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segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Bebês amamentados com leite materno podem ter telômeros mais longos, o que significa uma longevidade maior



Crianças que foram amamentadas exclusivamente no seio por 4-6 semanas tinham telômeros que eram cerca de 5% maiores do que as crianças que não foram amamentadas exclusivamente


Bebês amamentados com leite materno têm sistemas imunológicos mais saudáveis, maior pontuação em testes de Q.I e são menos propensos à obesidade do que  bebês que não são alimentados com leite materno. Agora, uma nova pesquisa revela outra possível diferença dos bebês amamentados com leite materno: eles podem ter telômeros mais longos.

“Os telômeros são trechos de DNA que revestem as extremidades dos cromossomos e protegem os genes de danos. Eles são muitas vezes comparados às pontas de plástico no final dos cadarços dos sapatos que impedem os laços de se desfazerem. Os telômeros encurtam com a idade, e, em geral, telômeros mais curtos, na idade adulta, estão associados com doenças crônicas como diabetes. Alguns estudos têm relacionado telômeros mais longos com a longevidade. O novo estudo, publicado no The American Journal of Clinical Nutrition, é esperançoso, pois seus autores sugerem que o comprimento dos telômeros, no início da vida, pode ser maleável”, afirma o pediatra Moises Chencinski, presidente do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo

Para chegar a essas conclusões, os pesquisadores acompanharam um grupo de crianças desde o nascimento, mediram os telômeros de crianças de 4-5 anos e descobriram que as que consumiram somente leite materno, durante as primeiras quatro, seis semanas de vida tinham telômeros significativamente mais longos do que aquelas que receberam fórmulas, sucos, chás ou água com açúcar. Beber suco de frutas, todos os dias, durante os dois primeiros anos, e muito refrigerante, aos 4 anos, também foi associado a telômeros curtos.

As diferenças socioeconômicas entre as mães podem modificar as descobertas sobre a amamentação porque a prática é mais comum entre as mais instruídas. No entanto, este grupo de crianças da pesquisa foi bastante homogêneo. Todas nasceram em San Francisco e eram filhos de mães latinas de baixa renda. A maioria das quais se qualificou para um programa alimentar do governo.

“O novo estudo adiciona evidências às pesquisas que indicam que quando nós – sociedade – tornamos a amamentação mais fácil para as mães, tornamos mães e bebês mais saudáveis. Quanto mais aprendemos sobre o aleitamento materno, mais impressionante se mostram seus benefícios para a saúde”, destaca o pediatra.

O estudo não estabeleceu se a amamentação reforçada aumenta o comprimento dos telômeros. Pode ser que os bebês que nasçam com telômeros mais longos sejam mais propensos a ter sucesso na amamentação. Uma grande desvantagem da pesquisa foi que o comprimento dos telômeros só foi medido uma vez, quando as crianças tinham 4 ou 5 anos de idade. Não havia dados sobre o comprimento dos telômeros no nascimento ou durante os primeiros meses de vida.

Não há uma linha de base para saber se essas crianças eram diferentes quando elas nasceram. Pode ser que realmente bebês saudáveis se alimentem melhor e que já tenham telômeros mais longos. De qualquer forma, a amamentação bem sucedida é sinal de uma criança mais robusta.

Entenda o estudo

Os pesquisadores acompanharam crianças que faziam parte do Hispanic Eating and Nutrition Study, um grupo de 201 bebês nascidos, em San Francisco, de mães latinas recrutadas em, 2006 e 2007, enquanto ainda estavam grávidas. O objetivo da pesquisa era ver como as experiências iniciais de vida, tais como hábitos alimentares e de crescimento influenciariam o desenvolvimento de doenças cardíacas e metabólicas quando as crianças crescessem.

Os investigadores mediram o peso e a altura dos bebês quando nasceram. Na quarta e na sexta semana de vida, eles reuniram informações detalhadas sobre práticas de alimentação, incluindo se o bebê se alimentava de leite materno e por quanto tempo, e se outros substitutos do leite foram usados, como fórmulas, bebidas adoçadas com açúcar, sucos, leites aromatizados e água. As mesmas informações foram recolhidas sobre as mães.

As crianças foram consideradas como exclusivamente amamentadas com leite materno com 4-6 semanas de idade, se tivessem recebido apenas leite materno, remédio ou vitaminas. Quando as crianças tinham entre 4-5 anos de idade, os pesquisadores recolheram amostras de sangue que poderiam ser usadas ​​para medir os telômeros de 121 crianças. Eles descobriram que as crianças que foram amamentadas exclusivamente no seio por 4-6 semanas tinham telômeros que eram cerca de 5% maiores do que as crianças que não foram amamentadas exclusivamente.

Segundo Chencinski, as novas descobertas podem ajudar a explicar os benefícios que se obtêm a partir de amamentar. “O que é notável sobre a amamentação é a sua capacidade de melhorar a saúde através de sistemas e órgãos. A biologia dos telômeros é tão central para os processos de envelhecimento, para a saúde humana e para as doenças, e pode ser o elo dos impactos da amamentação para a saúde humana em muitos níveis”, diz o médico.

Há várias explicações possíveis para a relação entre a amamentação e os telômeros mais longos. O leite materno contém compostos anti-inflamatórios, que podem conferir um efeito protetor sobre os telômeros. Também é possível que os pais que amamentem exclusivamente seus bebês sejam mais rigorosos também acerca de uma dieta saudável.

Outra possibilidade é que a amamentação seja um fator de qualidade do apego mãe-filho, que não estava envolvido nos determinantes da investigação. Quando as crianças estão expostas à adversidade, à negligência ou à violência em uma idade precoce, o estresse psicológico cria um ambiente bioquímico de hormônios elevados de radicais livres, inflamação e estresse que pode ser prejudicial aos telômeros.

“A ideia de que a amamentação pode ser protetora para os telômeros é animadora. E embora os genes não possam ser mudados porque fazem parte do nosso genoma, ao que parece, pelo menos parcialmente esse processo está sob o nosso controle pessoal”, afirma o médico.



Moises Chencinski


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