Iniciativas
públicas e privadas são implantadas para reverter a condição da Araucaria
angustifolia
A
araucária, árvore símbolo do Paraná, está entre as espécies da flora brasileira
ameaçadas de extinção e com alto risco de desaparecimento na natureza em um futuro
próximo. Faz parte da lista de espécies ameaçadas de extinção da IUCN (The
World Conservation Union - A União Internacional para Conservação da Natureza)
e da Lista Oficial de Espécies da Flora Brasileira Ameaçada de Extinção do
IBAMA - Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis. De vulnerável, em 1998 e 2000, a Araucaria
angustifolia passou para a categoria ‘criticamente em perigo’ em
2006.
Pesquisas
indicam que a Floresta com Araucária já perdeu aproximadamente 97% de sua área
original, o que compromete totalmente a variabilidade genética da araucária.
Esse quadro se deve, dentre outros fatores, à conversão das áreas de florestas
nativas (Floresta com Araucária) para a agricultura, ao crescimento das cidades
e ao uso da madeira. Em 2001, mapa do Ministério do Meio Ambiente já mostrava
que áreas de floresta com araucária em estágio avançado de conservação não
passavam de 0,8% (66 mil hectares) de remanescentes. O Paraná já chegou a ter 8
milhões de hectares cobertos por Floresta com Araucária. Hoje a situação é
muito mais grave.
Restauração
Preocupada
com a condição da Araucaria
angustifolia, a professora de gestão ambiental da Universidade
Positivo, Leila Maranho, propõe a criação e implantação de projetos de
recuperação das áreas degradadas antes ocupadas pela Floresta com Araucária
permitam a restauração de processos biológicos e genéticos. Ela sugere também
que a restauração de floresta com araucária contribuirá com o resgate da
cultura local, tais como lendas, contos, estórias, culinária, arte, entre
outros. “Um aspecto merecedor de destaque é a forte depauperação das
características culturais associadas ao uso de espécies nativas desse bioma,
principalmente da araucária”, observa.
Para
o diretor executivo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação
Ambiental (SPVS) e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza,
Clóvis Borges, a Floresta com Araucária continua sendo visada para exploração
pela existência de madeira com valor econômico, não só a araucária mais outras
muitas espécies. “E embora ilegal e sem sustentação técnica, há esforços
políticos pressionando o poder público a facilitar a degradação dessas áreas a
partir, inclusive, de licenciamentos ocorridos nos últimos anos e que são
bastante contestáveis em termos de legalidade”, denuncia.
União de esforços
A
professora Leila coloca que empresas, organizações, instituições e poder
público devem unir esforços para aumentar o número de áreas protegidas de
Floresta com Araucária, investir em pesquisa, fiscalizar e aplicar a legislação
em áreas nativas desmatadas, fatores imprescindíveis para evitar que a espécie
desapareça de vez. Borges complementa que, para proteger os remanescentes que
já existem, mesmo que estejam muito fragmentados, devem ser criadas novas
Unidades de Conservação públicas e privadas. Além disso, devem ser
estabelecidas políticas públicas que permitam a valorização de áreas nativas
bem conservadas para o proprietário privado, a partir de diferentes mecanismos
de PSA - Pagamento por Serviços Ambientais.
Resgate e conservação
Para
contornar a situação da araucária existem inúmeros projetos que visam o
reflorestamento e uso sustentável, programas de resgate e conservação da
araucária, projeto de uso e conservação da araucária na agricultura familiar e
criação e implantação de Unidades de Conservação em áreas de Floresta com
Araucária, lista a professora Leila.
Borges
avalia que há muito pouca coisa ocorrendo nos dias de hoje de fato voltada à
conservação da natureza, o que implica não só na busca da conservação da
araucária como de todo o ecossistema a que pertence a Floresta com Araucária.
Um exemplo de ação concreta de proteção de áreas naturais remanescentes desse
ecossistema é o programa Desmatamento Evitado, desenvolvido pela SPVS. Em 12
anos de operação, os resultados apontam para um sucesso de mais de 36% de
Reservas Particulares do Patrimônio Natural, criadas e manejadas, em relação ao
número de proprietários apoiados ao longo do período.
