Especialista em inteligência emocional, Heloísa
Capelas dá algumas dicas de como as mulheres podem caminhar para uma liderança
positiva
Se
homens e mulheres são diferentes, por que é que tanto se fala da luta por
igualdade? Sempre que proponho essa reflexão, vejo muita gente se perder em
meio a preconceitos sem chegar a nenhuma conclusão. E, veja, é algo
relativamente simples: nós, mulheres, somos, sim, inegavelmente diferentes dos
homens. Não só nas características físicas, mas, também, na maneira como
raciocinamos ou lidamos com as emoções. A mulher é
cuidadora, amorosa, organizadora, multitarefa, gosta e sabe como colocar ordem;
o homem é direto, assertivo, forte e tende a focar numa única tarefa por vez.
Grande
parte dessa diferença se deve a aspectos genéticos, portanto, é inegável e
imutável. Outra parte, claro, é comportamental, e, portanto, pode e merece ser
revista quando causa algum tipo de dano. Mas, ainda assim, o primeiro passo
importante nessa eterna guerra dos sexos – que, aliás, já deveria ter sido
extinta há muito tempo –, é compreender: as diferenças entre os gêneros
existem, mas não tornam um melhor que o outro. Por exemplo: o fato de que os
homens podem ser mais fortes fisicamente não faz, deles, melhores e nem piores.
Assim como o fato de que mulheres podem engravidar não faz, delas, melhores e
nem piores.
O
que quero dizer é que, em suma, a luta pelos direitos iguais não pressupõe ou
não deveria partir do princípio de que somos todos iguais no que diz respeito
às nossas características pessoais, mas, sim, que deveríamos ser todos iguais
perante às leis, às empresas e às sociedades. Portanto, a ideia é (ou deveria ser
a de) que todos tenham igual respeito às suas características mais diversas;
que mulheres possam ser igualmente respeitadas e tratadas por serem mulheres,
independentemente do "tipo" de mulheres que são.
Esta
compreensão, por si só, já é uma quebra de um paradigma. A luta a ser entravada
não é contra os homens e nem uma tentativa de inverter os papéis para
subjugá-los. A nós, mulheres, cabe a missão de reverter o quadro, mas não para
tomar o poder, não para "dar o troco"; e, sim, para implementar, de
uma vez por todas, a engrenagem que há de melhor funcionar: aquela em que
mulheres e homens trabalham lado a lado, empregam suas competências únicas no
mesmo sentido, de maneira complementar, e não mais competem um com outro –
afinal, reconhecem-se como partes iguais de um mesmo time.
O
Autoconhecimento para a quebra de paradigmas na liderança feminina
Este
foi só o começo da jornada para todas aquelas que desejam exercer a liderança
feminina, mas são tantos os paradigmas a serem quebrados que somente um exercício
profundo e constante de Autoconhecimento e Autoconsciência será capaz de
levá-las ao lugar que desejam alcançar.
Então,
em primeiro lugar, guarde isso com você: seja qual for a mulher que você é
hoje, a mulher que foi ontem ou a mulher que um dia será, nenhuma delas é pior
ou melhor que os homens ou mesmo que as demais mulheres que estão ao seu redor.
Todas as pessoas do mundo merecem ser tratadas com igual respeito, isto é fato.
Mas nenhuma pessoa no mundo é igual a você, portanto, a única comparação justa
e possível é de você... com você mesma!
Neste
ponto, talvez, você esteja "me dizendo" mentalmente que nunca se
comparou aos homens ou ao poder masculino. E, infelizmente, eu me arrisco a
discordar. As chances são de que, mesmo sem perceber, inconscientemente, a
única referência que você teve de liderança foi justamente baseada neste poder
– afinal, eles que estão no "comando" há muito tempo! Ou seja, mesmo
que você tenha se inspirado na força da sua mãe, e que sua mãe tenha sido uma
verdadeira guerreira a exemplo de sua avó, as chances são de que todas se
referenciaram no masculino, porque, historicamente e já há bastante tempo, esse
é o único modelo que conhecemos.
Tenhamos
ou não vivido numa família ou época em que a submissão feminina era natural, nossas
mães, pais, avôs ou, talvez, bisavós certamente a viveram. Como resultado,
muitas mulheres contemporâneas perseguem o sucesso, a felicidade e o bem-estar
inspiradas por esses modelos do passado que lhes foram ensinados ainda na
infância – e, repito, todos eles referenciados na forma masculina de liderar.
Assim
sendo, a liderança feminina sustentável e positiva começa aqui, na
desconstrução desta referência. Nós não estamos em guerra, portanto, não
precisamos da força e nem comportamentos belicosos para assumir nosso lugar.Nós
não precisamos submeter a ninguém, porque já sabemos, por experiência própria,
como é ruim sermos inferiorizados quando temos tanto a contribuir.
Nós
também não queremos impor nossa vontade pela força física e nem pelo medo; queremos
construir outro tipo de autoridade, de comando e de liderança. A pergunta,
portanto, é: sem o paradigma da liderança masculina, qual é a líder que você,
mulher, quer ser?
A
liderança feminina é aquela que você quiser construir
Dediquei
este artigo todo apenas a esta reflexão, porque, sem ela, seria impossível
construir o caminho para uma liderança feminina mais positiva. O meu convite
hoje é que você reflita, honestamente, sobre o que aprendeu ainda criança sobre
a liderança. Quem é que estava no poder? Como é que essa pessoa fazia para se
manter neste posto (quais eram seus comportamentos e atitudes)? E, hoje, o que
é que você faz sobre a liderança – age desta mesma forma ou procura se
comportar de maneira inversa?
Quando encontrar essas respostas, você terá percorrido o
primeiro pedaço da sua trajetória, em que terá identificado e abraçado a sua
própria noção de liderança. Daí, então, poderá seguir para a segunda etapa:
criar e fortalecer o que quer que entenda como poder e liderança feminina.
Uma vez que tiver se libertado do paradigma masculino a
partir do Autoconhecimento, você poderá decidir qual é a líder que deseja ser.
E a liderança feminina será aquela que você construir, como quiser e da forma
como acreditar ser a melhor.
Centro Hoffman