Até grifes famosas
já adotaram o Upcycling e sócias da Jahe
Marketing dão dicas para inspirar
pequenos e médios negócios
É praticamente impossível acompanhar o noticiário
sem observar notícias sobre sustentabilidade, mudanças climáticas e os rumos do
consumo. Como os negócios podem continuar oferecendo produtos que agradam os
consumidores e respeitam o meio ambiente?
Para marcas de alguns setores, uma das saídas mais
interessantes para continuar lançando produtos com apelo sustentável – e
driblar desafios como a crise de matérias-primas que surgiu a partir do começo
da pandemia de covid-19 – é o upcycling, termo em inglês que mescla
upgrade com reciclagem.
“A palavra tem uma definição mais ou menos
elástica, mas, a grosso modo, define o reaproveitamento de materiais e produtos
que seriam descartados, principalmente para a criação de itens de maior valor
agregado. Saem processos industriais como a criação de papel reciclado ou a
produção de garrafas plásticas, e entram o trabalho criativo e um toque de artesão.
Na maior parte das vezes, a ideia é manter algo da aparência ou finalidade
original”, comenta Thaís Faccin, sócia fundadora da Jahe Marketing.
Abstrato demais? Pense no reaproveitamento de um
utensílio doméstico para criar móveis, bicicletas se transformando em mobília,
ou roupas se transformando em outros itens de vestuários.
“É justamente na moda que o upcycling vem ganhando
espaço”, prossegue Faccin. “Em novembro de 2020, quando o site de compra e
venda de produtos de segunda mão Enjoei passou a vender ações na Bolsa, a
tendência ganhou contornos concretos.” O valor de mercado do site à época
chegou aos R$ 2 bilhões.
Já no começo de 2021, quase 7 mil lojas que
comercializam itens de segunda mão foram abertas no Brasil, de acordo com o Sebrae.
E fora do país, o mercado de itens usados deve crescer 20% nos próximos anos,
com estimativa de chegar a movimentar até US$ 40 bilhões, de
acordo com o Boston Consulting Group.
O fato é que o upcycling está em toda parte, e nem é
tão novo. Basta pensar nas roupas e acessórios feitos com sobras de tecido em
quadradinhos, como o tradicional patchwork. “A diferença é que agora grandes
marcas e grifes internacionais adotaram a prática – e com isso, influenciam
comportamento e consumo”, diz Satye Inatomi, também sócia e fundadora da Jahe
Marketing.
A tendência é tema recente da revista Vogue,
já foi adotada pela grife Valentino, e também tem ajudado famílias a poupar
dinheiro em meio ao aumento do custo de vida em todo o mundo.
Veja alguns destaques sobre o
upcycling para inspirar você e sua marca, de acordo com a Jahe Marketing
“Nem sempre praticar preços mais baixos é a pegada
das marcas que adotam o upcycling”, alerta Inatomi. No caso de
uma grife como a Valentino, a questão do preço é menos relevante, mas não o
desperdício. A marca está apoiando um novo projeto de upcycling
com uma varejista francesa, a Tissu Market, que promove a reutilização criativa
e sustentável dos tecidos parados no estoque da grife.
A Tissu Market vende tecido por metro. Assim,
materiais como chiffon, tafetá, cetim, entre outros, que estavam parados no
estoque da Valentino, voltaram a ser trabalhados por costureiros e
estilistas.
“Outro caso interessante é a estratégia da Bolt,
uma plataforma de patinetes elétricos. Patinetes que seriam descartados estão
sendo reaproveitados por um designer de joias, chamado Tanel Veenre. Como o
alumínio dos veículos é de alta qualidade, o material se transforma em brincos,
pulseiras e pingentes com apelo de força e resistência, qualidade positivas
para quase qualquer marca”, explica Inatomi.
Um dos apelos positivos da tendência, de acordo com
as sócias, é o fato de que, ao dispensar a necessidade de reprocessamento dos
materiais, economiza-se energia, o que impacta positivamente o meio ambiente.
Não é para menos: de acordo com a ONU, a indústria da moda é responsável por
10% de todas as emissões de gases do efeito estufa.
“Mas, claro, sempre que pensamos em atitudes
sustentáveis e marcas, é sempre bom lembrarmos do greenwashing.
É necessário que as mudanças sejam reais, e que caminhem para além do discurso.
O discurso, e o marketing, quando não são traduzidos em práticas efetivas,
podem causar danos na reputação da companhia. E a sua reputação, assim como os
produtos que as marcas desejam vender, deve durar tanto quanto uma boa peça
reaproveitada”, concluem as especialistas em marketing.