A
Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Mata do Uru é um exemplo.
Mantida pelo Grupo Positivo, por meio do Instituto Positivo em parceria com a
SPVS e família Campanholo, fica região da Lapa (PR), a área de cerca de 128
hectares, ao lado de quase 300 hectares do Parque Estadual do Monge, abriga uma
área preservada de Floresta com Araucária. Lá é realizado o Programa de
Educação Ambiental, que convida os visitantes a conhecer a fundo a Floresta com
Araucária e todas as suas peculiaridades.
Controvérsias
No
entanto, de acordo com Borges, existe um conjunto amplo de atividades que não
estão direcionadas à conservação da biodiversidade envolvendo a espécie Araucaria angustifolia e
que não devem ser interpretados equivocadamente. “Estímulos ao plantio de araucária
para finalidades econômicas é um trabalho paralelo, que pode ser admitido, mas
que é secundário em relação a ações diretas de conservação de áreas naturais”,
acentua.
Também
ocorrem muitas iniciativas relacionadas ao "manejo sustentável" de
araucária, pleiteando a exploração das árvores maiores nos últimos
remanescentes como a "única forma de conservação" existente. “Uma
afirmação mentirosa e demagógica, mas que politicamente é aceita
em setores de órgãos ambientais do governo e na própria academia em
situações isoladas”, reclama Borges.
Por fim, a intensificação de ações e projetos de
conservação e preservação da espécie é condição obrigatória para que a
araucária sobreviva. Caso contrário, num prazo não muito longo, a espécie será
uma imagem bordada na bandeira do Paraná e vista e conhecida apenas em
fotografias e livros didáticos.Fotos
Divulgação
Sobre o Instituto Positivo
Alinhado à estratégia de sustentabilidade e em consonância
com a principal vocação do Grupo Positivo, o Instituto Positivo tem a Educação
como foco prioritário. Ele articula e promove iniciativas que contribuam para o
aumento da qualidade da educação básica do país, direcionando os seus
investimentos para ações sustentáveis e estruturantes. O IP atua por meio de
três frentes: Fortalecimento da Gestão Municipal para a Educação, Produção e
Disseminação de Conhecimento e Mobilização Social Estruturada.
Sobre a Rede de Especialistas de Conservação da
Natureza
A Rede de Especialistas de Conservação da Natureza
é uma reunião de profissionais, de referência nacional e internacional,
que atuam em áreas relacionadas à proteção da biodiversidade e assuntos
correlatos, com o objetivo de estimular a divulgação de posicionamentos em
defesa da conservação da natureza brasileira. A Rede foi constituída em 2014,
por iniciativa da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.
Sobre o Programa Desmatamento Evitado
Anteriormente chamado de Programa de Adoção de Floresta com
Araucária, o Programa Desmatamento Evitado é um exemplo de ação bem sucedida
envolvendo a iniciativa privada para a conservação de áreas naturais ameaçadas.
Iniciado em 2003, o Programa apresenta como principal objetivo a conservação
dos últimos remanescentes em bom estado de conservação da Floresta com
Araucária, estabelecendo um mecanismo de “adoção de áreas”, em que a SPVS
identifica e cadastra proprietários, os aproximando de empresas interessadas em
apoiá-los, bem como a conservação dos remanescentes em suas propriedades. Em
2007, o Programa ganhou escala por meio de novas parcerias firmadas e, desde
então, apresenta um resultado de mais de 4.500 hectares de remanescentes e
cerca de 33 propriedades apoiadas – distribuídas nos três estados do sul do
Brasil – viabilizadas pelo apoio de 17 instituições.
Sobre a SPVS
A Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação
Ambiental (SPVS) é uma instituição brasileira, fundada em 1984, em Curitiba. É
reconhecida como uma das organizações não-governamentais conservacionistas mais
atuantes no Brasil. Uma das características mais acentuadas das atividades
desenvolvidas pela SPVS diz respeito à inovação, como prática para
incorporar valor às ações de conservação de natureza, estabelecer uma
conceituação adequada sobre o tema e dar escala para uma agenda de iniciativas
que hoje começam a ser incorporadas nos negócios e percebidas como essenciais
às atividades econômicas e à qualidade de vida das pessoas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário