Além de bulas de medicamentos,
alertas sobre esse tipo de interação já começam a constar das embalagens de
alimentos industrializados no Brasil.
A
interação medicamentosa é geralmente conhecida como um evento clínico no qual
um fármaco é afetado por outro fármaco. Mas essa interação não se resume a
medicamentos: ela pode ocorrer entre fármaco e fitoterápico, bebida alcoólica,
agente químico e também entre medicamento e alimento. A farmacêutica Juliana
Chan, orientada pela pesquisadora do FoRC, Neuza Hassimotto, mostra em seu
trabalho de conclusão do curso de Farmácia-Bioquímica da Faculdade de Ciências
Farmacêuticas da USP,que, apesar de serem mais difíceis de identificar
clinicamente, as interações entre medicamento e alimento podem ocorrer. Em
algumas situações, issoacontecede maneira favorável, em outras, pode prejudicar
o tratamento.
Chan
cita alguns exemplos desse tipo de interação. Íons de cálcio, magnésio e ferro
presentes no leite podem formar quelatos não absorvíveis com as tetraciclinas,
que são antibióticos. Traduzindo, essa interação pode causar a excreção nas
fezes de minerais e do próprio fármaco, reduzindo a sua biodisponibilidade, ou
seja, a quantidade de fármaco e dos minerais disponível para ser absorvido pelo
corpo.
Já
um exemplo de associação positiva de interação é a administração do
diclofenaco, um anti-inflamatório não-esteroidal, junto com a ingestão de
alimentos. Esse medicamento inibe a produção do muco protetor gástrico, o que
aumenta as chances de possíveis lesões. A ingestão de alimentos serve para
justamente proteger a mucosa do estômago.
Em
seu trabalho, Chan estudou de forma mais aprofundada a interação do medicamento
com o grapefruit (toranja)e a interação do medicamento com a soja,
buscando na literatura científica pesquisas que já registram algumas
interações. Estudos mais atualizados indicam que 44 fármacos possuem potencial
para interação significativa com produtos contendo a toranja. Algumas
estatinas, que controlam o colesterol, entre elas a lovastatina, e a
carbamazepina, podemapresentar aumento de sua biodisponibilidade quando
ingerida com o grapefruit, levando o paciente a apresentar efeitos
adversos, muitas vezes bastante intensos. Outro exemplo, a varfarina, um
anticoagulante, apresentou efeito adverso após ingestão de extrato da semente
de grapefruit.
Artigos
científicos também relatam interação, em animais e humanos, de componentes da
soja com fármacos como a levotiroxina, o ferro, varfarina e rosuvastatina. A
levotiroxina é usada para tratamento do hipotireoidismo. Produtos a base de
soja diminuem a absorção desse fármaco. No caso do ferro, o efeito observado
foi o mesmo. A varfarina, um anticoagulante oral, e a rosuvastatina, medicamento que reduz o colesterol e o
triglicerídeo presentes no sangue, apresentaram diminuição da eficácia do
fármaco na sua interação com proteína de soja.
Chan
mostra, ainda, que soluções e suspensões interagem menos do que outras formas
de administração, pois se movem mais facilmente no estômago e também do
estômago para o intestino. Cápsulas e comprimidos, por sua vez, precisam ser
dissolvidos, uma etapa a mais que pode ser afetada por alimentos.
Além
da forma de administração, a interação é afetada por três outros fatores: o
tipo de nutriente ingerido; a quantidade de líquido utilizada na administração
do fármaco; o intervalo de tempo entre a ingestão das substâncias. Ainda,
pessoas com idade mais avançada apresentam riscos maiores em relação às
interações, já que há alterações fisiológicas com o envelhecimento e é comum o
uso de diversos medicamentos de uso contínuo nessa fase da vida para tratamento
de doenças crônicas.
Como orientação geral,a
sugestão é que as pessoas leiam as bulas dos medicamentos que podem conter esse
tipo de informação, e que consultemo médico sobre possíveis interações entre o
medicamento receitado e os alimentos.Alertas sobre esse tipo de interação já
começam a constar também das embalagens de alimentos industrializados no
Brasil.
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