de escolaridade, mas não a base
necessária de educação médica.
Educação
médica tem como esteio a ética, a moral, a construção de valores e a cidadania.
Investe na construção do conhecimento e no aprendizado à beira do leito. Médico
precisa obrigatoriamente ter princípios e gostar de gente. Mas isso não é a
regra hoje em dia.
O
Exame do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP), já em
sua 11ª edição, é uma evidência das distorções que aqui exponho. Em 2016, houve
reprovação de 48% dos participantes. Ou seja, quase metade dos recém-formados
não conta com a base mínima para passar na prova, que é bem rasa, aliás.
Principalmente os que saem das instituições particulares, cujo percentual de
inaptos chega a 58%.
Recente
levantamento da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas com médicos e
acadêmicos da região concluiu que 61% alegam que a faculdade não contribuiu em
nada, ou de forma pífia, para atuação frente ao mercado de trabalho, em relação
às operadoras de saúde. Além disso, a mesma declaração é utilizada referente à
gestão e administração do negócio (57%) e do direito médico (30%). Ou seja, o
profissional sai das escolas sem capacidade de lidar com os problemas da
sociedade e com a rotina do ambiente de trabalho.
Saúde
é coisa séria. Escolas médicas sem estrutura necessária para munir o
especialista com conteúdo científico, humano e prático contribuem compromete a
segurança da população. Aliás, pensar somente no aspecto monetário desse.
processo é desconsiderar o fator humano. É, volto a frisar, estelionato.
Antonio
Carlos Lopes - presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica
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