Dia de Conscientização sobre Linfomas, datado
em 15 de setembro, reforça que no Brasil pacientes não têm acesso ao arsenal
terapêutico disponível em países desenvolvidos
O Dia Mundial
de Conscientização sobre Linfomas, datado em 15 de novembro, foi criado com o
objetivo de alertar a população mundial para esse tipo de câncer que cresce a
cada ano. Segundo dados de 2016 do Instituto Nacional do Câncer (INCA),
estimam-se cerca
de 10 mil casos novos da doença todos os anos. A doença, que ataca as
células do sistema imunológico, tem altas chances de cura quando diagnosticada
e tratada precocemente.
Carlos Chiattone, médico especialista em tratamento de
linfoma, diretor da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia
Celular (ABHH), alerta sobre a deficiência de arsenal terapêutico atualizado
para proporcionar cura e evitar efeitos colaterais do tratamento aos pacientes
brasileiros.
Segundo o hematologista, algumas drogas já foram
aprovadas há muito tempo em outros países, mas ainda aguardam aprovação da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o que coloca os pacientes
brasileiros em desvantagem. “Além dos medicamentos disponíveis para o
tratamento há outros que se encontram em estágio de estudos muito avançados. E
neste caso os brasileiros também são prejudicados pelas dificuldades
burocráticas para participação nesses estudos”, explica.
Atualmente, além do tratamento convencional utilizando a
quimioterapia, a radioterapia e o transplante de medula óssea, o arsenal
terapêutico inclui drogas “inteligentes” que atingem mais especificamente as
células cancerosas, poupando as células normais, determinando um tratamento
mais efetivo e com menos efeitos colaterais. Estes tratamentos incluem a
imunoterapia particularmente com anticorpos monoclonais e mais recentemente a
utilização de moléculas alvo específicas que agem dentro das células bloqueando
as vias que determinam o crescimento do tumor.
“Embora já idealizada há mais de um século, só mais
recentemente a imunoterapia pode ser desenvolvida e utilizada na prática
clínica. Esta nova modalidade de tratamento passa pelos anticorpos monoclonais
que são anticorpos (proteínas usadas pelo
sistema imunológico para identificar e neutralizar corpos estranhos como
bactérias, vírus ou células tumorais)
produzidos por um único clone, idênticos em relação às suas propriedades
físico-químicas e biológicas, que podem ser usados isoladamente ou
acoplados com toxinas ou radioisótopos.
Outras modalidades de imunoterapia que estão sendo
desenvolvidas rapidamente são as vacinas, e o avanço mais esperado é a
possibilidade de se modificar geneticamente as células de defesa do próprio
paciente tornando-as altamente ativas contra as células tumorais. Chiattone,
que é Professor
Titular da Santa Casa de São Paulo, reforça que estes novos tratamentos
geralmente determinam menos eventos adversos que os tratamentos convencionais
e, mais importante, conseguem obter respostas positivas no momento no qual a
doença já era considerada completamente refratária.
Dados sobre a doença:
A cada ano são diagnosticados 10 mil casos no Brasil,
segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca). É difícil identificar a
causa deste aumento, uma das possibilidades reconhecidas pelos especialistas é
o envelhecimento da população. Não há diferença entre o sexo que a doença
acomete. Sua incidência está relacionada, sobretudo, à faixa etária, acometendo
pacientes acima dos 60 anos.
O linfoma pode começar em qualquer local em
que existam as células linfáticas. Ainda assim, se manifesta
preferencialmente nos gânglios linfáticos, em nódulos no pescoço, axilas e
região da virilha. Vale ressaltar que na maioria das vezes os nódulos são
ocasionados por infecções, nem sempre sendo linfoma.
Manifestações dos linfomas se assemelham a
outras doenças comuns. Em torno de 30% dos pacientes com quadro
de linfomas apresentam sintomas acompanhados de febre, perda de peso sem motivo
aparente, suor noturno intenso e coceira persistente, sem indício de quadro
alérgico. “O que é intrigante nos linfomas, é que as manifestações se
assemelham a outras doenças comuns”, relata Chiattone. Quando detectado em
estágio precoce, o linfoma pode ser erradicado com tratamento adequado.
Atualmente, a terapia que mais aumenta a chance de cura e qualidade na
sobrevida é a quimioterapia associada ao uso de anticorpos monoclonais, este
último ainda não disponível da rede SUS para todos os tipos existentes de
linfoma.
Não há na oncologia uma área tão avançada em
termos de tratamento como a dos linfomas. O médico relata que na
maioria das vezes, é aplicada a quimioterapia, imunoterapia e, em alguns casos,
radioterapia. “Quando a doença é mais grave ou a pessoa teve recaída, daí
entramos com o transplante de medula óssea, como terapia de salvamento”, indica
o médico.
Tipos:
Linfoma
de Hodgkin: ocorre em 10% a 20% dos doentes, normalmente crianças,
sendo mais comum no sexo masculino (numa proporção de aproximadamente três para
dois). O índice de cura da doença é de, em média, 75%, em pacientes com o
tratamento inicial. Pode surgir em qualquer parte do corpo e o sintoma inicial
mais comum é um aumento indolor dos linfonodos
(ou ínguas).
Linfomas
não-Hodgkin: correspondem a cerca de 60% do problema na infância
(entre cinco e 15 anos), com maior incidência entre os rapazes. São curados em
menos de 25% dos casos. Pode apresentar manifestações no estômago, pele,
cavidade oral, intestino delgado e sistema nervoso central (SNC).
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